A palavra aplacar em “uma virgem quase foi sacrificada por ...

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Q743595 Português

                                                          TEXTO 2:

                                                   Coisas da Magia

   O fascínio que os cometas exercem decorre certamente de sua forma inusitada, de suas aparições rápidas e de suas prolongadas ausências. Um astro, que arrasta atrás de si uma cauda luminosa, surge voando em direção ao Sol e desaparece do céu para tornar a aparecer anos mais tarde só poderia fascinar a mente humana. Não é de admirar ter sido a cauda a primeira parte do cometa a merecer atenção. O próprio nome cometa, que deriva do grego, quer dizer “estrela de cabelo”, uma evidente associação com a cauda; e as palavras chinesa e japonesa para cometa significam “estrela de vassoura” — de novo a alusão à cauda. (Talvez seja essa origem, aliás, a responsável pela confusão que a certa altura se fez entre cauda e cabeleira, o invólucro do núcleo do cometa.)

   Assim também as ausências, mesmo curtas, causaram perplexidade entre os antigos observadores, gerando não só polêmicas, mas explicações que hoje fazem rir. Em 1680, por exemplo, Isaac Newton avistou o cometa que tomou seu nome. O Newton sumiu em novembro para reaparecer em meados de dezembro. E foi uma luta para o astrônomo inglês convencer os seus contemporâneos de que o cometa simplesmente dera a volta por trás do Sol. Para eles, um primeiro cometa se chocara contra o astro e posteriormente outro surgira do lado oposto.

   Nem o século XX escapou a explicações estapafúrdias. Antes e durante a visita do cometa Halley, em 1910, multiplicaram-se reações que variaram do pitoresco ao dramático. Toda uma aldeia húngara, convencida de que o cometa se chocaria com a Terra, fazendo-a em pedaços, acendeu uma grande fogueira na praça e se atirou a uma orgia místico-gastronômica. Ao som das orações e imprecações, todo o estoque de comida e de bebida foi sendo consumido até que a ressaca e o pasmo se instalaram. Além da colisão, anunciada por astrólogos, temia-se o envenenamento por gases da cauda do cometa (a qual, conforme as previsões, a Terra cruzaria a 21 de maio). Muita gente vedou portas e janelas e se trancou a sete chaves, e não faltou quem amealhasse gordas somas vendendo máscaras contra gases. Segundo um boato jamais confirmado ou desmentido, no estado de Oklahoma, nos Estados Unidos, uma virgem quase foi sacrificada por religiosos fanáticos ansiosos para aplacar o cometa; teria sido salva por policiais, no bom estilo dos romances de aventuras. Em vários lugares houve casos de suicídio.

   Claro, não ocorreu colisão nem envenenamento. (a possibilidade de colisão existe, mas, segundo os astrônomos, é de apenas uma em um milhão). E cruzar os gases na cauda de um cometa não é mais perigoso do que se expor à poluição de uma área industrial durante algumas horas. Mas o Halley, portador de uma antiga fama como assassino de monarcas, em 1910 a confirmou: faleceu Eduardo VII da Grã-Bretanha e Irlanda. Para muita gente, foi o cometa que matou o rei, embora ele já estivesse doente e até pensando em abdicar. 

   Por um lado, como se vê, os homens buscam os cometas como um deslumbrante espetáculo celeste. Por outro, atribuem-lhes mortes e todo tipo de desastres. Até o dilúvio universal já foi atribuído a um deles. No ano 11 a.C., a aparição de um cometa teria anunciado a morte de Marco Agripa, poderoso general e estadista romano. No ano 48 a.C., quando César e Pompeu entraram em guerra, Plínio o Velho, famoso naturalista romano, pontificou: o conflito seria “um exemplo dos terríveis efeitos que se seguem à aparição de um cometa”. No ano 60 de nossa era, Nero, verificando que os deuses se punham a enviar cometas contra Roma, e temendo que os patrícios romanos o sacrificassem a fim de apaziguá- los, houve por bem tomar a iniciativa; ato contínuo, vários patrícios foram passados pelo fio da espada. Atribuíram-se igualmente a cometas a destruição de Jerusalém, no ano 66; a morte do imperador romano Macrino, em 218; a derrota de Átila, rei dos hunos, em 451; e a morte de Haroldo II, rei dos anglo-saxões. Haroldo II morreu em 1066, ano de visita do cometa Halley, em luta contra Guilherme I o Conquistador, duque da Normandia e depois rei da Inglaterra. Tanto a aparição do Halley quanto a conquista normanda da Inglaterra estão retratados no célebre bordado conhecido como tapeçaria de Bayeux (por ter sido trabalhado nesse famoso centro tapeceiro) e também como tapete da rainha Matilde (por ser atribuído a Matilde, esposa de Guilherme). Responsabilizados por tantas desgraças, os cometas sofreram revides. Afonso VI de Portugal entrincheirou-se numa ameia de seu palácio e recebeu o Halley a tiros de pistola.         Mas se a associação entre os cometas e a desgraça é predominante, pelo menos não é única. Giotto de Bondone, considerado o maior pintor do século XIV, viu o Halley em 1301 e, dois anos depois, o incluiu no afresco “Adoração dos magos”, do ciclo de Pádua, em que retratou a história sacra. Vem daí a confusão entre o Halley e a estrela de Belém. Na verdade, não consta que esse cometa tenha aparecido no ano do nascimento de Jesus Cristo.

(http://www.idealdicas.com/o-cometa-halley/)

Vocabulário:

Estapafúrdio – excêntrico, bizarro, singular.

Pitoresco – que diverte; recreativo.

Imprecação – pedido de favor ou graça; rogo, súplica.

Amealhar – acumular, juntar, enriquecer.

Ameia – parte alta ou superior de alguma coisa. 

A palavra aplacar em “uma virgem quase foi sacrificada por religiosos fanáticos ansiosos para aplacar o cometa” poderia ser substituída pelo seguinte sinônimo sem qualquer prejuízo do sentido original da frase: 
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