“(...) adaptação de políticas públicas a partir do perfil d...

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A IDADE EM QUE VOCÊ COMEÇA A SENTIR OS SINAIS

DA VELHICE PODE DEPENDER DE ONDE VOCÊ VIVE.

Estudo aponta que há uma lacuna de 30 anos entre os países com as maiores e menores idades em que as pessoas experimentam os problemas de saúde de alguém de 65 anos.

Época - 17/03/2019


      Com quantos anos alguém começa a sentir os efeitos da idade? Talvez 60 ou 65 não possa ser considerada uma resposta global. Um estudo publicado na última semana mostra que as idades em que as pessoas sofrem os impactos de doenças e do envelhecimento diferem muito de país para país. O trabalho analisou não só a expectativa de vida média de cada país, mas a forma com a qual se está envelhecendo pelo mundo, se os anos estão sendo vividos com saúde ou associados a incapacidades.

      O estudo de pesquisadores da Universidade de Washington aponta que há uma lacuna de 30 anos entre os países com as maiores e menores idades em que as pessoas experimentam os problemas de saúde de alguém de 65. Pesquisadores descobriram que pessoas de 76 anos de idade no Japão e 46 em PapuaNova Guiné têm o mesmo nível de problemas comparados a uma pessoa de idade “média” de 65 (baseada em uma média global do estudo).

      “Essas descobertas discrepantes mostram que o aumento da expectativa de vida para idades mais avançadas pode ser uma oportunidade ou ameaça ao bem-estar geral das populações, dependendo dos problemas de saúde relacionados ao envelhecimento que a população vivencia, independentemente da idade cronológica”, afirmou Angela Y. Chang, principal autora e pós-doutoranda do Centro de Tendências e Previsões de Saúde da Universidade de Washington. “Problemas de saúde relacionados à idade podem levar à aposentadoria antecipada, força de trabalho menor e maiores gastos com saúde. Os líderes de governos e os que influenciam os sistemas de saúde precisam considerar quando as pessoas começam a sofrer os efeitos negativos do envelhecimento.

      ”Os efeitos citados pela pesquisadora incluem funções prejudicadas e perda de capacidades físicas, mentais e cognitivas resultantes das 92 condições analisadas — cinco das quais são comunicáveis e 81 não, junto a seis lesões.

      O estudo, intitulado “Medir o envelhecimento da população: uma análise do Estudo Global da Carga de Doenças 2017”, foi publicado na revista científica The Lancet Public Health e é o primeiro deste tipo, segundo Chang, cujo centro fica no Instituto de Avaliação e Métricas de Saúde da Universidade de Washington. As métricas tradicionais de envelhecimento examinam o aumento da longevidade. Esse estudo, por outro lado, explora a idade cronológica e o ritmo em que o envelhecimento contribui para a deterioração da saúde. O trabalho usou dados do estudo Global Burden of Disease (GBD) 2017. 

      Os pesquisadores mediram o que chamaram de “carga de doença relacionada à idade” (Dalys, na sigla em inglês). Segundo aponta o estudo, os países com a menor carga de doenças associadas ao envelhecimento foram Suíça, Cingapura, Coreia do Norte, Japão e Itália.  

O estudo descobriu, por exemplo, que, em 2017, em Papua-Nova Guiné, as pessoas tiveram a maior taxa mundial de problemas de saúde relacionados à idade, com mais de 500 Dalys por 1.000 adultos. O número é quatro vezes maior do que ocorreu na Suíça, com pouco mais de 100 Dalys por 1.000 adultos. 

      Nos Estados Unidos, a taxa era de 161,5 Dalys por 1.000 adultos, o que colocava o país em 53º lugar, entre a Argélia, em 52º, com 161 Dalys por 1.000 adultos, e o Irã, em 54º, com 164,8 Dalys por 1.000. 

      Usando a média global de pessoas de 65 anos como grupo de referência, Chang e outros pesquisadores também estimaram as idades em que a população em cada país experimentou a mesma taxa de carga relacionada. Eles encontraram grande variação em quão bem ou mal as pessoas envelhecem. 

      A partir disso, identificaram que os japoneses de 76 anos enfrentam a mesma carga de envelhecimento que pessoas de 46 anos em Papua-Nova Guiné, país que ficou em último lugar no ranking com 195 países e territórios. Os Estados Unidos, em que a idade foi 68,5 anos, ficaram em 54º lugar, entre o Irã (69 anos), Antígua e Barbuda (68,4 anos).

Por trás das grandes variações no padrão de envelhecimento entre os países, com discrepância quanto ao impacto das doenças e incapacidades, há muitos determinantes sociais envolvidos, como explica a geriatra Ana Cristina Canêdo Speranza, presidente da seção estadual do Rio de Janeiro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia:

      “Questões socioeconômicas, culturais e ambientais têm forte impacto na forma como um país envelhece. Desigualdades sociais e políticas públicas insuficientes impactam os países de baixa renda, onde o acesso à saúde pode ser dificultado, assim como o controle e a prevenção de doenças crônicas”, pontuou Speranza. “Em países de baixa renda, por exemplo na África, mesmo vivendo pouco em termos de longevidade, adultos experimentam uma alta carga de doenças relacionadas ao envelhecimento.”  

      Entre os países de alta renda, a diferença também pode ser grande. Com relação a isso, a médica ressalta outro aspecto que interfere em como envelhecer, citando exemplos do Japão e dos Estados Unidos. No país asiático, um idoso com 76 anos possui um perfil equivalente ao de um idoso de 69 nos EUA em termos de nível de impacto de doenças, como mostra o estudo. Essa variação poderia ser explicada em parte por diferenças nos padrões de estilo de vida dentre estes países, explicou a geriatra. 

      “O estudo sugere que os limites de idade para identificar uma população idosa não deveriam ser fixados em 65 anos, já que o padrão de envelhecimento é tão diferente entre os países”, concluiu, chamando a atenção para o fato de que os dados apresentados trazem questões importantes para o desenvolvimento e a adaptação de políticas públicas a partir do perfil de cada país, a fim de se garantir uma vida longa e saudável para todos os indivíduos.

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“(...) adaptação de políticas públicas a partir do perfil de cada país, a fim de se garantir uma vida longa e saudável para todos os indivíduos”. 14º§


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