Em “Eu disse que era só por uns dias...” (9º§), quanto ao em...

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Q3194528 Português

Negócio de ocasião


    Quando mandou colocar mármore no chão de seu apartamento, o vizinho de baixo veio reclamar: oito horas da manhã os operários começavam a quebrar mármore mesmo em cima de sua cabeça. Durma-se com um barulho desses! 

    – Está bem – concordou ele, acalmando o vizinho: – Vou mandar começar mais tarde.

    Mandou que os operários só começassem a trabalhar a partir das nove horas. Dois dias depois tornava o vizinho:

    – Assim não é possível. Já reclamei, o senhor prometeu, e o barulho continua!  

    – Mas é só por uns dias – argumentou ele: – o senhor vai ter paciência...

    E mandou que os trabalhos só se iniciassem a partir das dez horas. Com isso, pensava haver contentado o vizinho. Para surpresa sua, todavia, o homem voltou ainda para protestar, e desta vez furibundo, armado de revólver: 

    – Ou o senhor para com esse barulho ou faço um estrago louco.

    Olhou espantado para a arma e, cordato, convidou-o a entrar:

    – Não precisa se exaltar, que diabo. Vamos resolver a coisa como gente civilizada. Eu disse que era só por uns dias... Se o senhor quiser que eu pare, eu paro. Cuidado com esse negócio, costuma disparar. Qual é o calibre? 

    – Trinta e dois.

    – Prefiro trinta e oito. Mas esse parece ser muito bom... Que marca? 

    – Smith-Wesson.

     – Ah! Então deve ser muito bom. Cabo de madrepérola... Quanto o senhor pagou por ele? 

    – Cinco mil cruzeiros.

    – Não foi caro. Sempre tive vontade de ter um revólver desses. Quem sabe o senhor me venderia? 

    – Não vim aqui para vender revólver – explodiu o outro – mas para te avisar que esse barulho...

    – Não haverá mais barulho, esteja tranquilo. Agora, quanto ao revólver... Quer vender? 

    – O senhor está brincando...

    Não estou não: pela vida de minha mãezinha. Quer saber de uma coisa? Dou dez mil por ele. Sempre tive vontade... Vamos, aceite! Dez mil, pago na hora. 

    O homem começou a titubear. Olhou o revólver, pensativo: dez mil era um bom preço. Já pensava mesmo em vendê-lo... Olhou o dono da casa, tornou a olhar o revólver: 

    – Toma, é seu – decidiu-se.

    Antes de entrar na posse da arma, o comprador foi lá dentro, trouxe dez abobrinhas e estendeu-as ao vizinho. Depois, empurrou o revólver e chegou-lhe aos peitos:

    – Bem, agora ponha-se daqui pra fora. E fique sabendo que eu faço o barulho que quiser e quando quiser, entendeu? Venha aqui outra vez reclamar e vai ver quem é que acaba fazendo um estrago louco.


(Fernando Sabino. A mulher do vizinho. 2ª ed. RJ, Ed do Autor, 1962 p. 186.)

Em “Eu disse que era só por uns dias...” (9º§), quanto ao emprego das reticências, é correto afirmar que:
Alternativas

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Interpretação e Análise da Questão:

A questão aborda o uso das reticências no contexto de uma fala. As reticências são utilizadas para criar uma pausa ou um prolongamento de uma ideia, transmitindo uma sensação de continuidade ou incerteza.

Alternativa Correta: D - Prolonga uma ideia no fim de uma frase completa.

A alternativa D está correta porque as reticências indicam que a ideia não está completamente finalizada, sugerindo que o falante está refletindo ou hesitando. Isso se alinha perfeitamente com o contexto em que a frase está inserida, pois o personagem está tentando suavizar a situação com o vizinho.

Análise das Alternativas Incorretas:

A - Indica a quebra de paralelismo.

Esta alternativa está incorreta, pois as reticências não têm relação com a quebra de paralelismo. Elas não alteram a estrutura gramatical da frase, mas sim a intensidade da expressão.

B - Enfatiza uma reflexão indefinida e incerta.

Embora as reticências possam sugerir uma reflexão, esta alternativa é imprecisa. Elas não enfatizam a indecisão, mas sim prolongam a ideia, permitindo que o pensamento se estenda.

C - Introduz um trecho de aspecto explicativo.

Essa alternativa é incorreta, pois as reticências não introduzem explicações. Elas servem para indicar uma pausa ou continuidade, e não uma explicação direta.

Considerações Finais:

Compreender o uso das reticências é fundamental para a interpretação correta de textos, especialmente em diálogos, pois elas podem alterar significativamente o sentido da fala. Além disso, é importante analisar o contexto em que aparecem, a fim de evitar interpretações errôneas.

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Comentários

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"As reticências são usadas para indicar uma interrupção na frase, ou para prolongar uma ideia". 

Letra: D

A alternativa correta é:

B) Enfatiza uma reflexão indefinida e incerta.

As reticências em “Eu disse que era só por uns dias...” indicam que o personagem não conclui totalmente o raciocínio, deixando um tom de incerteza ou dúvida no ar. Esse recurso sugere uma reflexão inacabada ou a tentativa de evitar uma resposta definitiva, o que combina com o tom da crônica, marcada pela ironia e pela negociação inesperada da situação.

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