Questões de Concurso Público ABEPRO 2019 para Pós-Graduação
Foram encontradas 80 questões
Q1336707
Português
Texto associado
Carlos Drummond de Andrade,
Itabira e a Mineração
Em julho de 2014 o acaso me levou a Itabira, onde eu
nunca tinha estado. A viagem teve efeitos inesperados, que desembocam neste livro: na cidade natal de
Carlos Drummond de Andrade as marcas do passado,
assim como sinais contemporâneos gritantes, pareciam estar chamando, todos juntos, para uma releitura
da obra do poeta. A estranha singularidade do lugar
incitava a ir mais fundo na relação do autor de “A
máquina do mundo” com as circunstâncias que envolvem a “estrada de Minas, pedregosa”, a geografia física
e humana, a história da mineração do ferro.
Nascido em 1902, Drummond viveu pouco tempo
em Itabira. Mas os ecos da cidade retornam em sua
obra inteira, e permanecem nela qual uma inscrição
latejante, sem correspondente cronológico contabilizável – como a tal “fotografia na parede”, que dói,
ou como um sino repercutindo traumas e avivando
o vivido. José Maria Cançado, seu primeiro biógrafo,
diz, a propósito, que ali o “mundo não se assemelha
nem à natureza nem à cultura, mas a uma terceira
coisa entre os dois, uma espécie de grande alucinação,
uma monstruosidade geológica, uma dissonância
planetária, com sua quantidade astronômica de minério”. A imagem não é despropositada, por mais que
possa parecer. Chegar a esse lugar é sentir, de fato, o
impacto da geologia e da história, acopladas. Algo de
alucinado se passou e se passa naquele sítio, implicando uma torção desmedida entre a paisagem e a
máquina mineradora, com quantidades monstruosas
de ferro envolvidas. Há no ar a sensação de que um
crime não nomeado, ligado à fatalidade de um “destino mineral”, foi cometido a céu aberto.
O grande buraco geral que a mineração cavou no
território de Minas, multiplicado por outras tantas
Itabiras e Itabiritos, e que em Belo Horizonte fez
da serra do Curral uma paisagem de fachada que
esconde uma ruína mineral, está exposto em Itabira
de maneira exemplar e obscena, de tão real e tão
próximo. Em outras palavras, se o horizonte de Belo
Horizonte é sustentado hoje por uma espécie de telão
montanhoso, mera película residual preservada por
conveniência – afinal, é dele que a capital do estado
extrai seu nome –, em Itabira a exploração mineradora
sentiu-se à vontade para abolir a serra e anular o horizonte sem maior necessidade de manter as aparências.
Impossível não associar tal visão à catástrofe de
Mariana e do rio Doce, desencadeada em 5 de novembro de 2015, desvelando uma nova dimensão desse
todo. Em Mariana, a derrama dos rejeitos, empilhados
como um castelo de cartas em barragens a montante, apoiando-se a si mesmas sem outros critérios
a não ser o da acumulação sem freios, pela empresa
Samarco, braço da atual Vale, cobrou seu tributo às
comunidades e a todos os reinos da natureza em vidas
e em destruição, no distrito de Bento Rodrigues e em
tudo que se estende pelo rio Doce até o mar.
Associar os acontecimentos de Itabira e de Mariana
não significa equipará-los – um é efeito do lento
desenrolar de uma exploração que opera em surdina
ao longo de décadas, de modo crônico, localizado e
praticamente invisível na cena pública nacional; outro
eclode súbito e estrondoso, esparramado no espaço
e reconhecido imediatamente como uma das maiores
hecatombes socioambientais do país, desmascarando
a pulsão destrutiva da sanha extrativa e acumuladora.
Embora diferentes, o acontecimento catastrófico de
Mariana, com tudo que tem de fragoroso e letal, pode
ser visto como o raio que ilumina o que há de silencioso e invisível na catástrofe de Itabira.
WISNIK, José Miguel. Disponível em: <http://www.viladeutopia. com.br/o-poeta-e-a-pedra>. Acesso em 18 de fevereiro de 2019. [Adaptado].
Obs.: Wisnik é autor do livro “Maquinação do mundo: Drummond e
a mineração”.
Assinale a alternativa correta, em relação ao
segundo parágrafo do texto 4.
Q1336708
Português
Texto associado
Carlos Drummond de Andrade,
Itabira e a Mineração
Em julho de 2014 o acaso me levou a Itabira, onde eu
nunca tinha estado. A viagem teve efeitos inesperados, que desembocam neste livro: na cidade natal de
Carlos Drummond de Andrade as marcas do passado,
assim como sinais contemporâneos gritantes, pareciam estar chamando, todos juntos, para uma releitura
da obra do poeta. A estranha singularidade do lugar
incitava a ir mais fundo na relação do autor de “A
máquina do mundo” com as circunstâncias que envolvem a “estrada de Minas, pedregosa”, a geografia física
e humana, a história da mineração do ferro.
Nascido em 1902, Drummond viveu pouco tempo
em Itabira. Mas os ecos da cidade retornam em sua
obra inteira, e permanecem nela qual uma inscrição
latejante, sem correspondente cronológico contabilizável – como a tal “fotografia na parede”, que dói,
ou como um sino repercutindo traumas e avivando
o vivido. José Maria Cançado, seu primeiro biógrafo,
diz, a propósito, que ali o “mundo não se assemelha
nem à natureza nem à cultura, mas a uma terceira
coisa entre os dois, uma espécie de grande alucinação,
uma monstruosidade geológica, uma dissonância
planetária, com sua quantidade astronômica de minério”. A imagem não é despropositada, por mais que
possa parecer. Chegar a esse lugar é sentir, de fato, o
impacto da geologia e da história, acopladas. Algo de
alucinado se passou e se passa naquele sítio, implicando uma torção desmedida entre a paisagem e a
máquina mineradora, com quantidades monstruosas
de ferro envolvidas. Há no ar a sensação de que um
crime não nomeado, ligado à fatalidade de um “destino mineral”, foi cometido a céu aberto.
O grande buraco geral que a mineração cavou no
território de Minas, multiplicado por outras tantas
Itabiras e Itabiritos, e que em Belo Horizonte fez
da serra do Curral uma paisagem de fachada que
esconde uma ruína mineral, está exposto em Itabira
de maneira exemplar e obscena, de tão real e tão
próximo. Em outras palavras, se o horizonte de Belo
Horizonte é sustentado hoje por uma espécie de telão
montanhoso, mera película residual preservada por
conveniência – afinal, é dele que a capital do estado
extrai seu nome –, em Itabira a exploração mineradora
sentiu-se à vontade para abolir a serra e anular o horizonte sem maior necessidade de manter as aparências.
Impossível não associar tal visão à catástrofe de
Mariana e do rio Doce, desencadeada em 5 de novembro de 2015, desvelando uma nova dimensão desse
todo. Em Mariana, a derrama dos rejeitos, empilhados
como um castelo de cartas em barragens a montante, apoiando-se a si mesmas sem outros critérios
a não ser o da acumulação sem freios, pela empresa
Samarco, braço da atual Vale, cobrou seu tributo às
comunidades e a todos os reinos da natureza em vidas
e em destruição, no distrito de Bento Rodrigues e em
tudo que se estende pelo rio Doce até o mar.
Associar os acontecimentos de Itabira e de Mariana
não significa equipará-los – um é efeito do lento
desenrolar de uma exploração que opera em surdina
ao longo de décadas, de modo crônico, localizado e
praticamente invisível na cena pública nacional; outro
eclode súbito e estrondoso, esparramado no espaço
e reconhecido imediatamente como uma das maiores
hecatombes socioambientais do país, desmascarando
a pulsão destrutiva da sanha extrativa e acumuladora.
Embora diferentes, o acontecimento catastrófico de
Mariana, com tudo que tem de fragoroso e letal, pode
ser visto como o raio que ilumina o que há de silencioso e invisível na catástrofe de Itabira.
WISNIK, José Miguel. Disponível em: <http://www.viladeutopia. com.br/o-poeta-e-a-pedra>. Acesso em 18 de fevereiro de 2019. [Adaptado].
Obs.: Wisnik é autor do livro “Maquinação do mundo: Drummond e
a mineração”.
Com base no período abaixo:
Em outras palavras, se o horizonte de Belo Horizonte é sustentado hoje por uma espécie de telão montanhoso, mera película residual preservada por conveniência – afinal, é dele que a capital do estado extrai seu nome –, em Itabira a exploração mineradora sentiu-se à vontade para abolir a serra e anular o horizonte sem maior necessidade de manter as aparências. (3o parágrafo)
considere as afirmativas a seguir:
1. A oração “se o horizonte de Belo Horizonte é sustentado […]” pode ser reescrita como “caso o horizonte de Belo Horizonte seja sustentado[…]”, sem alterar as relações sintático-semânticas estabelecidas no período.
2. As cidades de Belo Horizonte e Itabira igualam-se em relação ao tipo de horizonte que as caracteriza.
3. O segmento “mera película residual preservada por conveniência” funciona como aposto explicativo de “uma espécie de telão montanhoso”.
4. Os travessões podem ser adequadamente substituídos por parênteses, pois ambos os tipos de sinal teriam o mesmo funcionamento: isolar o comentário “afinal, é dele que a capital do estado extrai seu nome”.
