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Ano: 2018 Banca: SELECON Órgão: IF-RJ Prova: SELECON - 2018 - IF-RJ - Nível Médio |
Q1318963 Português

O açúcar


O branco açúcar que adoçará meu café

nesta manhã de Ipanema

não foi produzido por mim

nem surgiu dentro do açucareiro por milagre. 



Vejo-o puro

e afável ao paladar

como beijo de moça, água

na pele, flor

que se dissolve na boca.

Mas este açúcar não foi feito por mim.



Este açúcar veio

da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira,

dono da mercearia.

Este açúcar veio de uma usina de açúcar em Pernambuco

ou no Estado do Rio

e tampouco o fez o dono da usina.



Este açúcar era cana

e veio dos canaviais extensos

que não nascem por acaso

no regaço do vale. 



Em lugares distantes, onde não há hospital

nem escola,

homens que não sabem ler e morrem de fome

aos 27 anos

plantaram e colheram a cana

que viraria açúcar. 



Em usinas escuras,

homens de vida amarga

e dura

produziram este açúcar

branco e puro

com que adoço meu café esta manhã em Ipanema. 


GULLAR, Ferreira. Toda poesia (1950/1980). Rio de Janeiro: José Olympio, 2006. Pág. 165-16.


Vocabulário:

Afável: delicado, agradável

Regaço: colo; no sentido figurado, lugar onde se acha conforto e tranquilidade.

No poema, é possível identificar diferentes personagens associados a locais que fazem referência às fases de produção do açúcar. Os locais correspondentes à sequência de personagens Oliveira, empresários, trabalhadores, consumidores são:
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