Tendências: o que vai acontecer com o concurseiro após o coronavírus no Brasil?

A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) mudou os rumos de 2020 em todo o mundo. As previsões econômicas e sociais feitas por especialistas em dezembro de 2019 para os próximos 12 meses dificilmente serão concretizadas, especialmente com o isolamento social, medida adotada em pelo menos 16 países para conter o avanço do vírus.

No Brasil, o primeiro caso foi registrado em 26 de fevereiro. Com o objetivo de evitar o cenário de outros países, autoridades de diversos estados logo adotaram medidas para impedir a disseminação do vírus. Em cerca de duas semanas, lojas, escolas e universidades já haviam sido fechadas, praias foram proibidas e ruas, antes movimentadas, ficaram vazias.

Como crises sempre levam a mudança de comportamentos, o Qconcursos analisou o impacto da quarentena devido ao coronavírus nas pessoas que se preparam para concursos públicos.

No primeiro momento, qualquer mudança brusca causa impacto no cotidiano das pessoas e cria incertezas sobre o futuro. As medidas restritivas afetaram os concursos públicos, especialmente aqueles agendados para março e abril. O cenário, inevitavelmente, provocou desânimo em quem está se preparando para seleções que foram suspensas e adiadas.

Nova rotina

Um dos primeiros reflexos do isolamento social foi a mudança na rotina. Em março, o Qconcursos registrou um aumento do número de usuários dentro da plataforma e um recorde de resolução de questões em um único mês desde o lançamento do site, há 12 anos.

Apesar de o padrão de comportamento ter sido o mesmo nas primeiras duas quinzenas de março, o quadro observado nos últimos 15 dias do mês apontou para um maior interesse em estudar para concursos públicos. Isso se deve não só ao maior tempo dentro de casa, mas também à movimentação do mercado.

Com a quarentena, os concurseiros, especialmente aqueles que dividem seus estudos com trabalho, tiveram a oportunidade de trocar a madrugada de preparação por horários em que, normalmente, estariam em trânsito.

Na segunda quinzena de março, quando já havia o decreto de isolamento social em estados como Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo, houve um aumento de mais de 3% de questões resolvidas entre 16h e 23h. Enquanto isso, o estudo durante o período de 00h a 15h sofreu uma leve redução.

A resolução de questões sofreu uma redução entre os dias 14 e 20 de março, início do isolamento social. Porém, os dias seguintes ao período demonstraram outra direção.

Como as pessoas estão mais tempo em casa, as distrações foram substituídas por estudos, especialmente nos últimos fins de semana do mês, que registraram aumento em relação aos primeiros.

No gráfico acima, é possível observar que a terceira semana de março foi de reorganização.

Vale destacar que o dia em que o site registrou o maior volume de estudos às 16h, horário de pico, foi 30 de março, cerca de 15 dias após a oficialização da quarentena, podendo ser equiparado com o primeiro dia útil do mês, 2 de março.

Assim como toda a população, os concurseiros precisaram se reorganizar para não afetar a preparação de forma negativa. Com o passar dos dias e a reestruturação da rotina, o foco nos estudos foi recuperado.  

Celular x computador

O telefone celular é uma alternativa para quem não quer perder tempo enquanto está no transporte público ou aguardando o atendimento em algum serviço na rua, por exemplo. Com mais tempo em casa, o uso do dispositivo móvel para este fim tende a diminuir.

Como já visto nos gráficos anteriores, mais pessoas estão estudando no fim da tarde e início da noite, quando normalmente não estariam em casa. Dessa forma, a tendência é de que haja um aumento do estudo por meio de computador, padrão que foi observado desde o início da quarentena.

A variação é pequena em todo o mês. Por outro lado, os últimos dias de março mostram uma evolução no uso do computador, como demonstrado no gráfico acima.

Quarentena no Brasil

Já a mudança de comportamento relacionada aos estados é refletida nas consequências da restrição de circulação nas cidades. O Distrito Federal, primeira unidade da federação a adotar as ações de combate ao coronavírus, concentrava o maior volume de buscas na primeira quinzena de março, mas a situação mudou quando os decretos que impedem aglomerações causaram o adiamento de seleções, como PCDF e PGDF.

Em contrapartida, nesse meio-tempo, o edital do concurso da Assembleia Legislativa do Ceará foi lançado, o que levou a uma maratona de questões por concurseiros da região. As provas do certame acontecem em julho.

Diante de ameaças, as pessoas começam a buscar informações para solucionar as dúvidas sobre o futuro. Com concursos públicos não é diferente. Soma-se aos estudos a busca por atualizações do andamento das seleções, especialmente aquelas que foram adiadas e canceladas por conta do novo coronavírus, como os certames do TJRJ e TCM SP.

E agora?

O diretor acadêmico do Qconcursos, Fernando Bentes, é otimista quanto à situação pós-coronavírus. Para o professor, apesar dos receios, o mercado deve aquecer, já que o incentivo do Estado na economia em tempos de crise tende a criar mais obras públicas e abrir novas seleções.

“É bem possível que haja concursos públicos para que as pessoas tenham acesso a renda, possam gastar e movimentar a economia. Até mesmo com contratações temporárias por algumas empresas públicas”, disse o diretor.

Parte da previsão de Fernando Bentes já começou a se concretizar. Diversas chamadas públicas da área da saúde foram abertas em todo o país no mês de março, com o objetivo de reforçar o quadro de médicos e enfermeiros devido ao surto do novo coronavírus. Ao todo, são mais de 8 mil oportunidades. Um dos destaques é o processo seletivo da EBSERH. A empresa lançou um edital com 6.717 vagas para reforçar o quadro de pessoal durante este período.

O economista Pedro Lemos segue a linha de Bentes, afirmando que, dada a boa frequência de concursos abertos nos últimos meses, além da necessidade de ocupar vagas ociosas, há grande possibilidade de maior concentração de vagas em seleções em um curto espaço de tempo, assim como a concorrência.

“Pelo fato de o concurso público ser uma bela opção de carreira, além dos concurseiros que se preparam diariamente para as provas, quanto maior o número de desempregados, mais concorrida tende a ficar a busca pelo cargo público”, acrescenta Pedro.

Ainda é cedo para levantar certezas sobre a conjuntura dos certames após a pandemia. Porém, com mais de 20 mil vagas abertas em todo o país e outras 200 mil previstas, se contarmos o concurso do IBGE em 2021, não há tempo para desânimo. Pedro Lemos, que trabalha no Qconcursos, também passou um conselho aos concurseiros que já estudavam para os concursos suspensos:

“Aproveitar a quarentena para estudar tende a ser uma bela decisão para quem sonha com uma vaga no setor público”, encerra.

Com isso, mãos à obra!



*Com a colaboração de Pedro Lemos e Kadu de Carvalho.

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