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Q2487168 Português
Beijos


      Esforçava-se para ser um homem moderno, mas tinha dificuldade com o protocolo. Não sabia, por exemplo, a quem beijar.

Quando via aproximar-se uma conhecida do casal, perguntava para a mulher, apreensivo, com o canto da boca:

     – Essa eu beijo?

      Nunca se lembrava. Para simplificar, começou a beijar todas. Conhecidas ou não. Quando lhe apresentavam uma mulher, em vez do aperto de mão, lhe aplicava dois beijos. “Muito prazer!”

    A quantidade era outro problema. Já tinha dominado os dois beijos, estava confortável com os dois beijos, quando a moda passou a ser três. A mulher, uma vez, observou:

        – Não sabia que você era tão amigo da Leonor.

       – Beijo todas!

       – Mas quatro beijos!

       – Me passei na conta.

       Era difícil. Às vezes ele partia para o terceiro beijo e a beijada não esperava. Ou então ela esperava e ele não dava, e quando ele voltava para o terceiro ela já recuara. O problema da vida, pensava, é que a vida não é coreografada.
 
        Aí os homens começaram a se beijar. Tudo bem. Seu lema passou a ser: se me beijarem eu beijo, mas não tomo a iniciativa. Sua vida social complicou-se. Quando chegavam numa reunião, fazia um rápido levantamento. Essa eu beijo duas vezes, essa três, esse me beija, esse não me beija, aquele já está me beijando três vezes... Quando, no seu grupo, as pessoas começavam a se cumprimentar com beijos na boca, ele se desesperou.

         Naquela noite, na volta de uma festa de casamento, a mulher comentou:

         – Você enlouqueceu?

         – Me descontrolei, pronto.

         – Você beijou todo mundo.

        – Todo mundo estava beijando todo mundo.

        – Você beijou homem na boca.
   
        – Espera aí. Foi por engano. E foi um homem só.

        – Mas logo o padre!

        Tomado de uma espécie de frenesi, depois de beijar uma fileira de conhecidos e desconhecidos, ele dobrara o padre pela cintura e o beijara longamente, como no cinema antigo.



(VERÍSSIMO, Luís Fernando. A mulher do Silva. Porto Alegre, L&PM, 1984. p. 40-1)
Luís Fernando Veríssimo é um escritor brasileiro. Famoso por suas crônicas e contos de humor é também jornalista, tradutor, roteirista de programas para televisão e músico. Levando-se em consideração as ideias evidenciadas ao longo do texto, há marcas de humor em:
Alternativas

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A questão central aborda a habilidade de interpretação de textos, com foco em identificar marcas de humor em um texto de crônica. Essas características são comuns nas obras de Luís Fernando Veríssimo, conhecidas por explorar aspectos do cotidiano de forma bem-humorada.

Para resolver a questão, é preciso compreender como o autor utiliza situações cotidianas para gerar humor, muitas vezes destacando o absurdo ou o exagero em comportamentos comuns. Isso requer do leitor a habilidade de identificar ironias, sátiras e exageros.

Alternativa correta:

B - “[...] ele dobrara o padre pela cintura e o beijara longamente, como no cinema antigo.”

Esta alternativa é a correta porque apresenta uma situação claramente exagerada e inesperada para gerar humor. O ato de dobrar um padre pela cintura e beijá-lo "longamente" remete a cenas românticas de filmes antigos, criando uma imagem cômica pela incompatibilidade com o contexto realista.

Análise das alternativas incorretas:

A - “Não sabia, por exemplo, a quem beijar.”
Embora indique uma situação potencialmente embaraçosa, essa frase por si só não carrega a mesma carga de humor evidente da alternativa correta. A situação é mais descritiva do que cômica.

C - “Já tinha dominado os dois beijos, estava confortável com os dois beijos, quando a moda passou a ser três.”
Esta frase destaca a dificuldade em acompanhar mudanças sociais, mas o humor aqui é mais sutil, relacionado ao desconforto com mudanças de costume, sem o exagero cômico da alternativa correta.

D - “Quando, no seu grupo, as pessoas começavam a se cumprimentar com beijos na boca, ele se desesperou.”
Apesar de indicar um incremento no nível de desconforto do personagem, a situação ainda não alcança o grau de humor absurdo e visual proporcionado pela alternativa correta.

Estratégias de Interpretação:

Para identificar o humor em textos, observe: exageros, situações inusitadas, ironias, e sempre se questione se a situação descrita tem um elemento inesperado que possa gerar riso.

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Comentários

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Gabarito B

A letra D transmite qual ideia ? Não teria, também, um tom de humor ?

“Quando, no seu grupo, as pessoas começavam a se cumprimentar com beijos na boca, ele se desesperou.” (10º§)

Porque a B tem um senso de humor? as outras tem mais kkk

Só da pra acertar essa se ler o texto todo.

do meio pro final, o texto vai ganhando uma parcela de humor.

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