ÉTICA E POLÍTICA
Publicado em www.sabedoriapolitica.com.br, por Alexsandro
M. Medeiros (em abr. 2016, trecho com adaptações).
Uma marca característica da ética na Antiguidade é sua
indissociabilidade com a política. Desde Platão e seu
discípulo Aristóteles, que a ideia de constituição da polis é
perpassada pelo princípio de que a cidade deve ser dirigida
por governantes sábios, justos e virtuosos.
É de Aristóteles, por exemplo, a afirmação de que o homem é
um animal político – zoon politikon. “Trata-se de um homem
‘essencialmente destinado à vida em comum na polis e
somente aí se realiza como ser racional. Ele é um zoon
politikón por ser exatamente um zoon logikón, sendo a vida
ética e a vida política artes de viver segundo a razão’” (LIMA
VAZ, 2004, p. 38-39 apud PANSARELLI, 2009, p. 13).
E Hélcio Corrêa afirma que na polis grega o cidadão só é
reconhecido como tal a partir de sua inserção na
comunidade política e a razão prática que norteia a ação do
cidadão grego está intimamente ligada ao ethos “[...]
entendido este como um conjunto de tradições, costumes e
valores próprios da vida na polis” (2011, p. 77) e, no caso de
Aristóteles, “[...] as noções de ética e política se completam
reciprocamente na teoria da justiça” (2011, p. 77).
Com efeito, na polis grega, tanto o estudo da ética quanto da
constituição da polis (da política) lançam as bases para o
comportamento justo do indivíduo e do cidadão. Platão
(1993), inclusive, compara a ideia de justiça, tanto no
indivíduo quanto na sociedade, como sendo a harmonia
entre suas partes.
Essa dupla perspectiva aparece já no início da obra A
República de Platão, a partir do Livro II quando este afirma
que o homem justo em nada diferirá da cidade justa e será
semelhante a ela (435b). Para Del Vecchio (1925, p. 14)
aparecem aí fundidas a norma moral e jurídica, a política e a
ética, inclusive a psicologia, ou seja, a vida interior do
indivíduo e as relações sociais.