Questões de Português - Tipos de Discurso: Direto, Indireto e Indireto Livre para Concurso

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Q2762306 Português

Enterro televisivo


“Uns olham para a televisão. Outros olham pela televisão.“

(Dito de Sicrano)


1.Estranharam quando, no funeral do avô Sicrano, a viúva Entrelua proclamou: 

— Uma televisão!

— Uma televisão o qué, avó?

— Quero que me comprem uma televisão.

5. Aquilo, assim, de rompante, em plenas orações. Dela se esperava mais ajustado desejo, um ensejo solene de tristeza, um suspiro anunciador do fim. Mas não, ela queria naquele mesmo dia receber um aparelho novo. 

— Mas o aparelho que vocês tinham avariou?

— Não. Já não existe.

— Como é isso, então? Foi roubado?

— Não, foi enterrado.

10. — Enterrado?

— Sim, foi junto com o copo do vosso falecido pai.

Tudo havia sido congeminado junto com o coveiro. À televisão, desmontada nas suas quantas peças, tinha sido embalada no caixão. Era um requisito de quem ficava, selando a vontade de quem estava indo.

Na cerimônia, todos se entreolharam. O pedido era estranho, mas ninguém podia negar. O tio Ricardote ainda teve a lucidez de inquirir:

— E a antena?

15. Esperassem, fez ela com a mão. Tudo estava arquitetado. O coveiro estava instruído para, após a cerimônia, colocar a antena sobre a lápide, amarrada na ponta da cruz, em espreitação dos céus. Aquela mesma antena, feita de tampas de panela, ampliaria as eletrônicas nos sentidos do falecido. O velho Sicrano, lá em baixo, captaria os canais. É um simples risco a diferença entre a alma e a onda magnética. Por razão disso, a viúva Entrelua pediu que não cavassem fundo, deixassem o defunto à superfície.

— Para apanhar bem o sinal — explicou a velha.

O Padre Luciano se esforçou por disciplinar a multidão, ele que representava a ordem de uma só voz divina. Com uns tantos berros E ameaças ele reconduziu a multidão ao silêncio. Mas foi sossego de pouca dura. Logo, Entrelua espreitou em volta, E foi inquirindo os condoidos presentes:

— E o Bibito? onde está?
— O Bibito? — se interrogaram os familiares.

20. Ninguém conhecia. Foi o bisneto que esclareceu: Bibito era O personagem da novela brasileira. A das seis, acrescentou ele, feliz por lustrar conhecimento.

— E a Carmenzita que todas as noites nos visita E agora não comparece!

De novo, o bisneto fez luz: mais uma figura de uma telenovela. Só que mexicana. O filho mais velho tentou apaziguar as visões da avó. Mas qual Bibito, qual Carmen?! Então os filhos de osso e alma estavam ali, lágrima empenhada, e ela só queria saber de personagem noveleira?

— Sim, mas esses ao menos nos visitam. Porque a vocês nunca mais os vimos.

Esses que os demais teimavam em chamar de personagens, eram esses que adormeciam o casal de velhotes, noite após noite. Verdade seja escrita que a tarefa se tornava cada vez mais fácil. Bastava um repassar de cores e sonos para que as pestanas ganhassem peso. Até que era só ligar e já adormeciam.

25. — Quem vai ligar o aparelho hoje?

— É melhor não ser você, marido, porque noutro dia adormeceu de pé.

De novo, o padre invocou a urgência de um silêncio. Que ali havia tanto filho e mais tanto neto e ninguém conseguia apaziguar a viva? Os filhos descansaram o padre. Que sim, que iam conduzia dali para o resguardo da casa. Entrelua bem merecia o reparo de uma solidão. E prometeram à velha que não precisava de um outro aparelho, que eles iriam passar a visitá-la, nunca mais a deixariam só. À avó sorriu, triste. E assim a conduziram para casa.

Aquela noite, ainda viram a avó Entrelua atravessar o escuro da noite para se sentar sobre a campa de Sicrano. Deu um jeito na antena como a orientá-la rumo à lua. Depois passou o dedo pelos olhos a roubar uma lágrima. Passou essa aguinha pela tampa da panela como se repuxasse. De si para si murmurou; é para captar melhor. Ninguém a escutou, porém, quando se inclinou sobre a terra e disse baixinho:

— Hoje é você a ligar, Sicrano. Você ligue que eu já vou adormecendo.


(Adaptado de: COUTO, Mia. O fio das missangas. São Paulo: Companhia das Letras, 2008)

— Mas o aparelho que vocês tinham avariou? (paragrafo 6).


Adaptado para o discurso indireto, o trecho assume a seguinte redação:

Alternativas
Q2752875 Português

Texto 1


NIEMEYER


Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares

Filho, mais conhecido como Oscar Niemeyer, nasceu

em 15 de dezembro de 1907 no bairro das Laranjeiras,

no Rio de Janeiro, e durante anos morou na casa de

5 seu avô, Ribeiro de Almeida, em Maricá. Casou-se em

1928 com Annita Baldo. Dessa relação teve Anna

Maria, sua única filha.

Aos 23 anos foi estudar na Escola Nacional de

Belas Artes. Estagiou no escritório de Lúcio Costa,

10 onde participou do projeto do Ministério da Educação.

Niemeyer ganhou o mundo com projetos ousados e

revolucionários. Itália, França, Argélia e até a ONU

conheceram os traços desse ousado brasileiro. É autor

de vários projetos importantes no Brasil como Brasília,

15 o conjunto da Pampulha e o Sambódromo do Rio.

