Questões de Concurso
Sobre orações subordinadas substantivas: subjetivas, objetivas diretas, objetivas indiretas... em português
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Texto 3
Falta de conscientização
(19/8/2015) Especialistas apontam a falta de conscientização da população como um dos principais limitadores para o aumento da doação de sangue no Brasil. Eles defendem que campanhas de incentivo à doação sejam feitas desde os primeiros anos de vida e que o assunto seja discutido nas escolas para reverter o atual cenário. “O Brasil não se prepara para captar o doador desde criança. Sem essa política, não construímos o doador do futuro. É preciso formarmos doadores com responsabilidade social real”, opina Yêda Maia de Albuquerque, presidente do Hemope (Fundação de Hematologia e Hemoterapia de Pernambuco), o principal do nordeste brasileiro.
Yêda queixa-se da falta de doadores voluntários, ou seja, aqueles que doam frequentemente sem se importar com quem vai receber o sangue. “Tenho muita doação de reposição (pessoas que doam para parentes e familiares em caso de urgência), o que não é ideal. Já o doador voluntário aumenta a qualidade do produto que a gente oferece, pois conseguimos monitorá-lo”, acrescenta.
Para Tadeu, da Fundação Hemocentro de Ribeirão Preto, o entendimento de que a doação de sangue seja um ato “social e contínuo” ainda não está totalmente presente na mentalidade do brasileiro. “É preciso um esforço educacional em escolas e por meio de campanhas públicas para garantir que as pessoas entendam a necessidade e se disponham a doar sangue regularmente”.
Além disso, de acordo com os especialistas, muitas pessoas ainda buscam doar sangue com o intuito de “obter vantagens”. “Tem gente que vem aqui com o simples objetivo de ganhar o dia de folga — previsto em lei. Ou mesmo para fazer um exame laboratorial e confirmar se tem alguma doença, como o HIV (vírus que transmite a Aids)”, admite Joselito Brandão, diretor médico do Instituto HOC de Hemoterapia, ligado ao Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo.
BARRUCHO, Luís Guilherme. Disponível em: <http://www.bbc.com
portuguese/noticias/2015/08/150812_sangue_doacoes_brasil_lgb>.
Acesso em: 20 dez. 2016 (fragmento), com adaptações.
São só contas de vidro
Os índios ficaram deslumbrados com as contas de vidro que os portugueses lhes davam. Por quê? Por causa da beleza dessas contas de vidro? Pouco provável. Para encontrar coisas belas, tudo o que os nativos tinham de fazer era olhar ao redor: as árvores, os pássaros, as flores. Mas as contas de vidro representavam duas coisas. Em primeiro lugar, eram novidade, coisa desconhecida por ali. Em segundo lugar, eram novidade, de uma tecnologia que os índios não dominavam e que, por isso, admiravam. Mais de cinco séculos se passaram e continuamos dominados pela mesma reverência à tecnologia. Exemplo: o automóvel tem absoluta prioridade em relação aos pedestres, mesmo em situações em que estes são vários e em que o veículo transporta uma única pessoa. Muitos brasileiros ficam assombrados ao saber que em Brasília os motoristas respeitam a faixa de segurança. Em outras cidades, faixa de segurança é mero detalhe, pouco importante diante da potência que é o automóvel. Isso também explica a quantidade de acidentes de trânsito que temos; a sensação de poder de que goza o motorista muitas vezes perturba sua capacidade de discernimento.
