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Q1041413 Português
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Ai, que vergonha... 

   Sou tímida. Já nasci assim, veio de algum gene que meus pais me transmitiram, o que não deixa de ser estranho, já que sou incomparavelmente mais tímida que os dois juntos. 
   Só quem é tímido − e não me refiro aí aos falsos tímidos, aqueles que têm uma timidezinha boba de vez em quando, por exemplo, ao chegar a uma festa sem conhecer ninguém − sabe a dificuldade de se dizer “não” a um amigo ou de cobrar alguma coisa de alguém. E só nós tímidos sabemos também o quanto nos custa entrar em uma loja e experimentar uma roupa. O verdadeiro tímido tem vergonha de tudo e de todos. 
   Hoje em dia, depois de anos de teatro e terapia, melhorei demais. Muita gente me afronta e diz que não sou tímida nada, que eu nunca subiria em um palco se minha timidez fosse de verdade. Eu digo que uma coisa não tem nada a ver com a outra. O palco possui uma parede invisível, e quando subo nele é como se não visse ninguém. Além disso, quando as pessoas vão a alguma das minhas apresentações, é esperado que eu cante. Muito diferente é ir a um churrasco e me pedirem para tocar violão. Morro de vergonha. As pessoas param de conversar e ficam me olhando, na expectativa. A minha voz nem sai direito, tamanha a vontade de desaparecer do recinto. 
   Os psicólogos dizem que timidez, na verdade, é orgulho. O tímido seria alguém com tal mania de perfeição que não se dá o direito de errar. Não concordo. Eu digo que o tímido é alguém que tem vergonha de errar, de acertar, de ser julgado ignorante, de ser considerado inteligente, de ser taxado de prepotente... 
  Eu tenho vergonha de tudo. Mas já descobri − até há bastante tempo − o antídoto da timidez. Quando gosto e quero realmente alguma coisa, vergonha nenhuma me impede. Aí eu finjo que sou uma outra pessoa, coloco uma base no rosto para disfarçar a vermelhidão e vou em frente. É assim inclusive com essas crônicas, que tenho vergonha de publicar, mas gosto demais de escrever para parar. 
(Adaptado de: PIMENTA, Paula. Disponível em: www.patio.com.br. 13/12/2006) 

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