Questões de Concurso Sobre figuras de linguagem em português para fcc

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Q3295796 Português
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.


[Eternidade do guarda-chuva]


    Ontem choveu demais e eu precisava ir a três pontos diferentes da cidade. Quando o moço do jornal veio apanhar a crônica que eu acabara de escrever, pedi-lhe que me comprasse um guarda-chuva que parecesse digno da classe média, e ele o fez com competência. Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me pus a contemplá-lo. Senti então uma certa simpatia por ele, meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu lugar a um estranho carinho, e eu mesmo fiquei curioso para saber qual a origem desse carinho. 

    Pensando bem, ele talvez derive do fato de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno mais intenso a mudanças. Sou apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto da minha infância existe mais em sua forma primitiva. De máquinas como telefone, automóvel etc., nem é bom falar. Mil pequenos objetos de uso mudaram de forma, de cor, de material; em alguns casos, é verdade, para melhor; mas mudaram.  

    O guarda-chuva tem resistido. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos futuristas e tanto abusaram que até caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas invariáveis varetas. De junco fino ou pinho vulgar, de algodão ou de seda animal, pobre ou rico, ele tem se mantido digno. Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem inventou; tem ao mesmo tempo algo de ridículo e de fúnebre, essa pequena barraca. Nada disso, entretanto, lhe tira o ar honrado. Entrou calmamente pela era atômica, e olha com ironia a arquitetura e os móveis chamados funcionais. Ele já era funcional muito antes de se usar esse adjetivo; e tanto que a fantasia, a inquietação e a ânsia de variedade do homem não conseguiram modificá-lo em coisa alguma.  

    Ali está ele, meio aberto, ainda molhado, choroso; descansa com uma espécie de humildade ou paciência humana; se tivesse liberdade de movimentos não duvido de que iria para cima do telhado quentar sol*, como fazem os urubus.

*quentar sol: forma popular para "esquentar ao sol"


(Adaptado de BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. Rio de Janeiro: Record, 1978, p. 217-218) 
Na relação do autor com o guarda-chuva comparece uma figura de linguagem conhecida como personificação, tal como se dá neste segmento: 
Alternativas
Q3171834 Português
A Rua Diferente

Na minha rua estão cortando árvores
botando trilhos
construindo casas.

Minha rua acordou mudada.
Os vizinhos não se conformam.
Eles não sabem que a vida tem dessas exigências brutas.

Só minha filha goza o espetáculo
e se diverte com os andaimes,
a luz da solda autógena
o cimento escorrendo nas fôrmas.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. Rio de Janeiro: Record. edição digital.)
Ocorre “personificação”, figura que consiste na atribuição de comportamento humano a seres inanimados, em:
Alternativas
Q3169898 Português
O Poeta

Quando surges sonhando e tua lira canta,
Inveja abrindo vai, como esfaimado corvo,
As asas negras pelo abobadado e torvo
Horizonte, em que o Deus da rima se levanta!...

Reatas a obra a imortal da caravana santa
Dos teus mortos irmãos, vencendo o mesmo estorvo,
Tragando o mesmo fel, haurindo o mesmo sorvo
Do veneno letal, que aos cobardes quebranta!

Ornas a Terra e a Terra, ingrata, te apedreja,
Porque o Infinito tens na mente e os pões no verso,
A sustentar, cantando, intérmina peleja.

É um louco! — brada o mundo em tua luz imerso,
Mas segue o raio astral, que pelo Azul dardeja
Doirando as almas como o sol doira o Universo!

(Adaptado de: CARDOSO, Fausto. Esparsos e inéditos.
v.1-Poesia. Org. de Jackson da Silva Lima.
Aracaju: Secretaria de Educação, Subsecretaria de Cultura,
Govemo do Estado de Sergipe, 1980)

a Terra, ingrata, te apedreja,

A alternativa que apresenta figura de linguagem semelhante à presente no trecho acima é:

Alternativas
Q3169896 Português
O Poeta

Quando surges sonhando e tua lira canta,
Inveja abrindo vai, como esfaimado corvo,
As asas negras pelo abobadado e torvo
Horizonte, em que o Deus da rima se levanta!...

Reatas a obra a imortal da caravana santa
Dos teus mortos irmãos, vencendo o mesmo estorvo,
Tragando o mesmo fel, haurindo o mesmo sorvo
Do veneno letal, que aos cobardes quebranta!

Ornas a Terra e a Terra, ingrata, te apedreja,
Porque o Infinito tens na mente e os pões no verso,
A sustentar, cantando, intérmina peleja.

É um louco! — brada o mundo em tua luz imerso,
Mas segue o raio astral, que pelo Azul dardeja
Doirando as almas como o sol doira o Universo!

(Adaptado de: CARDOSO, Fausto. Esparsos e inéditos.
v.1-Poesia. Org. de Jackson da Silva Lima.
Aracaju: Secretaria de Educação, Subsecretaria de Cultura,
Govemo do Estado de Sergipe, 1980)
As metáforas do Deus da rima e do raio astral têm a função de
Alternativas
Q3147047 Português
   Eu sei, muito pouca gente lê nos dias de hoje. Eu sei; dentro dos poucos que leem, pouquíssimos dão valor a textos de humor. Sim, eu sei, o autor sofrer de incontinência verbal e ficar lançando livros como quem cospe sementes de melancia na terra não é nada positivo para sua carreira.

