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Q642232 Português

      Um amigo meu está convencido há tempos de que uma vacina infantil tomada por seu filho provocou seu autismo. Ele insiste nessa convicção embora uma série de estudos científicos prove que não existem relações entre autismo e vacinas. Quando a dissertação original sobre um vínculo desse gênero foi recentemente desabonada como fraude, meu amigo reagiu dizendo que agora será mais difícil persuadir as pessoas sobre os perigos da vacinação. Ele não está sozinho: quase 50% dos americanos creem na correlação vacina-autismo ou sentem-se inseguros a seu respeito.

      O paradoxo vai mais além. Meu amigo garante confiar em cientistas – e nesse aspecto ele é como a maioria de seus conterrâneos. Em uma pesquisa realizada pela Fundação Nacional da Ciência dos Estados Unidos em 2008, um número maior de entrevistados expressou ter “mais confiança” em autoridades científicas que em líderes de qualquer outra instituição, exceto o exército. Em questões de políticas públicas, os americanos julgam a liderança científica mais bem informada e imparcial que as chefias de outros setores da sociedade, como o empresariado ou o governo. Por que os pacientes afirmam confiar em cientistas de modo geral, mas se distanciam deles em uma ou outra questão específica?

      Muitos culpam a má qualidade da educação científica nos Estados Unidos. O pensamento corrente é: se as crianças aprendessem mais ciências na escola saberiam valorizar a opinião científica sobre vacinas, clima, evolução e outros assuntos de cunho político. Mas esse conceito é equivocado. Pacientes dotados de maior conhecimento científico têm apenas uma propensão ligeiramente maior para confiar nos cientistas. A ciência subjacente a muitas questões políticas é altamente especializada e sua avaliação exige profundo conhecimento – um entendimento muito maior do que os alunos acumularão em aulas de ciências no ensino fundamental e médio. Uma abordagem mais direta seria esclarecer o porquê de eles tenderem a aceitar crenças imprecisas em primeiro lugar.

      Os seres humanos parecem valorizar a precisão acima de tudo. Queremos que nossas convicções sejam corretas – em conformidade com o que é realmente verdadeiro a respeito do mundo – e sabemos que a ciência é um guia confiável para isso. Entretanto, esse desejo de exatidão se choca com outros motivos; alguns deles inconscientes. Por exemplo, as pessoas têm convicções para proteger valores importantes. Quem considera a Natureza “sagrada” pode entender a modificação genética como algo moralmente errado, independentemente de sua segurança ou utilidade. Além disso, elas se atêm a crenças enraizadas em suas emoções.

      Ao conciliarmos nossos motivos racionais e irracionais para acreditar, tornamo-nos mestres em autoenganação. Como pretendemos ser seres racionais, encontramos razões para insistir em que nossas convicções são de fato verdadeiras. Uma ou duas opiniões divergentes bastam para nos convencer de que a ciência é “controversa” ou “instável”. Se as pessoas soubessem que outros motivos podem comprometer a exatidão de suas certezas, a maioria provavelmente tentaria manter-se vigilante.

      A ciência não trata de leis imutáveis, mas de explicações temporárias, que são revisadas assim que surge outra melhor. É preciso compreender que a prontidão dos cientistas para mudar suas convicções de acordo com os dados é uma fonte de grande força, não de fraqueza. A ciência pode não ser a única maneira de organizarmos e compreendermos nossas experiências; mas em termos de precisão ela é muito melhor que a religião, a política e a arte. Essa é a lição.

Willingham, Daniel T. “Confie em mim”. Scientific American Brasil. Edição 115, dezembro de 2011.

De acordo com a norma-padrão da Língua Portuguesa e levando em consideração o primeiro parágrafo do texto e as orientações da prescrição gramatical no que se refere a textos escritos, assinale a alternativa correta.
Alternativas

Gabarito comentado

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Gabarito: C

A alternativa correta é a letra C: "Em 'persuadir as pessoas sobre os perigos da vacinação', a expressão destacada pode ser substituída por 'acerca dos', sem prejuízo para a correção gramatical ou para o sentido."

Vamos analisar o porquê dessa afirmação ser verdadeira. A preposição "sobre" é sinônima de "acerca de", o que significa que ambas podem ser utilizadas na frase sem alterar o seu significado. Essa substituição é válida e está de acordo com a norma culta da Língua Portuguesa, pois ambas as expressões conduzem à ideia de tratar de um assunto específico, que neste caso são os perigos da vacinação.

Agora, vamos justificar por que as demais alternativas estão incorretas:

A - Os pronomes destacados referem-se, respectivamente, a "um amigo meu", "filho" e "vacinação"? Essa afirmação é falsa. O pronome "seu" refere-se a "um amigo meu" em todas as ocorrências, ou seja, o 'seu filho' é o filho do amigo, e o 'seu autismo' é a convicção do amigo sobre a questão. Portanto, a relação apresentada na alternativa está equivocada.

B - A frase "prove que não existem relações entre autismo e vacinas" pode ser substituída por "prove não haverem relações entre autismo e vacinas"? Não, essa substituição está errada. O uso de "haverem" é incorreto no contexto. A forma correta seria "prove não haver relações", pois o verbo "haver" no sentido de existir é impessoal e não admite plural.

D - Os dois-pontos utilizados no último período introduzem uma ideia que pode ser iniciada pela expressão "por isso"? Essa afirmação é falsa. A expressão "por isso" sugere uma conclusão ou consequência, enquanto os dois-pontos introduzem uma explicação ou detalhamento da ideia anterior, que não necessariamente se alinha à ideia de consequência.

E - Se "a dissertação" fosse substituída por "várias dissertações", seria necessário passar apenas mais três palavras para o plural para que se mantivesse a correção gramatical quanto à concordância? Essa afirmação também é falsa. Para manter a concordância em "várias dissertações", outras palavras também precisariam ser alteradas para o plural, como "as" em "as dissertações". Portanto, a quantidade de palavras a serem modificadas é maior que três.

Em resumo, a alternativa C é a única que se sustenta dentro das regras da Língua Portuguesa, enquanto as demais contêm erros gramaticais ou de interpretação.

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Comentários

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Esse gabarito só pode estar errado! o verbo 'haver' no sentido de " existir" é impessoal. Alguem mais concorda comigo?

 

Correto letra C, porque a letra D ficou faltando virgulas depois do por isso para ficar certa; letra E errado pq sao 4 palavras q vao para o plural; letra B errada pq haver com sentido de existir nao vai para o plural; letra A errada pq "seu" relaciona-se com vacina infantil.

Luis, vc está correto em dizer que "haver" no sentido de "existir" é impessoal. Mas a questão pede a alternativa CORRETA, logo, a letra B não pode ser o gabarito, pois está errada por flexionar o verbo "haver".   
GABARITO: LETRA C. Espero ter ajudado.

 

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