5. O pronome possessivo em “seu nome” faz referência a “telão montanhoso”.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
Em outras palavras, se o horizonte de Belo Horizonte é sustentado hoje por uma espécie de telão montanhoso, mera película residual preservada por conveniência – afinal, é dele que a capital do estado extrai seu nome –, em Itabira a exploração mineradora sentiu-se à vontade para abolir a serra e anular o horizonte sem maior necessidade de manter as aparências. (3o parágrafo)
considere as afirmativas a seguir:
1. A oração “se o horizonte de Belo Horizonte é sustentado […]” pode ser reescrita como “caso o horizonte de Belo Horizonte seja sustentado[…]”, sem alterar as relações sintático-semânticas estabelecidas no período.
2. As cidades de Belo Horizonte e Itabira igualam-se em relação ao tipo de horizonte que as caracteriza.
3. O segmento “mera película residual preservada por conveniência” funciona como aposto explicativo de “uma espécie de telão montanhoso”.
4. Os travessões podem ser adequadamente substituídos por parênteses, pois ambos os tipos de sinal teriam o mesmo funcionamento: isolar o comentário “afinal, é dele que a capital do estado extrai seu nome”.
5. O pronome possessivo em “seu nome” faz referência a “telão montanhoso”.
Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.
Q1336709
Português
Texto associado
Carlos Drummond de Andrade,
Itabira e a Mineração
Em julho de 2014 o acaso me levou a Itabira, onde eu
nunca tinha estado. A viagem teve efeitos inesperados, que desembocam neste livro: na cidade natal de
Carlos Drummond de Andrade as marcas do passado,
assim como sinais contemporâneos gritantes, pareciam estar chamando, todos juntos, para uma releitura
da obra do poeta. A estranha singularidade do lugar
incitava a ir mais fundo na relação do autor de “A
máquina do mundo” com as circunstâncias que envolvem a “estrada de Minas, pedregosa”, a geografia física
e humana, a história da mineração do ferro.
Nascido em 1902, Drummond viveu pouco tempo
em Itabira. Mas os ecos da cidade retornam em sua
obra inteira, e permanecem nela qual uma inscrição
latejante, sem correspondente cronológico contabilizável – como a tal “fotografia na parede”, que dói,
ou como um sino repercutindo traumas e avivando
o vivido. José Maria Cançado, seu primeiro biógrafo,
diz, a propósito, que ali o “mundo não se assemelha
nem à natureza nem à cultura, mas a uma terceira
coisa entre os dois, uma espécie de grande alucinação,
uma monstruosidade geológica, uma dissonância
planetária, com sua quantidade astronômica de minério”. A imagem não é despropositada, por mais que
possa parecer. Chegar a esse lugar é sentir, de fato, o
impacto da geologia e da história, acopladas. Algo de
alucinado se passou e se passa naquele sítio, implicando uma torção desmedida entre a paisagem e a
máquina mineradora, com quantidades monstruosas
de ferro envolvidas. Há no ar a sensação de que um
crime não nomeado, ligado à fatalidade de um “destino mineral”, foi cometido a céu aberto.
O grande buraco geral que a mineração cavou no
território de Minas, multiplicado por outras tantas
Itabiras e Itabiritos, e que em Belo Horizonte fez
da serra do Curral uma paisagem de fachada que
esconde uma ruína mineral, está exposto em Itabira
de maneira exemplar e obscena, de tão real e tão
próximo. Em outras palavras, se o horizonte de Belo
Horizonte é sustentado hoje por uma espécie de telão
montanhoso, mera película residual preservada por
conveniência – afinal, é dele que a capital do estado
extrai seu nome –, em Itabira a exploração mineradora
sentiu-se à vontade para abolir a serra e anular o horizonte sem maior necessidade de manter as aparências.
Impossível não associar tal visão à catástrofe de
Mariana e do rio Doce, desencadeada em 5 de novembro de 2015, desvelando uma nova dimensão desse
todo. Em Mariana, a derrama dos rejeitos, empilhados
como um castelo de cartas em barragens a montante, apoiando-se a si mesmas sem outros critérios
a não ser o da acumulação sem freios, pela empresa
Samarco, braço da atual Vale, cobrou seu tributo às
comunidades e a todos os reinos da natureza em vidas
e em destruição, no distrito de Bento Rodrigues e em
tudo que se estende pelo rio Doce até o mar.
Associar os acontecimentos de Itabira e de Mariana
não significa equipará-los – um é efeito do lento
desenrolar de uma exploração que opera em surdina
ao longo de décadas, de modo crônico, localizado e
praticamente invisível na cena pública nacional; outro
eclode súbito e estrondoso, esparramado no espaço
e reconhecido imediatamente como uma das maiores
hecatombes socioambientais do país, desmascarando
a pulsão destrutiva da sanha extrativa e acumuladora.