O verdadeiro progresso traz junto consigo os mecanismos de controle para esses excessos. Na Europa e nos Estados Unidos, os motoristas, em geral (claro que há numerosas exceções), dirigem com cautela, pela simples razão de que podem responder no tribunal por qualquer problema, até mesmo psicológico, que venham a causar a outras pessoas. A noção de espaço público lá está muito presente. No Brasil é diferente. Se o espaço é público, isso não significa que é de todos, que todos têm de cuidar dele; não, se o espaço é público, ele não é de ninguém. Nos cinemas brasileiros, celulares tocam com frequência e às vezes seus proprietários mantêm longas conversas, em voz alta, durante a exibição do filme. Os outros espectadores que se lixem. Existe aí um motivo adicional, além do desrespeito ao local coletivo. O telefone, no Brasil, ainda guarda a aura de um passado em que era privilégio de poucos. Conseguir uma linha era missão quase impossível. Quem tinha telefone tinha poder, e esta imagem, de certo modo, persiste. Infelizmente, porque poucos meios de comunicação são tão invasivos. Cartas e e-mails ficam pacientemente à nossa espera. O telefone, não. O telefone soa insistentemente, e temos de atender, não importa o que estejamos fazendo no momento – almoçando, tomando banho, fazendo amor. E quem liga também não dá bola para esses detalhes. A elementar pergunta – “Você pode falar? ” – raramente é feita. Ligação telefônica desloca para um segundo plano qualquer outra coisa. Digamos que você esteja sendo atendido por um funcionário no banco. Se tocar o telefone, você e todos os outros que estão esperando terão de se conformar: o funcionário atenderá à chamada, não raro longa.
O celular é ótima coisa. Pessoas que, por falta de telefone, ficavam em verdadeiro estado de marginalização social, agora podem se comunicar facilmente. Existe hoje uma verdadeira cultura do celular, mas ela, infelizmente, ainda não inclui a noção de respeito ao outro. Chegaremos lá, claro, se não mediante leis, como fazem os países mais adiantados, então pela evolução natural da arte do convívio. As pessoas aprendem. E um dia descobrem que as brilhantes contas de vidro são só isto: contas de vidro.
(SCLIAR, Moacyr. Do jeito que nós vivemos. Belo Horizonte: Ed. Leitura, 2007.)
Leia o texto abaixo para a questão.
Meninas negras ‘vão se sentir representadas’, diz nova Miss Brasil
A nova Miss Brasil disse acreditar que sua vitória, ocorrida no sábado (1º), em São Paulo, vai
contribuir para aceitação de outras jovens. Segunda negra a vencer o concurso (a primeira foi a
gaúcha Deise Nunes, em 1986), Raissa Santana afirmou, em entrevista ao G1, que não se achava
bonita na escola.
“Eu acredito que outras meninas vão se sentir representadas. Você olhava para concursos, para a TV, e não encontrava mulheres negras”, disse a paranaense de 21 anos. “Agora você pode ver uma Miss negra, achar que ela é linda. Estamos mobilizando e incentivando as meninas a se aceitarem.” Nascida na Bahia, Raissa se mudou bem nova para o Paraná. Durante a adolescência, ela garante que passou por “uma fase de aceitação”. “Eu não me achava bonita na escola.” A jovem participou do primeiro concurso de beleza aos 16 anos. Na sequência, entrou em disputas de miss municipais, estaduais até chegar ao nacional e vencer.
“Eu me achei bonita independente do que as pessoas falavam, eu me aceitei. E eu quero ajudar as outras meninas que passam por isso nas escolas, no bairro, de não se achar bonita por causa do cabelo, do nariz, da boca. A gente é negro e tem o traço negro. Precisamos ensinar essas meninas a se aceitarem. Eu passei por isso e sei que não é fácil”, comentou a paranaense.
Embora honrada com a conquista, Raissa diz representar mais que a beleza negra. “Eu estou representando a beleza em si. Eu acredito que a beleza é a beleza. Ser a segunda negra depois de um jejum de 30 anos, um jejum muito grande, me deixa honrada. Estou muito contente com o apoio que eu estou tendo”.
Com a mudança do perfil de Miss, Raissa define o papel que ela exerce. “Eu acredito que a Miss é um exemplo. Ela está ali para formar opinião, divulgar seu país, sua cultura, o seu povo da melhor forma possível”.
Fonte: GONÇALVES, Gabriela. Disponível em: <http://g1.globo.com/sao-paulo/noticia/2016/10/meninas-negras-vao-se-sentir-representadas-diz-nova-miss-brasil.html>.
Leia este trecho.
[1] Antes, tínhamos os velhos filmes em preto-e-branco, fora de foco, as fotos amareladas, [2] que nos davam a sensação [3] de que o passado era precário [4] e o futuro seria luminoso.
Considere a classificação sintática das orações a seguir.