    Eu sei disso tudo e mais: sou um sujeito que produz material “perigoso”. Ou seja, não concorro a prêmios, não sou congregado de nenhuma academia ou igrejinha, e tenho uma enorme preguiça de dar entrevistas. Pior: não tenho TikTok e nem faço ideia de como usar o celular para gravar vídeos promocionais.

    Em outras palavras, eu sei que meu 78º livro, se vender alguma coisa, não vai dar para pagar nem o revisor, quanto mais meu aluguel. Então, por que ficar insistindo no erro desde 1996, quando estreei no mundão das letras com “Aqui jaz — o livro dos epitáfios"? Masoquismo é a primeira palavra que vem à cabeça. Obsessão é a segunda. Vaidade, a terceira. Não creio, entretanto, que elas expliquem claramente o que acontece comigo — o buraco na camada de teimosia é mais embaixo.


(Adaptado de: CASTELO, Carlos. Disponível em: In: https:/www estadao.com.br)

Masoquismo é a primeira palavra que vem à cabeça. Obsessão é a segunda. Vaidade, a terceira.


Observa-se uma elipse verbal similar à utilizada no trecho acima:

Alternativas
Q3147036 Português
Poema arcaico II

Não faço versos porque quero
mas porque o tempo dos relógios me confunde
é à insânia dos ventos me atormenta
Não sei de onde vêm
os versos que faço
chegados na chuva
trazidos no vento
Eles me caçam
me acham
versos vadios
versos gastos
passados de mão em mão
nos tempos de todos 05 tempos
nas cores de canções
nas rodas de verões
versos já ditos escritos repisados
por multidão de tresloucados
postas em suas horas incautas
versos antigos, arcaicos
perdidos na contramão das estradas
versos mortos que renascem
nas minhas mãos.

(CÉSAR, Ana Maria. Disponível em:http: domingocompoesia.com.br) Considerando o poema, a razão pela qual o eu lírico escreve versos é:
No trecho versos antigos, arcaicos / perdidos na contramão das estradas, a figura de linguagem predominante é:
Alternativas
Q2645752 Português

Atenção: Leia o conto “Casos de baleias”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder às questões de números 1 a 5.


A baleia telegrafou ao superintendente da Pesca, queixando-se de que estava sendo caçada demais, e a continuar assim sua espécie desapareceria com prejuízo geral do meio ambiente e dos usuários.

O superintendente, em ofício, respondeu à baleia que não podia fazer nada senão recomendar que de duas baleias uma fosse poupada, e esta ganhasse número de registro para identificar-se.

Em face dessa resolução, todas as baleias providenciaram registro, e o obtiveram pela maneira como se obtêm essas coisas, à margem dos regulamentos. O mar ficou coalhado de números, que rabeavam alegremente, e o esguicho dos cetáceos, formando verdadeiros festivais no alto oceano, dava ideia de imenso jardim explodindo em repuxos, dourados de sol, ou prateados de lua.

Um inspetor da Superintendência, intrigado com o fato de que ninguém mais conseguia caçar baleia, pôs-se a examinar os livros e verificou que havia infinidade de números repetidos. Cancelou-se o registro, e os funcionários responsáveis pela fraude, jogados ao mar, foram devorados pelas baleias, que passaram a ser caçadas indiscriminadamente. A recomendação internacional para suspender a caça por tempo indeterminado só alcançará duas baleias vivas, escondidas e fantasiadas de rochedo, no litoral do Espírito Santo.


(ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)

Na construção de seu conto, Drummond recorre fundamentalmente à seguinte figura de linguagem:

Alternativas
Q2564641 Português
Devaneio, logo existo


     As três pessoas que estavam comigo no elevador se recusavam a devanear. Assim como as pessoas do vagão do metrô. Foram duas rápidas observações que me levaram a respirar aliviado por ter percebido que ainda preservava a autoindulgência tanto do devaneio quanto da inspeção de atitudes alheias. A crítica de “ninguém mais conversa; todo mundo anda e até come com a fuça no celular” nunca me convenceu, pois se a pessoa não está prejudicando ninguém, que faça o que bem entender. No meu conceito, porém, ela está deixando de existir como indivíduo, pois é no devaneio, na contemplação e na troca que se imprime identidade no mundo.


     Explico melhor. E para isso recorro à inteligência artificial generativa, uma evocação à própria base de dados para geração de conteúdos novos, sejam textos, áudios, músicas, imagens ou vídeos. E o que é essa jornada se não o próprio caminho do processo criativo, por onde estabelecemos nossa assinatura? Os pensamentos não nascem no vácuo. As descobertas tampouco. Insights germinam do correlacionamento de memórias, da conexão das diferentes peças no repertório intelectual que fomos colecionando no decorrer da vida. A iluminação é elaborada em nosso devaneio. Só que cada vez menos somos propensos à permissão de experiências tão somente contemplativas. Até o caminhar precisa ser preenchido por fone de ouvido, consumo de notícias, checagem de mensagens de Whatsapp.


