Questões de Concurso
Sobre orações subordinadas substantivas: subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas... em português
Foram encontradas 1.161 questões
A questão se refere ao texto abaixo.
Protejam as crianças da literatura
Wilson Gomes
"Eu sou a favor da suspensão, porque não é certo o ensinamento desse livro", afirmou uma jovem mãe mineira, ao ser indagada sobre o que achava de o "Menino Marrom", de Ziraldo, ter tido o seu uso didático temporariamente suspenso em Conselheiro Lafaiete, em Minas Gerais. Essa convicção se repete na voz de um jovem pai, que acrescenta que é preciso estar alerta aos livros escolares, sim, e já tinha até planejado ir à Secretaria de Educação "com relação a alguns livros" de leitura obrigatória. Notem o plural.
Fatos dessa natureza têm recebido enorme cobertura da mídia e inundado o debate público nacional a partir dos ambientes digitais. Não é claro para mim se foi a cobertura que aumentou ou se realmente houve um incremento nas ações de pais e autoridades para restringir o acesso de crianças e jovens a determinados livros. De todo modo, é notável como esses episódios continuam a se repetir.
Há quem salte para grandes conclusões, atribuindo ao avanço da extrema direita uma onda de moralismo inquisitorial e uma temporada de caça a livros e a outras bruxarias artísticas e literárias no país. E há quem diga claramente que a paixão por censurar se restringe a obras antirracistas ou com temáticas relacionadas à cultura africana no Brasil. As evidências, contudo, não autorizam saltos tão grandes.
Primeiro, se é verdade que a ultradireita acredita que o mal pode residir em livros e representações artísticas, identitários de esquerda compartilham o mesmo temor e idêntica vontade de proibir, cancelar e punir. A única diferença real entre as duas posições reside na definição do que exatamente constitui o mal. Para identitários, livros ofendem minorias, oferecem "gatilhos" que acionam sofrimentos em certas pessoas, induzem ao racismo, à misoginia, à homofobia e à transfobia e colonizam o pensamento. Para os ultraconservadores, a literatura ensina ideias religiosas falsas, induz à homossexualidade, faz doutrinação ideológica, promove a ideologia de gênero e o comunismo, além de expor crianças à violência e ao sexo.
Em ambos os casos, há a convicção comum de que as crianças, quando não todas as pessoas, precisam ser protegidas dos livros. E, se possível, que se deem alguns passos mais, que variam desde a reescrita "politicamente correta" — alô, Lobato — ou "de acordo com a sã doutrina" de obras literárias, até a criação de listas de livros e de autores proibidos e a emissão de condenações públicas contra autores, eventualmente, até enquadrando-os em algum tipo penal.
A rapidez com que se passa do julgamento moral de alguém que se sente ofendido — e o "sentir-se ofendido" é considerado motivo suficiente para a decisão de que um livro não presta — até o pedido de censura e punição ao autor é a mesma nos dois grupos. O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em segundo lugar, ao examinar as razões enunciadas por quem considera que a obra faz mal, notamos que a censura é invariavelmente vista como um ato de amor e zelo, pois o censor está sempre protegendo alguém vulnerável — crianças, jovens, membros de minorias, pessoas ignorantes, a massa ingênua. Na bibliografia sobre o tema, já se constatou, há anos, que três variáveis são importantes — o quão protetora é a pessoa que pede por censura, o quão vulnerável ela julga ser a pessoa ou grupo que quer proteger e a magnitude do mal que ela julga ver no objeto que deseja censurar.
A estimativa do nível do mal depende de muitos fatores, inclusive do grau de conhecimento da obra julgada. Grandes leitores raramente têm medo de livros. Quem joga games eletrônicos não vê os danos que os não jogadores imaginam. Os extremamente protetores tendem a querer censurar tudo — celulares, games, televisão, YouTube, livros —, enquanto os que acham que todo mundo sabe se virar no mundo não querem censurar nada. Quem considera os outros muito ingênuos, estúpidos ou influenciáveis fica aflito com o que eles leem ou veem. Quem acha que todo mundo é mais ou menos como ele acredita que todos são suficientemente sagazes para driblar manipulações.
Curiosamente, as mesmas pessoas que consideram patéticas e absurdas as alegações de que o livro de Ziraldo incentivaria a violência, que é um fato, consideram altamente sofisticado acreditar que smartphones e plataformas digitais vão tornar seus filhos estúpidos, que games os tornarão violentos, que a televisão... Ah, desculpem, as crianças não veem mais televisão. Deve ser, por isso, que estamos melhores.
Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/colunas. Acesso em: 07 nov. 2024. [Adaptado]
O identitário grita "racismo religioso" ou "transfobia" com a mesma celeridade com que o conservador conclui que "não é certo o ensinamento desse livro".
Em relação às orações subordinadas nele presentes,
O texto seguinte servirá de base para responder à questão.
Fechando os olhos para escrever
A vida é espantosamente linda. Só parece curta porque percebemos as dádivas exclusivamente no período em que estamos apaixonados por alguém.
Como a paixão acontece pouco, até cinco vezes numa trajetória, terminamos por desprezar e desmerecer grande parte da beleza dos acasos. Não desfrutamos da tela LED do coração. Das cores. Da exuberância das sutilezas. Da vibração das coincidências. Não aproveitamos o manancial interior, aquela sensação de leveza, de emparelhamento com o destino.
Transferimos a responsabilidade a um outro pelo nosso enamoramento. Dependemos de um romance para experimentar esse superpoder, que fica adormecido longamente em nossa história. Não nos achamos bonitos com frequência, não nos achamos atraentes com constância.
O fato é que somos pouco apaixonados por nós mesmos. Se o despertar fosse por nós, pela nossa própria personalidade, compensaríamos o tempo perdido e inativo da entressafra dos relacionamentos amorosos. Resgataríamos o nosso dom, que somente é explorado a partir de terceiros.
O pessimismo se infiltra na rotina, e não nos permitimos as descobertas. Permanecemos no mesmo lugar conhecido, ainda que não seja nosso lugar predileto, justamente porque nos falta paixão.
Quem tem paixão tem também coragem, tem iniciativa, tem curiosidade. Os dias nunca serão iguais. Existe a disponibilidade para se aventurar. Se você está apaixonado por quem quer que seja, larga o pijama e a série para ir a uma festa desconhecida.
Não se trata de atentar mais para o entorno, para os lados, mas de dar mais chance para o nosso interior. Por que, nos momentos mais profundos da nossa existência, fechamos os olhos?
Quando beijamos quem amamos, fechamos os olhos.
Quando rezamos, fechamos os olhos. Quando cantamos uma música significativa, fechamos os olhos. Ou seja, nos instantes de maior emoção, ao invés de abrir os olhos e enxergar o que está ocorrendo, preferimos não ver nada. Para unicamente sentir. Sentir a pulsação desordenada e caótica da vida.
Fechar os olhos é a prova de que você se entregou ao momento. É quando você está inteiramente presente. É quando você confia de verdade. É quando você finalmente se escuta.
No fundo, nascemos para sonhar. Então, fechamos os olhos, para celebrar o autoencontro.
Fabrício Carpinejar - Texto Adaptado
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar/2024/12/27/fechando-os-olhos-para-escrever
O termo destacado é classificado como:
O texto seguinte servirá de base para responder à questão,
A fila do mineiro
Um comportamento é digno de atenção aqui. Mineiro não forma fila. Ele faz um semicírculo. Um paredão que avança lentamente, ocupando a extensão inteira da calçada. Jamais vi uma fila indiana em Minas, um atrás do outro, como no padrão internacional.
O conjunto irradia espontaneamente para os cantos e laterais. Não se dispõe de maneira uniformizada, em linha reta, como acontece nos demais Estados do país.
Rompe-se com aquele sentimento de rebanho, conduzido pelo vaqueiro em fileira devido às trilhas estreitas e obstáculos das pastagens. É uma fila livre da fila. Todos sabem quando é a sua vez, não há desrespeito ao espaço alheio, à preferência do antecessor.
De modo nenhum, esse movimento de se espalhar é um jeito criativo de furar fila. Existe em cada um a consciência do momento em que se chegou ali e a fixação mental de seu lugar.
A fila se distribui horizontalmente em qualquer ambiente. Pode ser numa unidade de saúde, numa entrevista de emprego, numa balada, na entrada de um restaurante, para realizar algum concurso, para ingressar na escola, para colher autógrafos de um autor, para entrar num estádio ou teatro.
Todo mineiro dá um passo à frente antes da hora, transgredindo a delimitação prévia. Pensei primeiramente que era um recurso para ampliar o campo de visão e espiar o quanto faltava para o final. Até que reparei que tem mais a ver com o afeto: ele reencontra amigos e colegas na fila e puxa assunto lado a lado. Arruma um grupo. Arruma uma panelinha. Arruma um bando. Arruma um clube da esquina.
Tanto que é o único povo no Brasil que conversa no elevador. Fila, então, é sua chance de começar um comício.
É impressionante a sua capacidade de criar raízes nas casualidades. Mesmo quando não conhece ninguém, resgata algum parentesco ou afinidade perguntando onde a pessoa mora, onde nasceu, onde estudou, com o que trabalha. O sobrenome desperta uma família que desemboca num laço remoto, ou uma cidade lembra um parente que resulta numa observação espirituosa, e se estabelece a magia. O mineiro vai questionando exaustivamente, rodeando, numa investigação da intimidade sem precedentes. Sempre acaba achando um ponto em cruz para tricotar coincidências, para firmar convergências.
É o que batizo de "visita de rua". Mineiro não realiza visitas unicamente em casa, mas também efetua abordagens no meio de seu trajeto, pescando colóquios e audiências.
Assim o tempo passa mais rapidamente, o desconforto se transforma em prazer, e nem parece que você estava aguardando algo. Fica, inclusive, com o gosto amargo de ter que se despedir das amizades. É comum se mostrar contrariado ao ser chamado para o guichê ou balcão. Só em Minas, a fila é melhor do que o atendimento.
Fabrício Carpinejar
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar/2024/9/27/a-fila-do-mineiro
"Pensei primeiramente que era um recurso para ampliar o campo de visão e espiar o quanto faltava para o final."
Julgue o próximo item, relativo a aspectos gramaticais do texto 19A1.
No último período do segundo parágrafo, a oração “não confundir a língua com o discurso” classifica-se como subordinada substantiva objetiva direta reduzida de infinitivo.
I.O professor afirmou que a leitura de Machado de Assis é essencial para entender o Realismo.
II.O autor expressou apenas uma preocupação: que a obra fosse mal interpretada pelos leitores.
III.Os críticos tinham a esperança de que a nova edição valorizasse mais os autores brasileiros.
IV.Ela insistiu em que os alunos lessem mais autores do Modernismo.
Em qual(is) das afirmativas acima há a presença de uma oração subordinada substantiva apositiva?
O futebol no meio da relação
No nosso primeiro encontro, Beatriz falou que não era Cruzeiro nem Atlético.
Eu brinquei:
— Então, é Coelho?
Ela riu, também não era adepta do simpático time do América.
Fiquei com aquela informação na cabeça: ela não gosta de futebol. Nem todos têm um time para chamar de seu.
Mas não comentei mais nada dali em diante. Paixão é greve de personalidade. O futebol desapareceu para mim no primeiro mês de namoro. Estava apaixonado. Só queria saber dela, de sair com ela.
Beatriz, por sua vez, achou que eu fosse um gentleman, um intelectual: poeta, pensador, autor de livros sobre relacionamentos e sobre a finitude da vida. Supôs que, nas horas vagas, eu privilegiaria livros, filmes, artes plásticas. Jamais cogitou a hipótese de que eu seria um fanático do esporte ou de um clube.
Quando visitamos Porto Alegre, minha cidade, já com seis meses de relacionamento, ela demonstrou seu interesse em conhecer a Fundação Iberê Camargo de tarde.
O amor já tinha chegado em mim. Amar é mostrar que você tem um mundo pretérito às afinidades momentâneas de casal. Eu disse:
— Não posso!
Foi o meu "não" inicial no romance, o "não" fundador. Reuni as minhas forças para estrear a negativa.
Ela não compreendeu a rejeição:
— Não? Por quê? Tem compromisso?
Não queria que entendesse que estava fazendo pouco caso, tratei logo de explicar:
— Hoje tem jogo do Inter no Beira-Rio, não posso perder, quer vir junto?
Logo estendi uma camiseta vermelha com o nome dela nas costas, que eu recém havia comprado.
Ela ficou pálida, talvez tenha raciocinado com um frio na barriga: "onde eu me meti?".
Esclareci que era colorado doente, cônsul do Inter, ia em todos os jogos.
Ela estava com a boca aberta, de queixo caído:
— Então, você é daqueles que não deixam de assistir um jogo, que desmarcam qualquer evento?
— Sim. E não esqueça que são vários campeonatos: Brasileirão, Sul-Americana ou Libertadores, Copa do Brasil, Gauchão...
— Assiste todos?
— E mais: seco os meus rivais. Ou melhor, lavo, seco e passo os meus adversários.
— Mas não sobrará tempo para nada.
— Pois é, eu precisava desabafar!
— Você não é fanático, você é louco! Depois, descobri com sua melhor amiga que ela tinha um único pré-requisito para um partidão: que ele não gostasse de futebol.
A vida não é perfeita, Beatriz, mas nosso amor é, dentro do possível, de acordo com o calendário da CBF e Conmebol.
Fabrício Carpinejar - Texto Adaptado.
https://www.otempo.com.br/opiniao/fabricio-carpinejar
Marque a alternativa que apresenta a mesma classificação da oração grifada acima.