No que diz respeito aos aspectos morfossintáticos e semântic...

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Texto V


    Quando os jornais anunciaram para o dia 1.º deste mês uma parede de açougueiros, a sensação que tive foi muito diversa da de todos os meus concidadãos. Vós ficastes aterrados; eu agradeci o acontecimento ao céu. Boa ocasião para converter esta cidade ao vegetarismo.

   Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro. Era a sorte humana; foi a minha. Não importa, o homem é carnívoro.

  Deus, ao contrário, é vegetariano. Para mim, a questão do paraíso terrestre explica-se clara e singelamente pelo vegetarismo. Deus criou o homem para os vegetais, e os vegetais para o homem.

   Enfim, chegou o dia 1.º de março; quase todos os açougues amanheceram sem carne. Chamei a família; com um discurso mostrei-lhe que a superioridade do vegetal sobre o animal era tão grande, que devíamos aproveitar a ocasião e adotar o são e fecundo princípio vegetariano. Ervas, ervas santas, puras, em que não há sangue; todas as variedades das plantas, que não berram nem esperneiam, quando lhes tiram a vida. Convenci a todos; não tivemos almoço nem jantar, mas dois banquetes. Nos outros dias a mesma cousa.

    O vegetarismo é pai dos simples. Os vegetarianos não se batem; têm horror ao sangue. Eu não me dou por apóstolo único desta grande doutrina. Creio até que os temos aqui, anteriores a mim, e, — singular aproximação! — no próprio conselho municipal. Só assim explico a nota jovial que entra em alguns debates sobre assuntos graves e gravíssimos.


Machado de Assis. Carnívoros e vegetarianosInA Semana, 1892 (com adaptações).
No que diz respeito aos aspectos morfossintáticos e semânticos do texto V, julgue (C ou E) o seguinte item. 
Em “Criaram-me a carne” (segundo período do segundo parágrafo), observa-se uma estratégia de indeterminação do sujeito que se explicitaria igualmente com a estrutura Criou-se a carne. 
Alternativas

Comentários

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1. "Criaram-me a carne"

  • Verbo na terceira pessoa do plural (forma de indeterminação do sujeito).
  • O pronome "me" indica que o falante é o destinatário ou beneficiário da ação.
  • O sentido é: "Alguém (não identificado) criou a carne para mim".

2. "Criou-se a carne"

  • Aqui, a indeterminação do sujeito ocorre pelo uso do pronome "se" apassivador, ou seja, o verbo "criar" se torna uma voz passiva sintética.
  • Nesse caso, a frase seria equivalente a "A carne foi criada".
  • Não há mais o pronome "me" (não há destinatário ou beneficiário).
  • Portanto, o sentido muda completamente, pois agora a frase se refere a um evento impessoal e passivo, em que a carne foi criada de forma geral e não para uma pessoa específica.

Dessa forma, a indeterminação do sujeito em "Criaram-me a carne" ocorre por meio do uso da terceira pessoa do plural (sujeito indeterminado), enquanto "Criou-se a carne" é uma passiva sintética (a carne é o sujeito da oração) e não expressa a ideia de destinatário ou beneficiário.

Portanto, a assertiva está errada (E), pois as duas estruturas não produzem o mesmo sentido nem a mesma forma de indeterminação.

Resposta: Errado.

"(...) uma estratégia de indeterminação do sujeito que se explicitaria igualmente"

O foco não era para ser na estratégia? Ao meu ver, a estratégia indetermina o sujeito... o sentido muda, mas a questão fecha o escopo na estratégia por si só...

"Criou-se a carne" -> A carne foi criada

Não podemos dizer que é uma forma de interminar o sujeito. Ao conseguir passar da voz passiva sintética para a voz passiva analítica, chegamos a conclusão de que o pronome SE é um pronome apassivador e a oração é transitiva direta.

Tomar cuidado com isso: a forma de interminar o sujeito é com I.I.S (índice de indeterminação do sujeito), que é utilizado em verbos intransitivos e transitivos indiretos.

Gab: Errado

Criaram-me a carne: O sujeito é indeterminado

Criou-se a carne: O sujeito é a palavra "carne", portanto, é determinado.

O "se" é partícula apassivadora, já que é possível fazer a transposição da voz passiva sintética para a analítica.

Criou-se a carne.

A carne foi criada.

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