Questões de Concurso Público Prefeitura de Cabedelo - PB 2020 para Professor de Educação Básica II - Português
Foram encontradas 25 questões
Ano: 2020
Banca:
EDUCA
Órgão:
Prefeitura de Cabedelo - PB
Prova:
EDUCA - 2020 - Prefeitura de Cabedelo - PB - Professor de Educação Básica II - Português |
Q1719013
Português
Texto associado
ENTREVISTA COM ENI ORLANDI
M. S. – Você tem apresentado uma distinção
entre a formação e a capacitação no que tange à
formação de professores. Nesse sentido, de que forma
os pressupostos teóricos da Análise de Discurso
podem contribuir para a proposição de uma política
de formação para os profissionais de Letras, tanto em
nível de graduação, passando pelas chamadas
formações continuadas, ofertadas pelas Secretarias de
Educação de estados e municípios, quanto no âmbito
da pós-graduação?
E. O. – A distinção que faço entre formação e
capacitação não significa como está significada a
palavra formação em “formação continuada”. Ao
contrário, é uma noção que procurei formular para
abrigar a possibilidade de se pensar em uma prática
pedagógica de construção real de conhecimento, e
não presa ao imaginário escolar já significado antes
mesmo que se estabeleçam relações concretas com os
alunos. A distinção básica é a que estabeleço entre a
relação do ensino com a informação – capacitação –
e com o conhecimento, com o saber – formação. Na
capacitação, consumo e cidadania se conjugam.
Na conjuntura histórica atual, a alfabetização
e o desenvolvimento se declinam, então, em
“educação e mercado”, em que o mercado exige a
qualificação do trabalho, a qualificação do
trabalhador: um país educado. Isto significa um país
rico em que os cidadãos “educados” são capacitados
para o trabalho e circulam como consumidores de um
mercado de trabalho qualificado; neste caso, o da
capacitação, o denominador comum é o trabalho, e não o conhecimento. Basta a informação, o
treinamento. O mercado funciona como uma
premissa indefinida para se falar em
“sustentabilidade”
Esta palavrinha traz em seu efeito de memória
a de desenvolvimento, que é o que precisamos,
segundo o discurso dominante em uma sociedade
capitalista, sobretudo em países ditos pobres. A
capacitação é a palavra presente constantemente na
mídia, na fala de empresários, governantes e... na
escola. De nosso ponto de vista, este funcionamento
discursivo silencia a força da reivindicação social
presente, no entanto, na palavra formação. Pensando
politicamente, podemos dizer que a formação, e não
a capacitação, pode produzir um aluno “não
alienado”. Retomo, aqui, o conceito de K. Marx
(1844), segundo o qual a alienação desenvolve-se
quando o indivíduo não consegue discernir e
reconhecer o conteúdo e o efeito de sua ação
interventiva nas formas sociais.
A análise de discurso pode prover elementos
para que a formação, e não a capacitação, seja
incentivada como forma de relação com o
conhecimento. Já porque suas reflexões juntam
sujeito, língua, educação e formação social. Em
minhas reflexões, uno a isto uma teorização do sujeito
em que se tem os seus modos de individuação,
produzidos pela articulação simbólico-política do
Estado, através de instituições e discursos. Aí incluo,
nesta presente reflexão, a escola e os discursos do
conhecimento.
Consideramos que a educação, e, em
particular, o ensino da língua, como parte do que
tenho trabalhado como a individuação do sujeito,
neste caso, sendo a instituição a escola, poderia, se
bem praticado como processo formador do indivíduo
na sua relação com o social e o trabalho, dar
condições para que este sujeito “soubesse” que sabe a
língua e soubesse “ler e escrever”, de forma a, em sua
compreensão, ser capaz de dimensionar o efeito de
sua intervenção nas formas sociais, com todas as
consequências sociais e históricas que isto implica.
Em uma palavra, se desalienasse. O que a
capacitação não faz, pois o torna apenas um indivíduo
bem treinado e, logo, mais produtivo. Isto não o
qualifica em seu conhecimento, o que, com a
formação, se dá e produz o efeito de tornar esse sujeito mais independente, deixando de ser só mais
um instrumento na feitura de um “país rico”. Ele
estaria formado para dar mais um passo na direção de
não só formular como reformular e ressignificar sua
relação com a língua institucionalizada, a da escola,
mas também com a sociedade.
Ao invés de ser apenas um autômato de uma
empresa (com a capacitação), poderia ser um sujeito
em posição de transformar seu próprio conhecimento,
compreender suas condições de existência na
sociedade e resistir ao que o nega enquanto sujeito
social e histórico. Tudo isto, se pensamos na
formação - desde a educação básica, como o ensino
superior – leva-nos a dizer que há modos de formar
sujeitos preparados para descobertas e para
inovações. Sujeitos bem formados que podem
“pensar por si mesmos”, tocando o real da língua em
seu funcionamento e o da história, no confronto com
o imaginário que o determina.
