Sempre tive confiança na minha faculdade de convencer os adversários, em meio às discussões.
Não sei se pela força da lógica ou se por um dom natural, a verdade é que, em vida, eu vencia qualquer
disputa dependente de argumentação segura e irretorquível.
A morte não extinguira essa faculdade. E a ela os meus matadores fizeram justiça. Após curto
debate, no qual expus com clareza os meus argumentos, os rapazes ficaram indecisos, sem encontrar uma
saída que atendesse, a contento, às minhas razões e ao programa da noite, a exigir prosseguimento. Para
tornar mais confusa a situação, sentiam a impossibilidade de dar rumo a um defunto que não perdera
nenhum dos predicados geralmente atribuídos aos vivos.
Se a um deles não ocorresse uma sugestão, imediatamente aprovada, teríamos permanecido no
impasse. Propunha incluir-me no grupo e, juntos, terminarmos a farra, interrompida com o meu
atropelamento.
Entretanto, outro obstáculo nos conteve: as moças eram somente três, isto é, em número igual ao
de rapazes. Faltava uma para mim e eu não aceitava fazer parte da turma desacompanhado. O mesmo rapaz
que aconselhara a minha inclusão no grupo encontrou a fórmula conciliatória, sugerindo que abandonassem
o colega desmaiado na estrada. Para melhorar o meu aspecto, concluiu, bastaria trocar as minhas roupas
pelas de Jorginho, o que me prontifiquei a fazer rapidamente.
(O pirotécnico Zacarias – Murilo Rubião).
Em relação ao texto 1, assinale a alternativa correta: