Com relação às formas verbais “tivera” (l. 11) e “tinha desa...
Para que ninguém a quisesse
01 Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos vestidos e
02 parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os
03 decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, das gavetas tirou todas as
04 joias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem dela, pegou a tesoura e tosquiou-
05 -lhe os longos cabelos.
06 Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum se interessava por ela.
07 Esquiva como um gato, não mais atravessa praças. E evitava sair.
08 Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse em silêncio pelos
09 cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
10 Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da mulher. Mas do
11 desejo inflamado que tivera por ela.
12 Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite tirou do bolso uma rosa de cetim
13 para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
14 Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em lhe agradar. Largou o tecido
15 numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava
16 sobre a cômoda.
COLASANTI, Marina. Contos de amor rasgado. Rio de Janeiro: Rocco, 1986, p. 111-112.
Com relação às formas verbais “tivera” (l. 11) e “tinha desaprendido” (l. 14), é correto afirmar que: