Com isso, a construção de teorias se torna algo mais raro, a...

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Q3290991 Português
Atenção: Considere o texto abaixo para responder à questão.

    Em O fim da teoria, Chris Anderson afirma que quantidades inimagináveis de dados (o Big Data) tornariam as teorias completamente obsoletas: "Hoje, empresas que cresceram em uma era de dados massivamente abundantes não precisam se contentar com modelos errados. Na verdade, elas não precisam mais se contentar com modelos”. A psicologia ou sociologia orientada por dados torna possível prever e controlar com precisão o comportamento humano. As teorias estão sendo substituídas por dados diretos. 
    O Big Data, na verdade, não explica nada. Apenas revela correlações entre as coisas. Mas as correlações são a forma mais primitiva de conhecimento. Nada é compreendido nas correlações. O Big Data não é capaz de explicar por que as coisas se comportam da maneira como se comportam. Não são estabelecidas conexões causais nem conceituais. 
    A teoria como narração cria uma ordem de coisas, relacionando-as umas com as outras e explicando por que elas se comportam da maneira como se comportam. Em contraste com o Big Data, ela nos oferece a forma mais elevada de conhecimento, qual seja, a compreensão. O Big Data, por outro lado, é totalmente aberto. 
    A teoria na forma de desfecho prende as coisas em uma estrutura conceitual e as toma, com isso, apreensíveis. O fim da teoria significa, em última instância, dizer adeus ao conceito como espírito. A inteligência artificial funciona muito bem sem o conceito. Inteligência não é espirito. Somente o espírito é capaz de uma nova ordem das coisas, de uma nova narração. A inteligência calcula. O espírito, todavia, narra. Em um mundo saturado de dados e informações, a capacidade de narrar se atrofia. Com isso, a construção de teorias se torna algo mais raro, até mesmo arriscado. 
    A inteligência artificial não pode pensar porque não pode se apaixonar, porque não é capaz de uma narração apaixonada. Os diálogos de Platão já deixam claro que a filosofia é uma narração. A filosofia como ciência renega seu caráter narrativo originário. Ela se priva de sua linguagem. Emudece. Assim, a atual crise da narração também está se apoderando da filosofia e lhe pondo um fim. No instante em que a filosofia reivindica ser uma ciência, ser uma ciência exata, seu declínio começa. 

(HAN, Byung-Chul. A crise da narração. Trad. Daniel Guilhermino. Petrópolis: Editora Vozes. edição digital, 2023) 
Com isso, a construção de teorias se torna algo mais raro, até mesmo arriscado.

O pronome sublinhado refere-se, no contexto, 
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[GABARITO: LETRA C]

"ao decaimento da capacidade de narrar."

O pronome "[isso]" retoma a ideia imediatamente anterior no texto:

4º Paragráfo: [...] Em um mundo saturado de dados e informações, a capacidade de narrar se atrofia. Com isso, a construção de teorias se torna algo mais raro, até mesmo arriscado. 

Ou seja, "[isso]" refere-se ao fenômeno descrito na frase anterior: a atrofia da capacidade de narrar devido ao excesso de dados e à primazia do cálculo (inteligência artificial) sobre a narrativa (espírito humano).

  • A → A "teoria na forma de desfecho" é mencionada antes no texto, mas não é o referente direto de "[isso]".
  • B → Não há menção a "teorias sem soluções" no contexto.
  • D → O texto não fala em "mau funcionamento" da IA, mas sim em sua limitação (ela calcula, mas não narra).
  • E → A IA não tem "nova capacidade de narrar"; na verdade, ela é contrastada justamente por não narrar.

Existem casos que você consegue responder sem voltar ao texto (casos gramaticais em sua maioria). Este especificamente devemos voltar por se tratar de elemento anafórico.

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