ORLANDI, EniPulccinelli. Entrevista com EniOrlandi. [Entrevista
concedida a Maristela Cury Sarian] Pensares em Revista, São Gonçalo
– RJ, n. 17, p. 8-17, 2020. (Fragmento).
Analise o período seguinte atendendo aos
aspectos semânticos e gramaticais. “Pensando
politicamente, podemos dizer que a formação, e
não a capacitação, pode produzir um aluno ‘não
alienado’”.
Ano: 2020
Banca:
EDUCA
Órgão:
Prefeitura de Cabedelo - PB
Prova:
EDUCA - 2020 - Prefeitura de Cabedelo - PB - Professor de Educação Básica II - Português |
Q1719014
Português
Texto associado
Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
Água congelada, por chumbo seu verbo:
Pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
A pedra dar à frase seu grão mais vivo:
Obstrui a leitura fluviante, flutual,
Açula a atenção, isca-a com risco.
MELO NETO, João Cabral de. Melhores poemas João Cabral de Melo Neto.
Seleção Antonio Carlos Secchin. 10 ed. São Paulo: Global, 2010.
Analise as proposições sobre o poema.
I. O eu lírico reflete sobre o fazer poético e através da metapoesia traduz o trabalho árduo do escritor. II. A literariedade do texto é garantida também pela escolha das palavras, pelo modo de construção, pela imanência textual. III. A legitimação desse texto como texto literário depende da relação do leitor com o texto, conforme definiram os formalistas russos. IV. A organização dos nexos do poema é estabelecida pelo emprego rigoroso dos sinais de pontuação, pela presença de conjunções, de advérbios, o que confere ao poema um tom proso-poético. V. Considerando os procedimentos de leitura desse poema pelo professor de Língua Portuguesa na Educação básica, enquanto leitor, há consenso entre os estudiosos de que a leitura impressionista é a que melhor forma o professor mediador de leitura do texto literário.
Estão CORRETAS:
I. O eu lírico reflete sobre o fazer poético e através da metapoesia traduz o trabalho árduo do escritor. II. A literariedade do texto é garantida também pela escolha das palavras, pelo modo de construção, pela imanência textual. III. A legitimação desse texto como texto literário depende da relação do leitor com o texto, conforme definiram os formalistas russos. IV. A organização dos nexos do poema é estabelecida pelo emprego rigoroso dos sinais de pontuação, pela presença de conjunções, de advérbios, o que confere ao poema um tom proso-poético. V. Considerando os procedimentos de leitura desse poema pelo professor de Língua Portuguesa na Educação básica, enquanto leitor, há consenso entre os estudiosos de que a leitura impressionista é a que melhor forma o professor mediador de leitura do texto literário.
Estão CORRETAS:
Ano: 2020
Banca:
EDUCA
Órgão:
Prefeitura de Cabedelo - PB
Prova:
EDUCA - 2020 - Prefeitura de Cabedelo - PB - Professor de Educação Básica II - Português |
Q1719015
Português
Texto associado
Catar Feijão
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
Água congelada, por chumbo seu verbo:
Pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
A pedra dar à frase seu grão mais vivo:
Obstrui a leitura fluviante, flutual,
Açula a atenção, isca-a com risco.
MELO NETO, João Cabral de. Melhores poemas João Cabral de Melo Neto.
Seleção Antonio Carlos Secchin. 10 ed. São Paulo: Global, 2010.
Das hipóteses abaixo levantadas para
interpretação do poema, considerando a imanência
textual, somente uma não pode ser comprovada no
texto.
Ano: 2020
Banca:
EDUCA
Órgão:
Prefeitura de Cabedelo - PB
Prova:
EDUCA - 2020 - Prefeitura de Cabedelo - PB - Professor de Educação Básica II - Português |
Q1719016
Português
Texto associado
Letramento Literário
RildoCosson
Letramento literário é o processo de
apropriação da literatura enquanto linguagem. Para
entendermos melhor essa definição sintética, é
preciso que tenhamos bem claros os seus termos.
Primeiro, o processo, que é a ideia de ato contínuo, de
algo que está em movimento, que não se fecha. Com
isso, precisamos entender que o letramento literário
começa com as cantigas de ninar e continua por toda
nossa vida a cada romance lido, a cada novela ou
filme assistido. Depois, que é um processo de
apropriação, ou seja, refere-se ao ato de tomar algo
para si, de fazer alguma coisa se tornar própria, de
fazê-la pertencer à pessoa, de internalizar ao ponto
daquela coisa ser sua. É isso que sentimos quando
lemos um poema e ele nos dá palavras para dizer o
que não conseguíamos expressar antes.
