Na crônica, o autor ressalta
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Q3253545
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Cuidado com o livro
Sabem do que tenho mais saudades? Do livro aberto.
Sim, isso mesmo, tenho saudade de ver um livro escancarado na mão de um leitor. Já não me lembro da última vez
que vi um livro a ser devorado em público. Ler em público, ou
até carregar um livro debaixo do braço, passou à história, é
hoje praticamente figura de museu, alimento da nostalgia de
poetas, romancistas e cronistas, para se empanturrarem até
arrotarem os seus desvarios e estórias, que por vaidade ou
capricho masoquista se dão ao trabalho de publicar em livros,
que ficarão para sempre calados.
Nutrimos pelos livros o mesmo que sentimos por certos
cães: medo. As casas comerciais, cada vez mais escassas,
que carregam na fachada a palavra “Livraria”, são encaradas
com o mesmo respeitinho que nutrimos por aquelas habitações onde nos portões se lê “Cuidado com o cão”. As nossas
bibliotecas estão para nós como os canis municipais: nunca
pomos lá os pés. Ninguém quer ver, ninguém está para se
comover com aquela quantidade de livros abandonados, engaiolados nas prateleiras numa agonia sem fim.
Quando kandengues*, nossos pais, para incutir sentido
de responsabilidade, nos davam de presente livros, e com
eles as mesmas recomendações que forneciam quando nos
ofereciam o nosso primeiro cachorrinho: “Cuida bem dele,
leva-o a passear, é o teu melhor amigo”. Nós, na emoção
inicial, brincávamos com eles envoltos naquela alegria
infantil.
*crianças
(Kalaf Epalanga. Minha pátria é a língua pretuguesa
[Crônicas], 2023. Adaptado)
Na crônica, o autor ressalta