    Quando dizem que a meditação é um dos pilares de estilo de vida saudável não explicam devidamente sua importância. O próprio René Descartes, inspirador do título deste artigo e do cartesianismo, lançou obra chamada Meditações. Também não é explícito o risco do comodismo de entregar tudo o que tona humana a nossa espécie a um dispositivo. Já é sabido desde o século 18, na Revolução Industrial, que as máquinas são superiores em produção. Só que a mecanização não ativa a inteligência nem a razão, que são as ligas da vida e do real progresso dos seres humanos. Ainda no século 17 os filósofos iluministas ensinaram o valor do devaneio na formação de pessoas com melhores decisões morais.


(Adaptado de: PIMENTAL, Luiz Cesar. Revista Isto é, 15/03/2024. Disponível em: https://istoe.com.br) 
E o que é essa jornada se não o próprio caminho do processo criativo, por onde estabelecemos nossa assinatura? (2º parágrafo) Predomina no trecho acima a seguinte figura de linguagem:
Alternativas
Q2564460 Português
Valor social da memória


     Não há evocação, não há memória sem uma inteligência do presente, um homem não sabe o que ele é se não for capaz de sair das determinações atuais. Aturada reflexão pode preceder e acompanhar a evocação. Uma lembrança é um diamante bruto que precisa ser lapidado pelo espírito: sem o trabalho da reflexão e da localização, seria uma imagem fugidia. O sentimento também precisa acompanhá-la, para que ela não seja uma repetição do estado antigo, mas uma reaparição.


     Se existe uma memória voltada para a ação, com sua prática de hábitos assimilados, e uma outra memória que simplesmente revive o passado, parece ser esta a dos velhos, já libertos das atividades profissionais e familiares. Mas o ancião não sonha quando rememora: desempenha uma função para a qual está maduro, a alta função de unir o começo ao fim, de divisar os limites de uma história inteira. Um mundo social que possui uma riqueza e uma diversidade que não conhecemos pode chegar-nos pela memória dos velhos. Momentos desse mundo perdido podem ser compreendidos por quem não os viveu. À conversa evocativa de um velho é sempre uma experiência profunda: para quem sabe ouvi-la, cria um nexo entre o passado e o presente, é instigante e inspiradora.


(Adaptado de: BOSI, Ecléa. Memória a sociedade = Lembranças de velhos. 20.ed. São Paulo: Companhia das Letras, p. 84)
Está correta a seguinte afirmação sobre um elemento de construção do texto:
Alternativas
Q2514709 Português
Atenção: Considere a crônica “Tartaruga de arrastão”, de Rachel de Queiroz, para responder à questão..

        O caso deu-se aqui na ilha, numa pescaria de arrastão. Da primeira redada veio um tal peixe que causou espanto: ninguém podia crer que naquele côncavo de mar morasse tanto peixe assim. Havia de ser alguma piracema que ia passando; para lá de trés toneladas de pescado foram apanhadas de uma só vez. Na segunda redada nada veio, ou quase nada — fugira a piracema ou fora toda colhida pela rede. Entretanto, no meio daquele quase nada apareceu um bicho estranho: uma tartaruga do mar. Tartaruga diferente daquelas fluviais que a gente conhece, tartaruga das profundezas salinas, meio peixe, porque em vez de pernas tem nadadeiras.

      Primeiro ela se debateu e tentou de todas as maneiras furar a malha. Depois foi agarrada e atirada ignominiosamente na areia, de barriga para cima. Por fim puseram-na em posição normal; e ela, recuperando imediatamente a compostura, estirou o pescoço enrugado e correu em torno de si um olho temeroso. Não sei se os presentes compreenderam quanto havia de surpresa, terror e pasmo nos olhos da tartaruga. Muito pior que um bicho da terra pego numa rede: este pode estranhar a prisão, mas afinal continua dentro de um elemento conhecido, pisando chão, vendo árvores familiares, sentindo o cheiro da terra. A tartaruga não: para ela, nascida e vivida no mar, aquela era a mais estranha, a mais inacreditável e terrível das aventuras. Para aquela tartaruga era o mesmo que seria para um de nós vermo-nos transportados subitamente, sem dano físico, até o fundo do mar. Imagine que estranho, que portentoso e medonho não parece. As caras desconhecidas de ignorados animais - no caso, homens. E todos, todos, canibais ou pior que isso — pois bem sentia ela sobre o seu casco grosso, sobre a carapaça encaracada, o olhar doce e atento e cobiçoso dos comedores de carne.

       A sorte da coitada foi ninguém chegar a um acordo sobre a forma de abatê-la. E sorte maior o fato de ninguém, pessoalmente, querer se responsabilizar pela carnificina naquela quinta-feira santa. Mas levaram-na para o galinheiro - que ignominia, uma veterana dos sete mares a ser atirada entre as galinhas, na noite que deveria ser a última da sua vida; ela que decerto esperava sepultar-se entre areias claras, nalgum maciço colorido de anêmonas do mar. Mas felizmente para a tartaruga, incerto é o coração do homem, incertos, os seus impulsos. Tanto val para um lado como para o outro, tanto procura devorar hoje o seu irmão bicho, como amanhã o festeja e liberta. O fato é que um coração se apiedou da tragédia e houve mão que abriu a porta da capoeira e encaminhou a marcha rampante do bicho marinho em direção da prala, em direção do mar, sua pátria. Ela também não esperou arrependimento, não hesitou, não agradeceu. Cortou a areia deixando um rastro longo, penetrou na água como um barco a deslizar do estaleiro, mergulhou, emergiu, voltou a cabeça ainda assustada para aquele mundo sujo, escuro, inimigo, onde viviam os homens, onde esperava nunca mais voltar; e mergulhou de novo, abraçando toda a água que podia entre as nadadeiras abertas.

