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Q3104965 Português
Texto V


    Quando os jornais anunciaram para o dia 1.º deste mês uma parede de açougueiros, a sensação que tive foi muito diversa da de todos os meus concidadãos. Vós ficastes aterrados; eu agradeci o acontecimento ao céu. Boa ocasião para converter esta cidade ao vegetarismo.

   Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro. Era a sorte humana; foi a minha. Não importa, o homem é carnívoro.

  Deus, ao contrário, é vegetariano. Para mim, a questão do paraíso terrestre explica-se clara e singelamente pelo vegetarismo. Deus criou o homem para os vegetais, e os vegetais para o homem.

   Enfim, chegou o dia 1.º de março; quase todos os açougues amanheceram sem carne. Chamei a família; com um discurso mostrei-lhe que a superioridade do vegetal sobre o animal era tão grande, que devíamos aproveitar a ocasião e adotar o são e fecundo princípio vegetariano. Ervas, ervas santas, puras, em que não há sangue; todas as variedades das plantas, que não berram nem esperneiam, quando lhes tiram a vida. Convenci a todos; não tivemos almoço nem jantar, mas dois banquetes. Nos outros dias a mesma cousa.

    O vegetarismo é pai dos simples. Os vegetarianos não se batem; têm horror ao sangue. Eu não me dou por apóstolo único desta grande doutrina. Creio até que os temos aqui, anteriores a mim, e, — singular aproximação! — no próprio conselho municipal. Só assim explico a nota jovial que entra em alguns debates sobre assuntos graves e gravíssimos.


Machado de Assis. Carnívoros e vegetarianosInA Semana, 1892 (com adaptações).

Considerando as ideias e os aspectos linguísticos do texto V, julgue (C ou E) o item subsequente.



No texto, percebe-se a intenção do narrador em apresentar uma experiência traumática com a alimentação na infância, algo que seria determinado pela sorte, o destino do ser humano. 

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Comentários

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Alguém poderia, por favor, indicar onde o texto explicita que a experiência vivida pelo autor foi traumática?

Trecho em que podemos perceber que foi uma experiência traumática, e pautada na sorte/destino: "Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei o meu código de princípios, incluí nele o vegetarismo; mas era tarde para a execução. Fiquei carnívoro. Era a sorte humana; foi a minha. Não importa, o homem é"

questão errada, nada haver. Primeiro que o narrador não cita nenhuma experiência traumática, segundo, não menciona nada de infância. Apenas menciona ''Quando cheguei ao uso da razão'' isso não relacionada nada com passado de infância.

Odeio as questões de interpretação de texto da cebraspe, o examinador inventa algo na cabeça dele e diz que está certo.

Certo.

No texto, o narrador apresenta uma visão irônica sobre a sua experiência com a alimentação na infância, apontando que foi educado a ser carnívoro, mas, ao alcançar a maturidade e formular seus princípios, decidiu-se pelo vegetarianismo. No entanto, ele reconhece que já era "tarde para a execução" dessa mudança, atribuindo essa condição à "sorte humana", que pode ser interpretada como algo inevitável, ligado ao destino. A ideia de "experiência traumática" não é explícita, mas pode ser percebida no sentido de frustração ou impotência diante de um hábito consolidado que ele gostaria de ter mudado.

Fonte IA

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