Também nos apropriamos literariamente de
um romance quando aprendemos com um
personagem que há mais de um modo de percorrer os
caminhos da vida. Por fim, é um processo de
apropriação da literatura enquanto linguagem, ou da
linguagem literária. Neste caso, não se trata
simplesmente de um conjunto de obras consideradas
relevantes, nem o conhecimento de uma área
específica, mas sim de um modo muito singular de
construir sentidos que é a linguagem literária. Essa
singularidade da linguagem literária, diferentemente
de outros usos da linguagem humana, vem da
intensidade da interação com a palavra que é só
palavra e da experiência libertária de ser e viver que
proporciona.
Na prática pedagógica, o letramento literário
pode ser efetivado de várias maneiras, mas há quatro
características que lhe são fundamentais. Em primeiro
lugar, não há letramento literário sem o contato direto
do leitor com a obra, ou seja, é preciso dar ao aluno a
oportunidade de interagir ele mesmo com as obras literárias. Depois, o processo do letramento literário
passa necessariamente pela construção de uma
comunidade de leitores, isto é, um espaço de
compartilhamento de leituras no qual há circulação de
textos e respeito pelo interesse e pelo grau de
dificuldade que o aluno possa ter em relação à leitura
das obras. Também precisa ter como objetivo a
ampliação do repertório literário, cabendo ao
professor acolher no espaço escolar as mais diversas
manifestações culturais, reconhecendo que a
literatura se faz presente não apenas nos textos
escritos, mas também em outros tantos suportes e
meios. Finalmente, tal objetivo é atingido quando se
oferecem atividades sistematizadas e contínuas
direcionadas para o desenvolvimento da competência
literária, cumprindo-se, assim, o papel da escola de
formar o leitor literário.
Disponível em http://ceale.fae.ufmg.br
Pode-se inferir do texto:
Ano: 2020
Banca:
EDUCA
Órgão:
Prefeitura de Cabedelo - PB
Prova:
EDUCA - 2020 - Prefeitura de Cabedelo - PB - Professor de Educação Básica II - Português |
Q1719017
Português
Texto associado
Letramento Literário
RildoCosson
Letramento literário é o processo de
apropriação da literatura enquanto linguagem. Para
entendermos melhor essa definição sintética, é
preciso que tenhamos bem claros os seus termos.
Primeiro, o processo, que é a ideia de ato contínuo, de
algo que está em movimento, que não se fecha. Com
isso, precisamos entender que o letramento literário
começa com as cantigas de ninar e continua por toda
nossa vida a cada romance lido, a cada novela ou
filme assistido. Depois, que é um processo de
apropriação, ou seja, refere-se ao ato de tomar algo
para si, de fazer alguma coisa se tornar própria, de
fazê-la pertencer à pessoa, de internalizar ao ponto
daquela coisa ser sua. É isso que sentimos quando
lemos um poema e ele nos dá palavras para dizer o
que não conseguíamos expressar antes.
Também nos apropriamos literariamente de
um romance quando aprendemos com um
personagem que há mais de um modo de percorrer os
caminhos da vida. Por fim, é um processo de
apropriação da literatura enquanto linguagem, ou da
linguagem literária. Neste caso, não se trata
simplesmente de um conjunto de obras consideradas
relevantes, nem o conhecimento de uma área
específica, mas sim de um modo muito singular de
construir sentidos que é a linguagem literária. Essa
singularidade da linguagem literária, diferentemente
de outros usos da linguagem humana, vem da
intensidade da interação com a palavra que é só
palavra e da experiência libertária de ser e viver que
proporciona.
Na prática pedagógica, o letramento literário
pode ser efetivado de várias maneiras, mas há quatro
características que lhe são fundamentais. Em primeiro
lugar, não há letramento literário sem o contato direto
do leitor com a obra, ou seja, é preciso dar ao aluno a
oportunidade de interagir ele mesmo com as obras literárias. Depois, o processo do letramento literário
passa necessariamente pela construção de uma
comunidade de leitores, isto é, um espaço de
compartilhamento de leituras no qual há circulação de
textos e respeito pelo interesse e pelo grau de
dificuldade que o aluno possa ter em relação à leitura
das obras. Também precisa ter como objetivo a
ampliação do repertório literário, cabendo ao
professor acolher no espaço escolar as mais diversas
manifestações culturais, reconhecendo que a
literatura se faz presente não apenas nos textos
escritos, mas também em outros tantos suportes e
meios. Finalmente, tal objetivo é atingido quando se
oferecem atividades sistematizadas e contínuas
direcionadas para o desenvolvimento da competência
literária, cumprindo-se, assim, o papel da escola de
formar o leitor literário.
Disponível em http://ceale.fae.ufmg.br
“Essa singularidade da linguagem literária,
diferentemente de outros usos da linguagem
humana, vem da intensidade da interação com a
palavra que é só palavra e da experiência libertária
de ser e viver que proporciona”. É possível se fazer
uma associação desse excerto ao conceito de: