Na passagem do 1º parágrafo – Vale pois a pena que eu a esf...

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Ano: 2025 Banca: VUNESP Órgão: TJ-SP Prova: VUNESP - 2025 - TJ-SP - Psicólogo Judiciário |
Q3291553 Português

Leia o texto para responder:


    Prefiro a prosa ao verso, como modo de arte, por duas razões, das quais a primeira, que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso. A segunda, porém, é de todos, e não é — creio bem — uma sombra ou disfarce da primeira. Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte.

    Considero o verso como uma coisa intermédia, uma passagem da música para a prosa. Como a música, o verso é limitado por leis rítmicas, que, ainda que não sejam as leis rígidas do verso regular, existem todavia como resguardos, coações, dispositivos automáticos de opressão e castigo. Na prosa falamos livres. Podemos incluir ritmos musicais, e contudo pensar. Podemos incluir ritmos poéticos, e contudo estar fora deles. Um ritmo ocasional de verso não estorva a prosa; um ritmo ocasional de prosa faz tropeçar o verso.

    [...]

    Creio bem que, num mundo civilizado perfeito, não haveria outra arte que não a prosa. Deixaríamos os poentes aos mesmos poentes, cuidando apenas, em arte, de os compreender verbalmente, assim os transmitindo em música inteligível de cor. Não faríamos escultura dos corpos, que guardariam próprios, vistos e tocados, o seu relevo móbil e o seu morno suave. Faríamos casas só para morar nelas, que é, enfim, o para que elas são. A poesia ficaria para as crianças se aproximarem da prosa futura; que a poesia é, por certo, qualquer coisa de infantil, de mnemônico, de auxiliar e inicial.

(Fernando Pessoa; Bernardo Soares. Livro do Desassossego. 2013. Adaptado)

Na passagem do 1º parágrafo – Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte. –, o termo destacado mantém relação coesiva com a expressão
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Gabarito D. Srs.

  • No primeiro parágrafo, o narrador apresenta duas razões pelas quais prefere a prosa ao verso. Ele afirma que a primeira razão é pessoal ("que é minha"),
  • Enquanto a segunda é mais universal ("é de todos"). A frase "Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte" refere-se à segunda razão, aquela que ele considera mais importante e com um significado mais profundo para a arte. O pronome oblíquo "a" em "esfie-a" retoma o substantivo feminino singular "segunda" subentendido na expressão "A segunda".

"Vale pois a pena que eu a esfie, porque toca no sentido íntimo de toda a valia da arte."

O termo destacado "a" é um pronome oblíquo átono feminino singular, funcionando como objeto direto do verbo "esfie". Para identificar a que se refere, precisamos olhar para o contexto anterior da frase.

O autor está explicando por que prefere a prosa ao verso por "duas razões". Ele detalha a primeira razão ("que é minha, é que não tenho escolha, pois sou incapaz de escrever em verso") e a segunda razão ("A segunda, porém, é de todos, e não é — creio bem — uma sombra ou disfarce da primeira").

Imediatamente após apresentar a segunda razão, o autor diz "Vale pois a pena que eu a esfie...".

O verbo "esfiar", neste contexto figurado, significa detalhar, explicar minuciosamente, elaborar sobre algo. O que vale a pena ser detalhado ou explicado minuciosamente? A razão que ele considera importante e "de todos", e que "toca no sentido íntimo de toda a valia da arte". Essa razão é justamente "A segunda".

Não é "a primeira" razão, pois esta é explicitamente minimizada pelo autor ("que é minha", "não tenho escolha"). Não faria sentido ele dizer que "vale a pena" detalhar essa razão pessoal já bem explicada ("sou incapaz de escrever em verso").

Gabarito: (D)

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