A partir da análise de Antonio Candido, pode-se compreender...

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Q246448 Português

                   CANTO IV

II

Dormindo estava Paraguaçu formosa,

Onde um claro ribeiro à sombra corre;

Lânguida está, como ela, a branca rosa,

E nas plantas com a calma o vigor morre;

Mas buscando a frescura deleitosa

De um grão maracujá, que ali discorre,

Recostava-se a bela sobre um posto

Que, encobrindo-lhe o mais, descobre o rosto.


III

Respira tão tranqüila, tão serena,

E em langor tão suave adormecida,

Como quem livre de temor, ou pena,

Repousa, dando pausa à doce vida.

Ali passar a ardente sesta ordena

O bravo Jararaca, a quem convida

A frescura do sítio e sombra amada,

E dentro d'água a imagem da latada.


IV

No diáfano reflexo da onda pura

Avistou dentro dágua buliçosa,

Tremulando, a belíssima figura.

Pasma, nem cre que imagem tão formosa

Seja cópia de humana criatura.

E, remirando a face prodigiosa,

Olha de um lado e doutro, e busca atento

Quem seja original deste portento.


V

Enquanto tudo explora com cuidado,

Vai dar cos olhos na gentil donzela;

Fica sem uso dalma arrebatado,

Que toda quanta tem se ocupa em vê-la:

Ambos fora de si, desacordado

Ele mais de observar coisa tão bela,

Ela absorta no sono em que pegara,

Ele encantado a contemplar-lhe a cara.


VI

Quisera bem falar, mas não acerta,

Por mais que dentro em si fazia estudo.

Ela de um seu suspiro olhou desperta;

Ele daquele olhar ficou mais mudo.

Levanta-se a donzela mal coberta,

Tomando a rama por modesto escudo;

Pôs-Ihe os olhos então, porém tão fera,

Como nunca beleza se pudera.


VII

Voa, não corre, pelo denso mato,

A buscar na cabana o seu retiro;

E, indo ele a suspirar, vê num ato,

Em meio ela fugir do seu suspiro.

Nem torna o triste a si por longo trato,

Até que, dando à mágua algum respiro,

Por saber donde habita, ou quem seja ela,

Seguiu voando os passos da donzela.


(DURÃO, Santa Rita. Caramuru. In: CANDIDO, Antonio. Na sala de aula. São Paulo: Editora Ática, 1988).

A partir da análise de Antonio Candido, pode-se compreender o poema como um antagonismo pendular entre movimento e parada.

Neste caso movimento e parada significam, respectivamente.

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