I. [1] é oração principal de [2].
II. [2] é oração subordinada adjetiva explicativa de [1].
III. [3] é oração subordinada substantiva completiva nominal de [2].
IV. [4] é oração coordenada sindética aditiva em relação a [3].
Estão CORRETAS as afirmativas
Para responder à questão, leia a tirinha a
seguir.
No trecho "[...] pensei que as consequências seriam bem
piores!", existe uma oração __________.
Assinale a alternativa que complete, corretamente, a
lacuna acima.
Texto para as questões 6 e 7:
“Assim que Joãozinho chegou em casa, sua mãe perguntou:
- Oi, filho, como foi a aula hoje?
E o menino respondeu sem muito entusiasmo:
- Foi bem!
- Que bom! Tem certeza de que aprendeu tudo?
- Acho que não, mãe, amanhã vou ter que ir de novo.”
Em “Tem certeza de que aprendeu tudo?”, a classificação da oração sublinhada nesse período é:
Instrução: As questões de números 01 a 10 referem-se ao texto abaixo. Os destaques ao longo do texto estão citados nas questões.
Psicologia da Internet: ................ nos tornamos outras pessoas na vida digital.
01 Há cerca de duas décadas foi criada a expressão “Psicologia da Internet” para explicar a
02 razão pela qual o comportamento das pessoas se altera tanto dentro dos ambientes virtuais.
03 Qualquer um que já navegou na web percebeu alguma modificação, ainda que mais leve, em sua
04 conduta ou ação. Por ser um espaço muito atípico e diferente de tudo que já experimentamos na
05 vida concreta, descobriu-se que a realidade paralela exerce um tipo de “dinamização” da
06 personalidade, o que coloca as pessoas em inclinação para atitudes de maior risco e de
07 descontrole calculado, se comparadas ao que se vive no nosso dia-a-dia.
08 A respeito desse fenômeno, criou-se um termo para melhor definir tais alterações
09 comportamentais: “efeito de ________ online”, explicita, portanto, a variação de padrões.
10 Pesquisas demonstraram que essas alternâncias da vida off-line para a vida online se baseiam nas
11 seguintes crenças:
12 (A) “Você não sabe quem eu sou e não pode me ver”: à medida que as pessoas navegam na
13 internet, obviamente que não podem ser “vistas”, no sentido literal da palavra – diferentemente
14 de como ocorre no mundo concreto -, conferindo então aos internautas a falsa percepção de que
15 eles estão anônimos e, por esta razão, não há limites ou regras associadas ao comportamento
16 online. Esse fato também é descrito na literatura psicológica como “desindividualização”, ou seja,
17 um estado de _________ da identidade real e que favorece o aparecimento de maior grau de
18 insubordinação, agressividade e sexualidade exacerbada, se comparado ao que ocorre na vida
19 concreta.
20 (B) “Até logo” ou “até mais”: a internet, querendo ou não, uma vez que permite aos seus
21 usuários escaparem facilmente das situações mais embaraçosas, leva-os a correrem mais riscos e
22 tolerarem melhor as situações de ameaça. Como não existe uma consequência imediata dessas
23 ações virtuais (na verdade “existe” uma consequência, todavia, ela é mais demorada para que os
24 resultados apareçam), as pessoas então se tornam mais flexíveis a respeito das transgressões.
25 (C) “É apenas um jogo”: esta ________ dá ao usuário a ilusão de que o mundo online opera,
26 na verdade, em condição de fantasia, e que ninguém, de fato, seria prejudicado pelas “aventuras”
27 realizadas no mundo digital. Assim, a linha divisória entre a ficção e a realidade torna-se
28 facilmente mais turva, uma vez que existem centenas de atividades que, na verdade, “não
29 existem” na realidade concreta.
30 (D) “Somos todos amigos”: cria a ilusão de que, na vida paralela da internet, somos todos
31 iguais ou amigos, uns com os outros e que, portanto, as regras que determinam as relações
32 adequadas entre os diferentes grupos (por exemplo, crianças, adolescentes e adultos) existentes
33 no mundo real podem ser simplesmente desconsideradas. Este princípio também tem o poder de
34 diluir as hierarquias existentes entre diferentes indivíduos na sociedade, favorecendo aos
35 comportamentos de maior desrespeito e falta de cuidado interpessoal que tanto se observa nas
36 redes sociais e nas comunicações entre funcionários de uma empresa.
