Questões de Concurso Militar CMRJ 2018 para Aluno - Português
Foram encontradas 20 questões
Q2045386
Português
Texto associado
O Tempo e o Amor
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o
tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas,
que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as
linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão
robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o
desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já
não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa
e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem
as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não
amar, e o ter amado muito, de amar menos.
(VIEIRA, Pe. António. Sermão do Mandato, parte III, In: Sermões. Porto: Lello & Irmão, 1959. p. 94.)
No trecho “São as afeições como as vidas, que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco,
que terem durado muito” (l. 2 e 3), encontram-se destacadas duas ocorrências da palavra “que”.
Embora a palavra seja a mesma, nessas ocorrências, o termo em questão indica valores semânticos distintos. Esses valores são respectivamente
Embora a palavra seja a mesma, nessas ocorrências, o termo em questão indica valores semânticos distintos. Esses valores são respectivamente
Q2045387
Português
Texto associado
O Tempo e o Amor
Tudo cura o tempo, tudo faz esquecer, tudo gasta, tudo digere, tudo acaba. Atreve-se o
tempo a colunas de mármore, quanto mais a corações de cera! São as afeições como as vidas,
que não há mais certo sinal de haverem de durar pouco, que terem durado muito. São como as
linhas que partem do centro para a circunferência, que, quanto mais continuadas, tanto menos unidas. Por isso os antigos sabiamente pintaram o amor menino, porque não há amor tão
robusto, que chegue a ser velho. De todos os instrumentos com que o armou a natureza o
desarma o tempo. Afrouxa-lhe o arco, com que já não tira, embota-lhe as setas, com que já
não fere, abre-lhe os olhos, com que vê o que não via, e faz-lhe crescer as asas, com que voa
e foge. A razão natural de toda esta diferença, é porque o tempo tira a novidade às coisas, descobre-lhes os defeitos, enfastia-lhes o gosto, e basta que sejam usadas para não serem
as mesmas. Gasta-se o ferro com o uso, quanto mais o amor? O mesmo amar é causa de não
amar, e o ter amado muito, de amar menos.
(VIEIRA, Pe. António. Sermão do Mandato, parte III, In: Sermões. Porto: Lello & Irmão, 1959. p. 94.)
São vários os procedimentos relacionados à organização e seleção de palavras que contribuem para
a construção de sentidos de um texto.
Um deles é a apresentação progressiva de ideias, que pode ser identificada na seguinte passagem:
Um deles é a apresentação progressiva de ideias, que pode ser identificada na seguinte passagem:
Q2045388
Português
Texto associado
O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos. [...]
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo. [...]
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
(BARROS, Manoel de. Meu quintal é maior do que o mundo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. p. 114.)
No Texto V, o título do poema ilustra o que a mãe do menino chama de “despropósitos” (v. 30).
Sobre essa correlação — ação do menino / percepção da mãe — infere-se que a palavra
“despropósito”
Q2045389
Português
Texto associado
O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos. [...]
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo. [...]
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
(BARROS, Manoel de. Meu quintal é maior do que o mundo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. p. 114.)
Na arte, é comum o poeta buscar a revitalização da linguagem.
No verso “Você vai carregar água na peneira a vida toda.” (v. 27), a linguagem explorada para traduzir a perspectiva criativa do menino
No verso “Você vai carregar água na peneira a vida toda.” (v. 27), a linguagem explorada para traduzir a perspectiva criativa do menino
Q2045390
Português
Texto associado
O menino que carregava água na peneira
Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.
A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.
O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.
A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos. [...]
Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.
No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo. [...]
Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.
A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.
Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
(BARROS, Manoel de. Meu quintal é maior do que o mundo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2015. p. 114.)
De acordo com Ferreira Gullar, “A arte existe, porque a vida não basta”.
No poema de Manoel de Barros, mais especificamente no verso “até fez uma pedra dar flor” (v. 24), a relação do poeta com a representação da realidade pode ser entendida como
No poema de Manoel de Barros, mais especificamente no verso “até fez uma pedra dar flor” (v. 24), a relação do poeta com a representação da realidade pode ser entendida como