No período “Seja pelo cruzamento, seja pela diversidade de ...
Dois casinhos
O tema da variação linguística, especialmente quando não se trata de casos marcados — bons para preconceitos — é ocasião para interessantes reflexões. É que nela há um cruzamento de fatores de natureza diversa — gramaticais e de posição social dos falantes, pelo menos. Seja pelo cruzamento, seja pela diversidade de fatores, a questão se toma mais complexa. Vale a pena tentar esclarecê-la.
Vejam o que se pôde ler no sisudo Estadão (25 nov. 1999): “Causou constrangimento entre os parlamentares as perguntas da deputada Maria Laura Carneiro à ex-namorada de Fernandinho Beira-Mar, Alda Inês, na CPI do Narcotráfico”.
Se essa construção (com concordância verbal “errada”) ocorresse em conversa ou entrevista, por mais formal que fosse, não causaria espanto. Talvez nem fosse percebida. Aparecendo em texto escrito, e no Estadão, um jornal de linguagem conservadora, fornece elementos para reflexões.
A frase começa com o verbo, eis a questão. Esta estrutura é o fator mais importante para explicar a ausência de concordância (o sujeito é “as perguntas da deputada”). Quem escreveu este texto não escreveria “As perguntas da deputada causou constrangimento”. Mas, invertida a ordem sujeito-verbo, a relação sujeito-predicado se perde para o falante. Para efeito de concordância, importa que não haja nada antes do verbo, ou seja, é como se “causou” fosse um verbo impessoal. Que esteja na dita terceira pessoa do singular não é nem banal nem casual.
Este fenômeno é, de certa forma, o avesso de outro. Ocorrem cada vez mais construções do tipo “A política dessas duas cidades são melhores do que...”, em que o verbo concorda com o nome que está mais próximo (aqui, “duas cidades") e não com seu sujeito (aqui, "a política”). Esta construção é o avesso da outra porque naquela também o verbo concorda com o que está mais próximo: não concorda com nada, já que antes dele não há nada.
Alguns poderiam imaginar que assim se produz confusão de “pensamento”. Pode-se ver facilmente que não. O “pensamento” é claro, ninguém deixa de entender a frase. Há casos em que a forma (a sintaxe) não resolve tudo. Se às vezes a sintaxe não é suficiente para a clareza do que se diz, em outras ela não interfere de forma alguma na compreensão do enunciado, que parece funcionar independentemente da sintaxe.
Talvez o mais importante nessas construções seja a falta de consciência de que se está cometendo um “erro”. É como se esta sintaxe fosse padrão, como se fosse correta, segundo as exigências daquele jornal. Os sociolinguistas ensinam que, quando um “erro” não é mais percebido, então não há mais um “erro”, mas uma nova norma.
Comento brevemente um segundo caso, colhido em coluna do ótimo Tostão (FSP, 28 nov. 1999): “Se o Atlético-MG se iludir de que tem um excepcional time, por causa da vitória sobre o Cruzeiro, e não ter garra e humildade, dança como o Vasco". Para horror de muitos, Tostão não escreveu “tiver”.
Definitivamente, cada vez mais há menos pessoas percebendo que certos verbos deveriam ter um futuro do subjuntivo irregular. O que dizer de sua abolição em penas como as de Tostão?
Pode ser que seja apenas a língua mudando, sem que os falantes percebam.
(POSSENTI, Sírio. Dois casinhos. In :_______portadas línguas. 2. ed.
Curitiba: Criar, 2002. p. 51*53.)
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Comentário sobre a questão:
O enunciado apresenta um trecho que requer a identificação da relação semântica expressa em uma oração específica: “Seja pelo cruzamento, seja pela diversidade de fatores, a questão se toma mais complexa.”
Esta questão aborda a interpretação de texto, especificamente a identificação de tipos de relações semânticas dentro de uma oração. Vamos analisar cada alternativa para determinar a correta.
Alternativa A - Alternância: Esta é a alternativa correta. A frase usa a estrutura "seja... seja...", que é um típico marcador de alternância. Isso significa que a complexidade da questão pode ocorrer por um motivo ou por outro (ou ambos), mas não simultaneamente. O uso do "seja" indica opções ou alternativas possíveis.
Alternativa B - Concessão: A concessão é caracterizada por uma ideia de oposição ou contraste que não impede o que está na oração principal. Expressões como "embora", "apesar de" são típicas dessa relação. Não é o caso neste trecho.
Alternativa C - Causa: A causa indica uma relação de causa e efeito, geralmente introduzida por conjunções como "porque", "visto que". A estrutura apresentada no enunciado não expressa uma causa direta, mas sim alternativas.
Alternativa D - Explicação: A explicação é usada para esclarecer algo que foi dito anteriormente, comumente através de "pois", "porque". Novamente, a estrutura "seja... seja..." não tem função explicativa.
Alternativa E - Conformidade: A conformidade indica que algo está de acordo com outro fato, geralmente introduzido por "conforme", "segundo". A oração analisada não expressa conformidade.
Com isso, fica claro que a alternativa correta é a A - Alternância, pois a estrutura "seja... seja..." é um indicativo clássico de opções ou variações, reforçando a ideia de escolhas possíveis.
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Comentários
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GABARITO: LETRA A
? ?Seja pelo cruzamento, seja pela diversidade de fatores, a questão se toma mais complexa.?
? "seja... seja" ? conjunção coordenativa alternativa, ela traz valor semântico de alternância, ação de alternar.
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FORÇA, GUERREIROS(AS)!!
"Seja por um ou Seja por outro" - esse foi o sentido da frase (ALTERNÂNCIA).
ALTERNATIVA: A
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