37 Portanto, esse efeito descontrói os ambientes formais e mais rígidos da realidade concreta
38 para liberar o indivíduo ao trânsito nos espaços altamente permissivos, tornando as pessoas mais
39 condescendentes e altamente plásticas em relação às transgressões. Vamos lembrar que todo
40 esse processo já tem um nome e se chama “personalidade eletrônica” (e-personality).
41 Imagine então, as crianças e jovens ainda em processo de formação, o que o ambiente
42 virtual poderia fazer com a consolidação de sua personalidade (ainda) em definição? No final das
43 contas, pensam muitos pais desavisados: “é apenas videogame” ou, ainda, “eles só estão usando
44 uma rede social”, que problema haveria com isso? No passado não muito distante, o
45 desassossego familiar vinha das amizades inadequadas, hoje deriva do próprio indivíduo em sua
46 relação consigo mesmo no ambiente virtual.
47 Para se pensar, não acha?
(Fonte: http://cristianonabuco.blogosfera.uol.com.br/ — texto adaptado)
Analise as seguintes assertivas a respeito do emprego do ‘que’ no texto:
I. O ‘que’ da linha 05 classifica-se como conjunção integrante e introduz uma oração subordinada substantiva objetiva indireta.
II. O ‘que’ da linha 06 classifica-se como uma conjunção integrante e introduz uma oração subordinada substantiva objetiva direta.
III. O ‘que’ da linha 14 classifica-se como uma conjunção integrante e introduz uma oração subordinada substantiva completiva nominal.
IV. O ‘que’ da linha 28 (segunda ocorrência) e o da linha 31 (segunda ocorrência) são ambos pronomes relativos e introduzem uma oração subordinada adjetiva.
Quais estão corretas?
" Nunca esquecerei aquela noite..."
A noite, de Elie Wiesel, é um dos mais
populares relatos da barbárie nazista
HELIO GUROVITZ
10/07/2016 - 10h00 - Atualizado 10/07/2016 10h00
Diante dos limites da linguagem para lidar com o horror, vários escritores sobreviventes do nazismo escolheram o suicídio. O poeta Paul Célan se lançou no Rio Sena. O psicólogo Bruno Bettelheim se asfixiou com um saco plástico. O escritor Primo Levi morreu ao cair – não por acidente, segundo a polícia – da escadaria de seu prédio em Turim. Elie Wiesel não. Morreu de causas naturais aos 87 anos, na semana passada. Mas não foi indiferente ao tormento. Consumido pela culpa de não ter salvado o pai no campo de Buchenwald, ficou anos em silêncio. Foi o escritor francês François Mauriac quem o convenceu a escrever. “Aquele olhar, como de um Lázaro levantado dos mortos, mas ainda prisioneiro nos confins sombrios por onde vagara, tropeçando entre os cadáveres da vergonha”, escreveu Mauriac sobre o primeiro encontro com Wiesel. “E eu, que acredito que Deus é amor, que resposta poderia dar ao jovem questionador, cujos olhos escuros ainda traziam o reflexo daquela tristeza angélica (…)?” Depois da conversa com Mauriac, Wiesel escreveu, compulsivamente, algo como 800 páginas em iídiche, idioma materno seu e da maioria dos judeus exterminados. O livro resultante, Un di velt hot geshvign (E o mundo silenciou), não saiu na íntegra. Com uma fração do tamanho original, foi publicado em francês em 1958, sob o título La nuit (A noite).