“Minha família vinha de Maricá. Meu avô Ribeiro

de Almeida nasceu lá. Já meu avô Niemeyer não o

conheci. Sempre morei com esse avô Ribeiro de

Almeida. Ele foi juiz de direito em Maricá e depois foi

20 para o Rio. Ele chegou a ministro do Supremo, e a casa

era muito frequentada. Ele era um sujeito correto. De

modo que, em tempos de esculhambação, a lembrança

dele é muito boa.


CASA DE MARICÁ


A Casa de Maricá foi um presente de Horácio

25 de Carvalho, jornalista e dono do Diário Popular.

Amigos desde a juventude, frequentavam o café

Lamas, o bilhar, os cabarés da cidade e as noites do

Rio de Janeiro. (...) Certo dia, Horácio ligou para

Niemeyer e disse: “A casa é sua. Só você pode

30 consertá-la...”. (...)

“É uma bela casa. A varanda larga a completar

as salas, convidando-nos a nela ficar com frequência.

Dentro, são oito quartos, separados pelas salas,

amplas, sem a disciplina e a lógica funcional que os

35 projetos de hoje apresentam (uma das características

das casas coloniais). E o telhado a descer com seu

galeio natural, adaptando-se à capela que surge no

conjunto dominadora, como uma verdadeira igreja.”


Texto editado. Disponível em: https://leisecamarica.com.br/maricaense-oscar-niemeyer-e-sua-historia-com-a-cidade/

No texto biográfico sobre Niemeyer, a polifonia, isto é, a presença de várias vozes no texto, está evidente:

Alternativas
Q2579528 Português

Leia o texto para responder às questões de 1 a 05.


O olhar da truta


O homem pediu truta e o garçom perguntou se ele não gostaria de escolher uma pessoalmente.

— Como, escolher?

— No nosso viveiro. O senhor pode escolher a truta que quiser.

Ele não tinha visto o viveiro ao entrar no restaurante. Foi atrás do garçom. As trutas davam voltas e voltas dentro do aquário, como num cortejo. Algumas paravam por um instante e ficavam olhando através do vidro, depois retomavam o cortejo. E o homem se viu encarando, olho no olho, uma truta que estacionara com a boca encostada no vidro à sua frente.

— Essa está bonita... — disse o garçom.

— Eu não sabia que se podia escolher. Pensei que elas já estivessem mortas.

— Não, nossas trutas são mortas na hora. Da água direto para a panela.

A truta continuava parada contra o vidro, olhando para o homem.

— Vai essa, doutor? Ela parece que está pedindo...

Mas o olhar da truta não era de quem queria ir direto para uma panela. Ela parecia examinar o homem. Parecia estar calculando a possibilidade de um diálogo. Estranho, pensou o homem. Nunca tive que tomar uma decisão assim. Decidir um destino, decidir entre a vida e a morte. Não era como no supermercado, em que os bichos já estavam mortos e a responsabilidade não era sua — pelo menos não diretamente. Você podia comê-los sem remorso. (...) Claro, era com sua aprovação tácita que bovinos, ovinos, suínos, caprinos, galinhas e peixes eram assassinados para lhe dar de comer. Mas você não estava presente no ato, não escolhia a vítima, não dava a ordem. (...) De certa maneira, pensou o homem, vivi sempre assim, protegido das entranhas do mundo. Sem precisar me comprometer. Sem encarar as vítimas. Mas agora era preciso escolher.

— Vai essa, doutor? — insistiu o garçom.

— Não sei. Eu...

— Acho que foi ela que escolheu o senhor. Olha aí, ficou paradinha. Só faltando dizer “Me come”.

O homem desejou que a truta deixasse de encará-lo e voltasse ao carrossel junto com as outras. Ou que pelo menos desviasse o olhar. Mas a truta continuava a fitá-lo.

— Vamos — estava dizendo a truta. — Pelo menos uma vez na vida, seja decidido. Me escolha e me condene à morte, ou me deixe viver. (...) Não posso decidir a minha vida, ou a de ninguém. Mas você pode. (...) Até agora foi um protegido, um desobrigado, um isento da vida. Mas chegou a hora de se comprometer. (...)

— Vai essa mesmo, doutor? — quis saber o garçom, já com a rede na mão para pegar a truta.

— Não — disse o homem. — Mudei de ideia. Vou pedir outra coisa.

E de volta na mesa, depois de reexaminar o cardápio, perguntou:

— Esses camarões estão vivos?

— Não, doutor. Os camarões estão mortos.

— Pode trazer.


VERISSIMO, L. F. Verissimo antológico: meio século de crônicas, ou coisa parecida. São Paulo: Objetiva, 2020.

Analise os excertos a seguir e assinale a alternativa em que o excerto se apresenta em discurso indireto livre.

Alternativas
Q2578682 Português

Considere o excerto a seguir, retirado de uma reportagem publicada na Revista Galileu, acerca de uma descoberta arqueológica:

““A parte mais incrível [da descoberta] é o quanto tudo está bem preservado e que agora sabemos onde havia árvores em ambientes que não as têm mais”, diz Basil Stow, guarda florestal do National Trust, em entrevista ao jornal The Guardian.”


O excerto dado se apresenta em discurso direto. Assinale a alternativa que o reescreve corretamente em discurso indireto.

Alternativas
Q2576780 Português

Identifique o tipo de discurso a seguir:


"Maria disse: 'Eu vou ao mercado'." 

Alternativas
Respostas
1: A
2: E
3: A
4: D
5: A