(Adaptado de: QUEIROZ, Rachel de. 100 crônicas escolhidas: um alpendre, uma rede, um açude. Rio de Janeiro: José Olympio, 2021)
A cronista recorre à figura de linguagem denominada hipérbole no seguinte trecho:
Alternativas
Q2762366 Português
1. Existem muitas histórias do seu Justinho.

2. Uma vez o Alaor, que era um grande gozador, recebeu o seu Justinho no escritório, de manhã, com uma pergunta.

3. — Seu Justinho, o senhor abotoa a camisa de cima para baixo ou de baixo para cima?

4. - O seu Justinho pensou um pouco. depois respondeu: .

5. — De baixo para cima, como todo mundo.

6. — Epa - protestou o Simas. — Como todo mundo não. Eu abotõo de cima para baixo.

7. O Alaor propôs um plebiscito no escritório. .

8. — Quantos abotoam a camisa de cima para baixo e quantos abotoam de baixo para cima?

9. Curiosamente, fora o seu Justinho e o Simas, ninguém se lembrava como abotoava a camisa. Alguns começaram a tirar a camisa ali mesmo, para ver como as recolocariam. já que nunca tinham reparado naquilo. Mas o seu Justinho os deteve. Tirar a camisa no escritório, onde já se vira? Todos ao trabalho antes que aparecesse o chefe.

10. Mas durante todo o dia o seu Justinho ficou preocupado. No fim do expediente, dirigiu-se ao Alaor.

11. — Não gostei disso que você começou.

12. — Que foi que eu comecei?

13. — Essa história das camisas.

14. — Por que, seu Justinho?

15. — É desagregadora. Vai criar confusão.

16. E, realmente, no dia seguinte não foram poucos os que se declararam perplexos com a questão. Naquela manhã, pela primeira vez em suas vidas, tinham prestado atenção na forma como abotoavam a camisa. Era uma coisa banal, uma ação cotidiana e corriqueira, e, no entanto, todos tinham vivido até então sem saber se abotoavam a camisa de baixo para cima ou de cima para baixo. Era como se não se conhecessem. Um funcionário, inclusive, não compareceu ao trabalho e no outro dia deu a razão: simplesmente ficara paralisado no momento de aboioar a camisa, sem saber se começava por baixo ou por cima. À mulher até pensara que ele estivesse tendo alguma coisa.

17. — Que foi?

18. — Eu não consigo vestir a minha camisa. Eu não consigo vestir a minha camisa!

19. — Deixa que eu ajudo.

20. — Não! Você não vê? Eu é que tenho que vestir. E não consigo decidir se começo a abotoar por baixo ou por cima!

21. Como ele resolvera o problema, para vir trabalhar um dia depois? Botara uma camisa sem botão.

22. Seu Justinho não estava gostando nada daquilo. E nos dias seguintes passou a gostar ainda menos. Notou que todos estavam abalados com a experiência. De repente, por causa dos botões de suas camisas, estavam todos às voltas com graves indagações existenciais, sobre a gratuidade de todas as coisas, sobre os limites do livre arbitro e o lugar do homem num universo aleatório. E aquilo estava prejudicando o serviço. 

23. — Viu o que você fez? — perguntou o seu Justinho, brabo, para o Alaor.

24, — Mas era só uma brincadeira!

25. A brincadeira deixara todos angustiados. Até que seu Justinho decidiu tomar uma atitude. Como bom burocrata, baixou uma norma, gue mandou afixar no quadro de avisos.

26. “Neste escritório, todos os homens abotoam a camisa de baixo para cima, revogadas as disposições em contrário.”

27. Houve um certo alívio no ambiente, o que seu Justinho tomou como mais um triunfo da burocracia que afinal não passava de um método para pôr ordem no caos, segundo ele.

28. Mal sabia o seu Justinho que, depois de ler a sua determinação no quadro, todos tinham começado a abotoar a camisa de cima para baixo. A questão não era mais a extensão da liberdade humana num universo indiferente, a questão era contrariar o seu Justinho. Quem ele pensava que era, mandando até nas suas camisas?


(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. Pai não entende nada. Porto Alegre: L&PM, 1996)
Observa-se a ocorrência da figura de linguagem conhecida como antítese no seguinte trecho:
Alternativas
Q2566991 Português

Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo. 


Avaliar e avaliar-se



    Avaliar é atribuir algum valor a algo ou a alguém. Nesse sentido, nossa atenção recai em geral sobre o que ou quem está sendo avaliado. Um carro, um modo de vida, um governo, uma empresa, uma pessoa – imediatamente surge logo diante de nós o objeto de uma avaliação, na iminência ou no momento mesmo de ser qualificado. Mas pensa-se pouco no sujeito da avaliação: afinal, quem está avaliando? Não é uma pergunta que costuma se antepor a um processo de avaliação – e no entanto, esta depende, fundamentalmente, dos critérios já assumidos pelo avaliador. 

    De fato, avaliar supõe faixas de mensuração dos valores atribuídos, que podem ir do barato ao caro, do fácil ao difícil, do belo ao feio, do necessário ao supérfluo etc. etc. O valor pode estar num extremo ou outro, ou em algum ponto de uma tábua valorativa onde os traços são flutuantes e problemáticos. Mas essa tábua não age por si mesma, e volta-se à pergunta mais que necessária: quem elegeu, graduou e opera essa tábua?

    Ainda quando estudantes do ensino médio, foi-nos oferecida por uma professora a oportunidade de nos avaliarmos a nós mesmos. A atribuição obrigatória da nota do trabalho de cada um a cada um estaria reservada. Olhamo-nos, intrigados. À primeira vista, parecia ser aquela uma oportunidade de ouro para todo mundo se dar a nota máxima... Mas, no momento seguinte, sentimos que estávamos sendo convocados para uma tarefa superior, e nada oportunista: a de cada um revelar para si mesmo que tipo de ética havia dentro de si, que valores lhe caberia defender como verdadeiros. A professora nos oferecia, assim, um espelho crítico diante do qual podíamos fazer alguma micagem ou reconhecer e enfrentar a verdade dos nossos limites. Foi uma lição preciosa, nada fácil, aliás, de se sustentar com a honestidade que ela reclama. 

(ALBUQUERQUE, Silvério. Notas de escola. Aguardando edição)

O autor se vale de um recurso de linguagem figurada na seguinte construção:
Alternativas
Q2397856 Português
    Ouvi chuva durante toda a noite. Acordei antes do despertador tocar às 5h15, tamanha minha expectativa para conferir um dos maiores espetáculos naturais do mundo. Falo de uma lacuna no meu currículo de viajante: as Cataratas do Iguaçu. Assim como Fernando de Noronha, as famosas quedas d'água são uma atração que eu ainda não havia visitado.

      Claro que a justificativa para isso nunca foi a falta de interesse, mas de oportunidade.

     Na última segunda-feira, porém, eu estava otimista. Tinha uma premiação que eu iria conduzir à noite no próprio hotel do parque. E eu tinha a manhã de terça livre para me encantar com a força daquelas águas.
 
      Infelizmente era justamente esse elemento que ameaçava atrapalhar meu programa. Mas lá pelas 7h, convencido de que O aguaceiro tinha se tornado apenas uma garoa, caminhei até a grande queda, o som estrondoso de milhões de metros cúbicos despencando por segundo silenciando as batidas ansiosas do meu coração e até mesmo os distantes trovões. Quando cheguei o mais próximo que podia, tive um baque. Sozinho na área, eu tinha toda a chance de me conectar com aquela maravilha, mas me perguntei: era isso mesmo que eu esperava encontrar?

       As Cataratas do Iguaçu, assim como vários outros pontos turísticos fortes pelo mundo, nos trazem um incômodo do qual só me dei conta então: estamos tão acostumados a ver imagens deslumbrantes deles que quando estamos lá, cara a cara com a atração, parece que ela não tem mais nenhum encanto a nos oferecer. Ou tem? Chamei esse fenômeno de “anestesia turística”.

      No scroll infinito de imagens hoje nas nossas telas. que impacto essas atrações ainda são capazes de nos provocar? Nenhum, pensei rápido. Pelo menos se seu único objetivo diante delas é tirar uma selfie.

        Ir pessoalmente a um lugar desses é muito mais do que fazer um registro para o Instagram. Fiz o meu, sim, não tenha dúvidas. Mas logo em seguida mergulhe: naquilo que meus alhos estavam devorando.

      Com eles eu não apenas enxergava, mas também ouvia, degustava e sentia quase o toque poderoso do fluido em movimento na minha pele. Quando fechei as pálpebras, todos esses sentidos, inclusive o da visão, ficaram mais fortes. Pronto: eu estava livre daquele estado anestésico. A chuva já havia voltado com força e eu nem tinha percebido. Olhei em volta e continuava sozinho. No entanto, estava pleno.



(Adaptado de: CAMARGO, Zeca. Disponível em: www1.folha.uol.com.br)
Observa-se o emprego da figura de linguagem conhecida como hipérbole no seguinte trecho:
Alternativas
Q2288235 Português
     1. Os paroquianos estranharam que, apesar de tão mogo, o vigário novo fosse a tal ponto reservado, só falando o indispensável, sempre com a batina lambuzada de terra ou de tinta, às voltas com os reparos materiais da igreja. Com o tempo, acreditou-se, o sacerdote se faria amigo pelo menos das pessoas mais importantes do lugar, o prefeito, o presidente da Câmara, os representantes da Justiça, o médico, dois ou trés fazendeiros, o farmacêutico. Na porta do estabelecimento deste último é que se discutia a personalidade do vigário, formando-se um grupo contra e outro a favor.

     2. - Parece que ele até faz pouco-caso da gente.

     3. - Nunca vi um sujeito de cara tão amarrada.

     4. Os simpatizantes pegavam pelo aspecto mais evidente do padre.

     5. - Mas que homem danado de trabalhador!

     6. E o padre, sem dar mostras de perceber o pasmo da cidade, sempre com suas ferramentas, ativo e suarento. Uma notícia, entretanto, deu aos munícipes a impressão de que iria começar o degelo, isto é, o vigário passaria a ter um contato mais direto e caloroso com o povo e os interesses locais. Ele procurara o prefeito e os vereadores para pleitear um cemitério novo, o velho, nos fundos da casa paroquial, estava mesmo impraticável. Foi um alívio. Enfim, o padre tomara uma atitude perfeitamente normal, uma atitude que o incorporava à comunidade.