A noite, de Elie Wiesel é o livro da semana
Entre as quase 60 obras que Wiesel produziu, A noite é a mais conhecida. Tornou-se um dos mais populares relatos da barbárie nazista, ao lado do Diário de Anne Frank e de É isso um homem?, de Primo Levi. Não fez sucesso no lançamento, nem mesmo depois de traduzido para o inglês, em 1960. Foi conquistando o público nos anos 1960 e 1970. Em 2006, voltou à lista de mais vendidos, escolhido pelo clube do livro da apresentadora Oprah Winfrey. A noite foi escrito com alta carga de sentimento – mas não é sentimental. Muito menos piegas. Não tem um olhar religioso ou vingativo. É tão somente um testemunho e, por isso mesmo, mais contundente. Narra o encontro de Wiesel, aos 15 anos, com o mal na forma mais absoluta. Do momento em que sua família é arrancada de casa até o instante em que, libertado de Buchenwald, ele enfim olha no espelho pela primeira vez em meses. “Das profundezas do espelho, um cadáver olhou de volta para mim”, diz. “O olhar nos seus olhos, enquanto olhavam os meus, nunca me deixou.”
Dos quatro filhos da família Wiesel, Eliezer era o único menino. Na aldeia judaica de Sighet, passa seu tempo entre estudos rabínicos e as conversas com o zelador da sinagoga, que lhe dá acesso ao estudo da cabala, então proibido a quem tivesse menos de 30 anos. O zelador some, levado pelos nazistas. Por milagre, escapa dos campos e volta à aldeia, onde relata o extermínio. Ninguém acredita nele. Pensam que está louco. Pouco depois, os alemães segregam os judeus em dois guetos. A família Wiesel embarca então no trem da morte. Ao chegar ao complexo de Auschwitz Birkenau, na Polônia ocupada, a mãe e a irmã de 7 anos são separadas. As duas vão direto para as câmaras de gás (outras duas irmãs se salvariam). Pai e filho escapam, na seleção comandada pelo facínora Josef Mengele. São enviados ao campo de trabalho de Buna, onde sobrevivem a uma rotina de fome, tortura, doença e escravidão. Com a aproximação das tropas soviéticas, são levados numa marcha forçada de centenas de quilômetros. A maioria morre de exaustão. Na chegada a Buchenwald, o pai de Wiesel está doente, à beira da morte. O filho faz de tudo para tentar acudi-lo. Também exausto, acaba por largá-lo. Na noite fatídica, 29 de janeiro de 1945, Shlomo Wiesel é levado ao forno crematório.
Dez anos se passariam até que Elie entendesse a única coisa que poderia dar sentido a sua vida depois: prestar testemunho; manter viva a memória. Silêncio e indiferença diante do mal, dizia, são um pecado maior. Sua voz se tornou, desde então, “a consciência da humanidade” e se fez ouvir por toda parte onde os mesmos crimes voltavam a ser cometidos – da Bósnia ao Camboja, de Ruanda a Darfur. Era a mesma voz daquele menino que, diante do mal absoluto, soube encontrar as palavras mais belas e pungentes: “Nunca esquecerei aquela noite, a primeira noite no campo, que transformou minha vida numa longa noite, sete vezes maldita e sete vezes selada. Nunca esquecerei aquela fumaça. Nunca esquecerei os pequenos rostos das crianças, cujos corpos vi tornados em coroas de fumaça sob um céu azul em silêncio. Nunca esquecerei aquelas chamas que consumiram minha fé para sempre. Nunca esquecerei o silêncio noturno que me despojou, por toda a eternidade, do desejo de viver. Nunca esquecerei aqueles momentos que assassinaram meu Deus e minh’alma e transformaram meus sonhos em pó. Nunca esquecerei isso, mesmo que seja condenado a viver tanto quanto o próprio Deus. Nunca”.
Adaptado:
http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/heliogurovitz/noticia/2016/07/nunca-esquecerei-aquela-noite.html, acesso em
10 de jul, de 2016.
Considere o período abaixo e marque a alternativa correta quanto à classificação da oração sublinhada:
Nunca esquecerei aquelas chamas que consumiram minha fé para sempre.
A classificação da oração subordinada substantiva abaixo é:
É necessário que você apareça.
Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).
Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado; proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde; só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem. Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel de Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
Sim, adiamos por força de um incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
O brasileiro adia; logo existe.
A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e nossa terra. Entre endereços de embaixadores e consulados, estatísticas, indicações culinárias o autor intercalou o seguinte tópico:
- Hier: ontem
- Aujourd’hui: hoje
- Demain: amanhã