Leia o texto a seguir.Escondeu a sua mal-educada e natural i...
Leia o texto a seguir.
Escondeu a sua mal-educada e natural intuição pelo que é grande, ou belo, ou arrojado, e fingiu ligar interesse ao que ele fazia, ao que ele dizia, ao que ele ganhava, ao que ele pensava e ao que ele conseguia com paciência na sua vida estreita de negociante rotineiro; mas, de repente, zás! faltou-lhe o equilíbrio e a mísera escorregou, caindo nos braços de um boêmio de talento, libertino e poeta, jogador e capoeira. O marido não deu logo pela coisa, mas começou a estranhar a mulher, a desconfiar dela e a espreitá-la, até que um belo dia, seguindo-a na rua sem ser visto, o desgraçado teve a dura certeza de que era traído pela esposa, não mais com o poeta libertino, mas com um artista dramático que muitas vezes lhe arrancara, a ele, sinceras lágrimas de comoção, declamando no teatro em honra da moral triunfante e estigmatizando o adultério com a retórica mais veemente e indignada.
AZEVEDO, Aluísio. O cortiço. São Paulo: Ática, 1997.
O uso da expressão de realce “até que” juntamente com o construto “um belo dia” ajuda a alertar o leitor de que