     7. - Eu não dizia - exclamava o farmacêutico -, eu apostava que o homem quer o trabalhar por nós. Francamente, este cemitério é indigno do progresso da cidade. A gente aqui nem pode morrer por falta de lugar.

    8. Com o entusiasmo, a Câmara votou uma verba especial para a aquisição de um terreno e benfeitorias adequadas. E não demorou que o novo campo-santo, depois de abençoado, fosse inaugurado com um discurso, no qual o prefeito apelava para os céus: aprouvesse a Deus que jamais um corpo inânime viesse a transpor os umbrais daquela necrópole. Seis dias depois, entretanto, um corpo inânime transpunha os umbrais daquela necrópole: Deus, de repente, chamara o farmacêutico.

       9. O vigário, realizada a sua única aspiração, passou a desaparecer por longas horas do dia; fora dos ofícios religiosos, raramente era visto, inquietando ainda mais os habitantes. Uma tarde, a bomba estourou: a viúva do coronel Inácio, inda levar flores à campa do falecido, no velho cemitério, descobrira a verdade macabra, a paisagem inacreditável: o antigo cemitério da cidade transformara-se escandalosamente numa horta. O estupor e a revolta não tiveram limites. Depois de muitos debates, uma comissão foi encarregada de levar ao vigário um pedido enérgico: aquilo não podia continuar, ali repousavam os entes queridos de todas as famílias da cidade: e estas esperavam que o senhor vigário arrancasse sem mais demora todos os pés de hortaliças. O vigário respondeu que não via matéria de escândalo, citou um versículo do Antigo Testamento e despediu a todos com impaciência.

      10. Foi aí que os homens válidos, pedindo a compreensão de Deus, resolveram invadir o cemitério, munidos de enxadas, facas e varapaus, para acabar com a horta que já não deixava ninguém dormir em paz, nem os mortos, nem os vivos. Pois, quando se aproximaram do cemitério, foram barrados pelo cano da espingarda do vigário: ali ninguém entrava vive. Os homens voltaram desapontados e tornaram a discutir o impasse. Alguém então teve a ideia de se levar uma denúncia ao bispo da diocese. Uma semana depois, o padre embarcava numa jardineira com a mala, a espingarda e a cara amarrada. A população toda, depois de decidir que as hortaliças seriam destruídas, e não doadas aos pobres, entrou com o máximo respeito no velho cemitério e devastou a bela plantação.


(Adaptado de: CAMPOS, Paulo Mendes. Balé do pato e outras crônicas. São Paulo: Ática, 2012)
O cronista recorre à figura de linguagem conhecida como eufemismo em:
Alternativas
Q2235394 Português
     Fui chegando aqui à Bahia, a caminho de Itaparica — onde deverei basicamente pescar, mentir na praça do Mercado e, de quando em vez, escrever uma carta patética a meu abnegado editor, solicitando mais fundos para a realização da minha obra — e fui logo perguntando pelos cachorros. Os cachorros daqui da casa de meu paí, como aliás todos os bichos que aparecem por aqui, são muito interessantes — a começar por Lílico, um animal vagamente fox terrier que namorava escandalosamente com Chiquita, a gata siamesa de meu pai. Uma vez, Lilico e Chiquita — como direi? — se engalfinharam amorosamente em plena sala, na frente de uma visita eclesiástica, um verdadeiro escândalo. Minha mãe e o monsenhor fingiram que não viram (um ato de heroísmo da parte deles, já que fingir que não estavam notando aquela fuzarca era a mesma coisa que tentar manter uma conversação junto de um trio elétrico), mas meu pai ficou entusiasmado. “Creio que teremos nesta casa uma ninhada de cagatos”, disse-me ele com orgulho. Não houve, infelizmente, frutos desse e de outros acalorados idílios vividos por Chiquita e Lilico, mas por aí vocês já veem como os bichos aqui de casa são interessantes.

     Agora temos dois cachorros, Duque e Wolfgang (embora este só atenda por Wolf ou Carrapicho). Duque é um fila da envergadura de um hipopótamo e só um pouquinho mais pesado, cujo principal talento é ser capaz de comer seis pães (seis dessas bisnagonas de mais de meio metro) em 15 segundos cravados, coisa que ele faz toda vez que deixam o pão dando sopa, e depois se julga no direito de ser festejado pela habilidade. Wolfgang é um rottweiler alemão, cuja disposição habitual se compara desfavoravelmente com a de um comandante das SS e que não se dá com ninguém. Meu pai explicou que ambos são ótimos indivíduos, “apenas temos de respeitar suas respectivas maneiras de ser”.

     — A maneira de ser de Duque — esclareceu ele — é abestalhada. A maneira de ser de Carrapicho, por assim dizer, é de inimigo de toda a Criação em geral. São posições.

