As personagens masculinas dos textos 5 e 6, o mancebo e o ci...

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Q974104 Português

Texto 5
 
                                  A PATA DA GAZELA
 
      Houve uma ocasião em que o mancebo quis representar em sua lembrança a imagem da moça; naturalmente começou interrogando sua memória a respeito dos traços principais. Como era ela? Alta ou baixa, torneada ou esbelta, loura ou morena? Que cor tinham seus olhos? 

      A nenhuma dessas interrogações satisfez a memória; porque não recebera a impressão particular de cada um dos traços da moça. Não obstante, a aparição encantadora ressurgia dentro de sua alma; ele a revia tal como se desenhara a seus olhos algumas horas antes. [...]

      — Quem sabe? Talvez não seja ela o que nos bailes se chama uma moça bonita; talvez não tenha as feições lindas e o talhe elegante. Mas eu a amo!... O amor é sol do coração; imprime-lhe o brilho e o matiz! Vênus, a deusa da formosura, surgindo da espuma das ondas, não é outra cousa senão o mito da mulher amada, surgindo d'entre as puras ilusões do coração! O que eu admiro nela, o que me enleva, é sua beleza celeste; é o anjo que transparece através do invólucro terrestre; é a alma pura e imaculada que se derrama de seus lábios em sorrisos, e a envolve como a cintilação de uma estrela.
 
(ALENCAR, José de. A pata da gazela. Rio de Janeiro: Garnier, 1870. p. 33-35.)
 

Texto 6

                                     O ALIENISTA
 
      As crônicas da vila de Itaguaí dizem que em tempos remotos vivera ali um certo médico, o Dr. Simão Bacamarte, filho da nobreza da terra e o maior dos médicos do Brasil, de Portugal e das Espanhas. Estudara em Coimbra e Pádua. Aos trinta e quatro anos regressou ao Brasil, não podendo el-rei alcançar dele que ficasse em Coimbra, regendo a universidade, ou em Lisboa, expedindo os negócios da monarquia.

      – A ciência, disse ele a Sua Majestade, é o meu emprego único; Itaguaí é o meu universo.

      Dito isso, meteu-se em Itaguaí, e entregou-se de corpo e alma ao estudo da ciência, alternando as curas com as leituras, e demonstrando os teoremas com cataplasmas. Aos quarenta anos casou com D. Evarista da Costa e Mascarenhas, senhora de vinte e cinco anos, viúva de um juiz de fora, e não bonita nem simpática. Um dos tios dele, caçador de pacas perante o Eterno, e não menos franco, admirou-se de semelhante escolha e disse-lho. Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes. Se além dessas prendas, – únicas dignas da preocupação de um sábio, D. Evarista era mal composta de feições, longe de lastimá-lo, agradecia-o a Deus, porquanto não corria o risco de preterir os interesses da ciência na contemplação exclusiva, miúda e vulgar da consorte.
 
(ASSIS, Machado de. O alienista. In: Obra Completa. Vol. II. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. p. 253-254.)

As personagens masculinas dos textos 5 e 6, o mancebo e o cientista, respectivamente, não consideram importante a beleza das mulheres com quem estão envolvidos; diferem, porém, quanto aos parâmetros que julgam relevantes. As diferenças de ponto de vista revelam:
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