Em “Azeite, não é meu parente!” (§1) o emprego do ponto de e...

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Q475852 Português
                                      Meter a língua onde não é chamado

    Azeite, não é meu parente! Nem todos entendem, mas a língua que se falava antigamente era tranchã, era não?

    As palavras pareciam todas usar galocha, e eu me lembro como ficava cabreiro quando aquela teteia da rua, sempre usando tank colegial, se aprochegava com a barra da anágua aparecendo, vendendo farinha, como se dizia. Só porque tinha me trocado pelo desgramado que charlava numa baratinha, ela sapecava expressões do tipo “conheceu, papudo?!", “Ora, vá lamber sabão", eu devolvia de chofre, com toda a agressividade da época, “deixa de trololó, sua sirigaita".

    A língua mexe, pra frente e pra trás, e assim como o bacana retornou guaribado para servir de elogio nos tempos modernos, pode ser que breve, na legenda de uma foto da Daniela Cicarelli, os jornais voltem a fazer como diante da Adalgisa Colombo outrora, e digam que ela tem it, que ela é linda, um chuchu. São coisas do arco da velha, vai entender?! Não é só o mistério da ossada da Dana de Teffé que nos une ao passado. Não saberemos nunca, também, quem matou o mequetrefe, a pinimba, o tomar tenência e o neca de pitibiribas, essas delícias vocabulares que enxotadas pelo bom gosto gramatical picaram a mula e foram dormitar, como ursos no inverno, numa página escondida do dicionário.

    Outro dia eu disse para as minhas filhas que o telefone estava escangalhado. Morreram de rir com esse maiô Catalina que botei na frase. Nada escangalha mais, no máximo não funciona. Me acharam, sem usar tamanho e tão cansativo polissílabo, um completo mocorongo. Como sempre, estavam certas. Eu tenho visto mulheres de botox, homens que escondem a idade, tenho visto todas as formas de burlar a passagemdo tempo,mas o que sai da boca tem data. Cuidado cinquentões com o ato falho de pedir um ferro de engomar, achar tudo chinfrim, reclamar do galalau que senta na sua frente no cinema e a mania de dizer que a fila do banco está morrinha. Esse papo, por mais que você curta música techno e endívias, denuncia de que década você veio.
    [...]
    Uma língua bem exercida é metida, jamais galinha morta. É feita de avanços e recuos, e se isso parece reclame de algum programa do canal a cabo Sexy Hot, digamos que, sim, pode ser. Língua, seja qual for, é erótica. Dá prazer brincar com ela. Uma lambida no passado envernizaria novamente palavras que estavam lá, macambúzias e abandonadas, como quizumba, alaúza e jururu, expressões da pá virada como “na maciota", “onde é que nós estamos!" e “ir para a cucuia". Certamente, por mais cara de emplastro Sabiá que tenham, elas dariam na verdade uma viagrada numa língua que tem sido sacudida apenas pelo que é acessado do cibercafé e o demorô dos manos e das minas.

    Meter a língua onde não é chamado pode ser divertido. Lembro de Oscarito passando a mão na barriga depois de botar pra dentro uma feijoada completa e dizer, todo preguiçoso e feliz, “tô comuma idiossincrasia!". Estava com o bucho cheio, empanturrado de palavras. Troque essa dieta de alface americana, de palavras transgênicas gordas, compridas e nonsenses como um paio de porco. É o banquete que eu sugiro, que anda na moda mas não vale um caracol. Caia de boca num sarrabulho com assistência na porta, umpifão de tirar uma pestana do caramba, uma car raspana batuta. Essa idiossincrasia vai fazer sentido. Se alguém, depois de receber todas essas palavras de lambuja, repetir a mamãe das antigas e, amuado, gritar “dobre a língua", não se faça de rogado-estique.

               SANTOS, Joaquim Ferreira dos.Meter a língua onde não é chamado . Jornal “O Globo", 08/09/2003, 2º Caderno. Disponível emwww.releituras.com.

Em “Azeite, não é meu parente!” (§1) o emprego do ponto de exclamação é usado para manifestar:
Alternativas

Gabarito comentado

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Vamos analisar a questão apresentada. O tema central da questão envolve o reconhecimento do uso de pontuação, especificamente o ponto de exclamação, para expressar diferentes tipos de sentimentos ou intenções no texto.

Para resolver esta questão, é necessário entender que o ponto de exclamação pode ser utilizado para indicar várias emoções e que, no contexto dado, ele está sendo usado para manifestar uma intenção irônica. Dessa forma, compreender o tom e a intenção do autor é crucial.

Alternativa Correta: C - ironia

Na frase “Azeite, não é meu parente!”, o ponto de exclamação é utilizado para expressar ironia. O autor está fazendo um comentário irônico ao usar uma expressão popular, que a princípio pode parecer agressiva ou de desdém, mas que na verdade serve para criar um efeito humorístico e mostrar uma falta de seriedade na afirmação de que "azeite" poderia ser parente de alguém.

Análise das Alternativas Incorretas:

A - admiração: O ponto de exclamação pode indicar admiração quando expressa um sentimento de respeito ou surpresa positiva. No entanto, neste caso, a frase não demonstra respeito ou valorização; portanto, não é a intenção correta.

B - surpresa: Surpresa geralmente ocorre quando algo inesperado ou espantoso acontece. O uso do ponto de exclamação aqui não sugere surpresa, mas sim um tom irônico.

D - indignação: Indignação poderia ser uma interpretação se o autor estivesse expressando raiva ou descontentamento, o que não é o caso. A frase é mais humorística do que indignada.

E - susto: Susto envolve um choque ou medo repentino, que não se aplica à frase em questão, pois ela não sugere uma reação assustada.

Portanto, ao analisar o texto e a intenção do autor, podemos concluir que a alternativa C - ironia é a escolha correta. A frase usa o ponto de exclamação para dar um tom irônico e humorístico à expressão popular.

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