     Duque e Wolfgang dividem as responsabilidades da guarda da casa. Duque cuida dos fundos, onde de vez em quando derruba um bujão de gás com um encontrão casual. Wolf cuida da frente, parte da casa onde absolutamente ninguém é bem recebido (a não ser os da casa mesmo, mas sem intimidades) depois que ele assume o posto — com rigorosa pontualidade e sempre parado no mesmo lugar, na evidente intenção de comer a primeira coisa que se mexa em sua frente. Fui visitá-los. Duque me cumprimentou com efusão, Wolf se levantou e rosnou, enfiando a cara pelas grades do canil. Com o ar confiante que estudei nos livros sobre treinamento de cães, aproximei-me para fazer amizade, levantei a mão para afagá-lo.

     — Use a esquerda — aconselhou meu pai. — Pelo menos assim você ainda vai poder bater à máquina com a direita.

     Preferi adiar a experiência, fui passar em revista os outros moradores da casa ali presentes. [...]

     Fui lá dentro inspecionar minha vara de pescar, imaginei-me na ilha de Itaparica entre garoupas, guaricemas, vermelhos, pampos e cabeçudos e mentindo estrondosamente sobre “aquele de oito quilos que escapou no último instante”. Suspirei. A vida do escritor é muito dura, mas, pelo menos, felizmente, encontrei todos aqui muito bem.


(Adaptado de: RIBEIRO, João Ubaldo. Arte e ciência de roubar galinha. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1998)
Com finalidade humorística, o cronista recorre à figura de linguagem denominada hipérbole no trecho:
Alternativas
Q2173475 Português
Atenção: Leia o conto “Casos de baleias”, de Carlos Drummond de Andrade, para responder à questão.

    A baleia telegrafou ao superintendente da Pesca, queixando-se de que estava sendo caçada demais, e a continuar assim sua espécie desapareceria com prejuízo geral do meio ambiente e dos usuários.
      O superintendente, em ofício, respondeu à baleia que não podia fazer nada senão recomendar que de duas baleias uma fosse poupada, e esta ganhasse número de registro para identificar-se.
     Em face dessa resolução, todas as baleias providenciaram registro, e o obtiveram pela maneira como se obtêm essas coisas, à margem dos regulamentos. O mar ficou coalhado de números, que rabeavam alegremente, e o esguicho dos cetáceos, formando verdadeiros festivais no alto oceano, dava ideia de imenso jardim explodindo em repuxos, dourados de sol, ou prateados de lua.
     Um inspetor da Superintendência, intrigado com o fato de que ninguém mais conseguia caçar baleia, pôs-se a examinar os livros e verificou que havia infinidade de números repetidos. Cancelou-se o registro, e os funcionários responsáveis pela fraude, jogados ao mar, foram devorados pelas baleias, que passaram a ser caçadas indiscriminadamente. A recomendação internacional para suspender a caça por tempo indeterminado só alcançará duas baleias vivas, escondidas e fantasiadas de rochedo, no litoral do Espírito Santo.

(ANDRADE, Carlos Drummond de. Contos plausíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2012)
Na construção de seu conto, Drummond recorre fundamentalmente à seguinte figura de linguagem:
Alternativas
Q2173031 Português
Avaliar e avaliar-se


          Avaliar é atribuir algum valor a algo ou a alguém. Nesse sentido, nossa atenção recai em geral sobre o que ou quem está sendo avaliado. Um carro, um modo de vida, um governo, uma empresa, uma pessoa – imediatamente surge logo diante de nós o objeto de uma avaliação, na iminência ou no momento mesmo de ser qualificado. Mas pensa-se pouco no sujeito da avaliação: afinal, quem está avaliando? Não é uma pergunta que costuma se antepor a um processo de avaliação – e no entanto, esta depende, fundamentalmente, dos critérios já assumidos pelo avaliador.

        De fato, avaliar supõe faixas de mensuração dos valores atribuídos, que podem ir do barato ao caro, do fácil ao difícil, do belo ao feio, do necessário ao supérfluo etc. etc. O valor pode estar num extremo ou outro, ou em algum ponto de uma tábua valorativa onde os traços são flutuantes e problemáticos. Mas essa tábua não age por si mesma, e volta-se à pergunta mais que necessária: quem elegeu, graduou e opera essa tábua?

        Ainda quando estudantes do ensino médio, foi-nos oferecida por uma professora a oportunidade de nos avaliarmos a nós mesmos. A atribuição obrigatória da nota do trabalho de cada um a cada um estaria reservada. Olhamo-nos, intrigados. À primeira vista, parecia ser aquela uma oportunidade de ouro para todo mundo se dar a nota máxima... Mas, no momento seguinte, sentimos que estávamos sendo convocados para uma tarefa superior, e nada oportunista: a de cada um revelar para si mesmo que tipo de ética havia dentro de si, que valores lhe caberia defender como verdadeiros. A professora nos oferecia, assim, um espelho crítico diante do qual podíamos fazer alguma micagem ou reconhecer e enfrentar a verdade dos nossos limites. Foi uma lição preciosa, nada fácil, aliás, de se sustentar com a honestidade que ela reclama.

(ALBUQUERQUE, Silvério. Notas de escola. Aguardando edição) 
 O autor se vale de um recurso de linguagem figurada na seguinte construção: 
Alternativas
Q2161886 Português
Para responder à questão, leia o trecho do poema de Manuel Bandeira.

Há que tempo que não te vejo!
Não foi por querer, não pude,
Nesse ponto a vida me foi madrasta,
Recife.

