Questões de Concurso Público CEFET-MG 2022 para Técnico Laboratório - Área Biologia

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Q1912447 Português
Lembro a pergunta que fez:
“Poderia levá-la imediatamente para mim?”
“Posso”, respondo, batendo recordes de concisão, encorajada pela concisão dele e pela ausência de um “por favor” que a forma interrogativa e o uso do futuro do pretérito não deveriam, a meu ver, desculpar totalmente.
“É muito frágil”, acrescenta, “tome cuidado, por favor”.
A conjugação do imperativo e o “por favor” também não me agradam, tanto mais que ele me acha incapaz de tais sutilezas sintáticas e só as emprega por gosto, sem a cortesia de imaginar que eu poderia me sentir insultada. É tocar o fundo do pântano social ouvir, pelo tom de sua voz, que um rico só se dirige a si mesmo e que, embora as palavras que pronuncia sejam tecnicamente dirigidas a você, ele nem sequer imagina que você seja capaz de compreendê-las.
BARBERY, Muriel. A elegância do ouriço. São Paulo: Companhia das Letras, 2008 (fragmento).

A linguagem utilizada na interpelação à personagem provocou insatisfação por
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Q1912448 Português
 A questão refere-se ao texto abaixo.

Hoje talvez não seja tão intenso, pois, se o celular pegar, distraímo- -nos com ele. Mas antes, ao esperar o elevador, nada havia a fazer senão ler e reler aquele aviso, em letras brancas sobre fundo preto, ou vice-versa, coberto por uma moldura de acrílico – “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Assombrado, ameaçador, algo ininteligível pesava sobre a duração daquela espera, acompanhando até o “térreo” (outra palavra estranha) quem afinal se aventurar a entrar.

O Mesmo. Aqui, neste andar. Sim, antes de entrar. Verifique. A imprecisão em relação ao sujeito da frase (o elevador ou o “mesmo”?); o fato de que coisas demais são ditas sobre um maquinismo (“verifique se está parado” é quase temer que fuja de repente); a linguagem burocrática, sem molejo, mas em situação privada, onde estávamos quase sempre sozinhos, ou seja: dirigida, como em alguns textos de Kafka, diretamente a você; a lembrança mórbida de acidentes horrorosos (de gente que caiu em poços de elevador, como Anecy Rocha) – tudo isso dava um tom zicado à espera. Reproduzida por força da lei estadual de 11 de março de 1997, presente portanto em todos os andares de inúmeros prédios do estado de São Paulo, a própria repetição infindável alavancava o mistério e “mesmidade” da frase, gerando aos poucos um longo histórico de debates e comentários na internet, e até uma comunidade virtual – “Eu tenho medo do Mesmo” (com maiúscula).

Pessoalmente, tenho mesmo muito medo dele. Não sei onde começa nem onde termina, e detesto, particularmente, sua potência de disfarce, infiltrando-se em tudo como um penetra de festas profissional, sem nunca dizer o nome. [...]. Confunde-se, nesse sentido, com o tema, provavelmente complementar, da espera – o tenente Giovanni Drogo, em O deserto dos tártaros, de Dino Buzzati [...]. Ou, ainda, Bill Murray, no Feitiço do tempo (Groundhog day, 1993), em que a personagem fica presa num dia infindável, repetido a cada manhã, e do qual não consegue escapar nem sequer através do suicídio (suicida-se, de fato, dezenas de vezes) – até apaixonar-se (e ser correspondido) por sua colega de trabalho (Andie MacDowell).

RAMOS, Nuno. Verifique se o mesmo. São Paulo: Todavia, 2019 (adaptado).
O desvio gramatical discutido por Nuno Ramos em seu texto se refere ao(à)
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Q1912449 Português
 A questão refere-se ao texto abaixo.

Hoje talvez não seja tão intenso, pois, se o celular pegar, distraímo- -nos com ele. Mas antes, ao esperar o elevador, nada havia a fazer senão ler e reler aquele aviso, em letras brancas sobre fundo preto, ou vice-versa, coberto por uma moldura de acrílico – “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Assombrado, ameaçador, algo ininteligível pesava sobre a duração daquela espera, acompanhando até o “térreo” (outra palavra estranha) quem afinal se aventurar a entrar.

O Mesmo. Aqui, neste andar. Sim, antes de entrar. Verifique. A imprecisão em relação ao sujeito da frase (o elevador ou o “mesmo”?); o fato de que coisas demais são ditas sobre um maquinismo (“verifique se está parado” é quase temer que fuja de repente); a linguagem burocrática, sem molejo, mas em situação privada, onde estávamos quase sempre sozinhos, ou seja: dirigida, como em alguns textos de Kafka, diretamente a você; a lembrança mórbida de acidentes horrorosos (de gente que caiu em poços de elevador, como Anecy Rocha) – tudo isso dava um tom zicado à espera. Reproduzida por força da lei estadual de 11 de março de 1997, presente portanto em todos os andares de inúmeros prédios do estado de São Paulo, a própria repetição infindável alavancava o mistério e “mesmidade” da frase, gerando aos poucos um longo histórico de debates e comentários na internet, e até uma comunidade virtual – “Eu tenho medo do Mesmo” (com maiúscula).

