Um morcego estonteado pousou certa vez no ninho da coruja, e ali ficaria de dentro se a coruja ao
regressar não investisse contra ele.
– Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha casa, sabendo que odeio a família dos ratos?
– Achas então que sou rato? Não tenho asas e não vôo como tu? Rato, eu? Essa é boa!...
A coruja não sabia discutir e, vencida de tais razões, poupou-lhe a pele.
Dias depois, o finório morcego planta-se no casebre do gato-do-mato. O gato entra, dá com ele e chia de
cólera.
– Miserável bicho! Pois te atreves a entrar em minha toca, sabendo que detesto as aves?
– E quem te disse que sou ave? - retruca o cínico - sou muito bom bicho de pêlo, como tu, não vês?
– Mas voas!...
– Vôo de mentira, por fingimento...
– Mas tem asas!
– Asas? Que tolice! O que faz a asa são as penas e quem já viu penas em morcego? Sou animal de pêlo,
dos legítimos, e inimigo das aves como tu. Ave, eu? É boa...
O gato embasbacou, e o morcego conseguiu retirar-se dali são e salvo.
Moral da Estória:
O segredo de certos homens está nesta política do morcego. É vermelho? Tome vermelho. É branco? Viva o
branco!
(MONTEIRO LOBATO, José Bento. Fábulas. 45. ed. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 49.)
(SASSÁ. Jornal de Londrina, Londrina, 23 jul. 2010. p. 2.)
A charge de Sassá refere-se a um problema que afeta a cidade de Londrina e muitas outras cidades brasileiras:
o risco de contrair doenças transmitidas pelas pombas que vivem na região urbana. O que permite ao morcego,
da fábula, e à pomba, da charge, disfarçarem sua condição é