Mas não houve dia em que te não sentisse dentro de mim:
Nos ossos, nos olhos, nos ouvidos, no sangue, na carne,
Recife.

Não como és hoje,
Mas como eras na minha infância,
Quando as crianças brincavam no meio da rua
(Não havia ainda automóveis)
E os adultos conversavam de cadeira nas calçadas
(Continuavas província, Recife)

(Adaptado de: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990)
Ao evocar Recife, o poeta recorre sobretudo à seguinte figura de linguagem:
Alternativas
Q2155225 Português
Para responder à questão, considere o texto abaixo.

            A missão era simples. Ir ao supermercado do Amaro Branco, um bairro popular aqui de Olinda, onde o açougueiro e o responsável pelas verduras ficam discutindo a plenos pulmões sobre a rodada do campeonato estadual ou lamentando as apostas que fizeram pela internet, do campeonato europeu. Eu iria comprar frutas e uma lista pequena de coisas, além da minha indefectível água mineral com gás. Compras estando feitas, botei a mão no bolso, o cartão ficou em casa. Aceitam “pix”? Ainda estamos resolvendo isso, respondeu o gerente, com uma cara de cansado já de manhã. Desci o restante da ladeira sem nada, fui alugar uma bicicleta para ir a um supermercado mais distante, mas só havia uma bicicleta, que não funcionava.

            Já eram 10h20 da manhã e tudo tinha dado errado. O dia começou a mudar quando passei defronte à Maternidade do Tricentenário, a única pública da cidade. É impossível você passar pela frente e não ter imagens de mulheres grávidas, famílias preocupadas com o que está por acontecer. Mas o que me chamou a atenção foi um homem, que estava sentado num banquinho de praça, que fica numa das poucas áreas com árvores no entorno, ao lado de uma farmácia. Era o famoso “galego”, como chamamos aqui em Pernambuco. Branco, meio obeso, uns 35 anos, o rosto estava vermelho e suava como se fosse ter um infarto. Estava sozinho.

         Imediatamente reduzi o passo, andei uns três metros e parei, para ver o que estava acontecendo. Sou de uma curiosidade canina. Poucos segundos depois, sai de dentro do hospital uma mulher, que julgo ser sua irmã. Vem apressada, chorando, e começa a falar bem alto, olhando para o meu amigo: “Mago, acabou de nascer. Ela é a tua cara, Mago, é a tua cara!” Nesse instante, o homem cai num choro convulso. Abraça sua irmã, e chora profundamente. Fui tomado por uma emoção profunda, também comecei a chorar, como se o galego fosse um parente. Fazia tempo que não via um homem chorar. Aliás, o choro parece que ficou uma coisa meio clandestina. É difícil ver gente triste na internet.

(LIMA, Samarone. Nascimentos. Disponível em: www.revistacontinente.com.br. Adaptado)
Poucos segundos depois, sai de dentro do hospital uma mulher, que julgo ser sua irmã.
O mesmo tipo de figura de linguagem presente no trecho destacado ocorre em:  
Alternativas
Q2098378 Português
Atenção: Para responder à questão, baseie-se no texto abaixo.


Encenação da morte

   A vida nos quer, a morte nos quer. Somos o resultado da tensão ocasionada pelas duas forças que nos puxam. Esse equilíbrio não é estável. Amplo, diverso e elástico é o campo de força da vida, e vale a mesma coisa para o campo da morte. Se ficamos facilmente deprimidos ou exaltados é em razão das oscilações de intensidade desses dois campos magnéticos, sendo o tédio o relativo equilíbrio entre os dois.
   Às vezes é mais intensa a pressão da vida, outras vezes é mais intensa a pressão da morte. Não se quer dizer com isso que a exaltação seja a morte e a depressão seja a vida. Há exaltações e exultações que se polarizam na morte, assim como há sistemas de depressão que gravitam em torno da vida. O estranho, do ponto de vista biológico, é que somos medularmente solitários com ambos os estados de imantação mais intensa, os da vida e os da morte. Não aproveitamos apenas a vida, mas usufruímos também as experiências da morte, desde que essas não nos matem.
   Ganhei várias vezes da morte, isto é, inúmeras vezes os papéis que a morte representou para mim não chegaram a ser convincentes ou não chegaram a fazer grande sucesso. Matei várias mortes. (...) Mas outro dia dei dentro de mim com uma morte tão madura, tão forte, tão irrespondível, tão parecida comigo que fiquei no mais confuso dos sentimentos. Esta eu não posso matar, esta é a minha morte. O Vinícius de Moraes, que entende muito de morte, disse que nesse terreno há sempre margem de erro, e que talvez eu tenha ainda de andar um bocado mais antes de encontrar a minha morte. Pode ser. Não sei. Quem sabe?


(Adaptado de CAMPOS, Paulo Mendes. Os sabiás da crônica. Antologia. Org. Augusto Massi. Belo Horizonte: Autêntica, 2021, p. 246-248, passim) 
Ao longo do texto o autor se vale de vários paradoxos, tal como o que ocorre na seguinte formulação:
Alternativas
Respostas
1: E
2: C
3: E
4: B
5: B
6: E
7: D
8: C
9: D
10: D
11: B
12: E
13: B
14: D
15: C
16: A
17: E
18: D
19: B
20: D