Pessoalmente, tenho mesmo muito medo dele. Não sei onde começa nem onde termina, e detesto, particularmente, sua potência de disfarce, infiltrando-se em tudo como um penetra de festas profissional, sem nunca dizer o nome. [...]. Confunde-se, nesse sentido, com o tema, provavelmente complementar, da espera – o tenente Giovanni Drogo, em O deserto dos tártaros, de Dino Buzzati [...]. Ou, ainda, Bill Murray, no Feitiço do tempo (Groundhog day, 1993), em que a personagem fica presa num dia infindável, repetido a cada manhã, e do qual não consegue escapar nem sequer através do suicídio (suicida-se, de fato, dezenas de vezes) – até apaixonar-se (e ser correspondido) por sua colega de trabalho (Andie MacDowell).

RAMOS, Nuno. Verifique se o mesmo. São Paulo: Todavia, 2019 (adaptado).
No primeiro parágrafo, o uso do recurso gráfico dos parênteses em “(outra palavra estranha)” foi usado com a mesma finalidade em
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Q1912450 Português
A questão refere-se ao texto abaixo. 

Era sobre a luz, a luz que adentrava as vidraças e sobre o seu corpo, sobre o jornal e os sapatos gastos que encontravam as ruas todos os dias, porque tudo falava de alguma maneira sobre um desajuste seu ao mundo quase intransponível. Seus olhos e sua cabeça deveriam estar repousados na página de ofertas de emprego, mas eram o café e a firmeza da cadeira, e o chão limpo e a elegância de sua posição que o deixavam confortável na fração que pode ser ao mesmo tempo instante e eternidade.

E naquelas páginas estava a vida além da casa, do bairro, além da cidade. Naquelas páginas se abriam inúmeras janelas para o mundo, eu bem sei, e sobre elas se lia com curiosidade sobre o que não podíamos viver por estarmos cercados, e muitas vezes os sapatos que calçamos são os códigos que nos marcam aos lugares onde podemos ou não estar. Nos confinaram em baias, como animais domésticos, mesmo que não falássemos sobre isso, e não falássemos também que não poderíamos estar onde exatamente desejávamos. Mas naquele instante era um homem e lia, e se sentia parte do entorno por compreender o que poderia ser uma guerra e suas conquistas, o que poderia ser a morte e a política.


JUNIOR, Itamar Vieira. Você bem sabe. Instituto Moreira Sales, 02 de março de 2022. Disponível em: <https://ims.com.br/por-dentro-acervos/voce-bem-sabe-por-itamar-vieira-junior/>. Acesso em: 23 mar. 2022 (fragmento). 
No texto de Itamar Vieira Junior, a atitude do personagem que reflete seu sentimento de pertencer à outra classe social é a de
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Q1912451 Português
A questão refere-se ao texto abaixo. 

Era sobre a luz, a luz que adentrava as vidraças e sobre o seu corpo, sobre o jornal e os sapatos gastos que encontravam as ruas todos os dias, porque tudo falava de alguma maneira sobre um desajuste seu ao mundo quase intransponível. Seus olhos e sua cabeça deveriam estar repousados na página de ofertas de emprego, mas eram o café e a firmeza da cadeira, e o chão limpo e a elegância de sua posição que o deixavam confortável na fração que pode ser ao mesmo tempo instante e eternidade.

E naquelas páginas estava a vida além da casa, do bairro, além da cidade. Naquelas páginas se abriam inúmeras janelas para o mundo, eu bem sei, e sobre elas se lia com curiosidade sobre o que não podíamos viver por estarmos cercados, e muitas vezes os sapatos que calçamos são os códigos que nos marcam aos lugares onde podemos ou não estar. Nos confinaram em baias, como animais domésticos, mesmo que não falássemos sobre isso, e não falássemos também que não poderíamos estar onde exatamente desejávamos. Mas naquele instante era um homem e lia, e se sentia parte do entorno por compreender o que poderia ser uma guerra e suas conquistas, o que poderia ser a morte e a política.


JUNIOR, Itamar Vieira. Você bem sabe. Instituto Moreira Sales, 02 de março de 2022. Disponível em: <https://ims.com.br/por-dentro-acervos/voce-bem-sabe-por-itamar-vieira-junior/>. Acesso em: 23 mar. 2022 (fragmento). 
O autor se identifica com o personagem no trecho:
Alternativas
Respostas
1: E
2: E
3: A
4: D
5: D