Embora diferentes, o acontecimento catastrófico de
Mariana, com tudo que tem de fragoroso e letal, pode
ser visto como o raio que ilumina o que há de silencioso e invisível na catástrofe de Itabira.
WISNIK, José Miguel. Disponível em: <http://www.viladeutopia. com.br/o-poeta-e-a-pedra>. Acesso em 18 de fevereiro de 2019. [Adaptado].
Obs.: Wisnik é autor do livro “Maquinação do mundo: Drummond e
a mineração”.
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V )
e as falsas ( F ), em relação ao texto 4.
( ) Com a expressão “para uma releitura da obra do poeta” (1° parágrafo), Wisnik sugere que Drummond deveria revisitar sua própria obra.
( ) Em “A imagem não é despropositada, por mais que possa parecer” (2° parágrafo), a locução sublinhada funciona como conjunção subordinativa concessiva, introduzindo uma oração que expressa ideia contrária à principal, sem contudo invalidá-la.
( ) O trecho “Nascido em 1902, Drummond viveu pouco tempo em Itabira. Mas os ecos da cidade retornam em sua obra inteira” (2° parágrafo) pode ser assim reescrito, sem prejuízo de significado no texto e sem desvio da norma culta da língua escrita: “Apesar de Drummond – nascido em 1902 – viver há pouco tempo em Itabira, os ecos da cidade permaneceram em sua obra inteira”.
( ) Em “o ‘mundo não se assemelha nem à natureza nem à cultura, mas a uma terceira coisa entre os dois’” (2° parágrafo), o vocábulo sublinhado pode ser substituído por “e sim” sem prejuízo de significado no texto.
( ) Em “Embora diferentes […]” (5° parágrafo), o conector sublinhado pode ser substituído por “Conquanto” sem prejuízo de significado no texto.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
( ) Com a expressão “para uma releitura da obra do poeta” (1° parágrafo), Wisnik sugere que Drummond deveria revisitar sua própria obra.
( ) Em “A imagem não é despropositada, por mais que possa parecer” (2° parágrafo), a locução sublinhada funciona como conjunção subordinativa concessiva, introduzindo uma oração que expressa ideia contrária à principal, sem contudo invalidá-la.
( ) O trecho “Nascido em 1902, Drummond viveu pouco tempo em Itabira. Mas os ecos da cidade retornam em sua obra inteira” (2° parágrafo) pode ser assim reescrito, sem prejuízo de significado no texto e sem desvio da norma culta da língua escrita: “Apesar de Drummond – nascido em 1902 – viver há pouco tempo em Itabira, os ecos da cidade permaneceram em sua obra inteira”.
( ) Em “o ‘mundo não se assemelha nem à natureza nem à cultura, mas a uma terceira coisa entre os dois’” (2° parágrafo), o vocábulo sublinhado pode ser substituído por “e sim” sem prejuízo de significado no texto.
( ) Em “Embora diferentes […]” (5° parágrafo), o conector sublinhado pode ser substituído por “Conquanto” sem prejuízo de significado no texto.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.
Q1336710
Português
Texto associado
Carlos Drummond de Andrade,
Itabira e a Mineração
Em julho de 2014 o acaso me levou a Itabira, onde eu
nunca tinha estado. A viagem teve efeitos inesperados, que desembocam neste livro: na cidade natal de
Carlos Drummond de Andrade as marcas do passado,
assim como sinais contemporâneos gritantes, pareciam estar chamando, todos juntos, para uma releitura
da obra do poeta. A estranha singularidade do lugar
incitava a ir mais fundo na relação do autor de “A
máquina do mundo” com as circunstâncias que envolvem a “estrada de Minas, pedregosa”, a geografia física
e humana, a história da mineração do ferro.
Nascido em 1902, Drummond viveu pouco tempo
em Itabira. Mas os ecos da cidade retornam em sua
obra inteira, e permanecem nela qual uma inscrição
latejante, sem correspondente cronológico contabilizável – como a tal “fotografia na parede”, que dói,
ou como um sino repercutindo traumas e avivando
o vivido. José Maria Cançado, seu primeiro biógrafo,
diz, a propósito, que ali o “mundo não se assemelha
nem à natureza nem à cultura, mas a uma terceira
coisa entre os dois, uma espécie de grande alucinação,
uma monstruosidade geológica, uma dissonância
planetária, com sua quantidade astronômica de minério”. A imagem não é despropositada, por mais que
possa parecer. Chegar a esse lugar é sentir, de fato, o
impacto da geologia e da história, acopladas. Algo de
alucinado se passou e se passa naquele sítio, implicando uma torção desmedida entre a paisagem e a
máquina mineradora, com quantidades monstruosas
de ferro envolvidas. Há no ar a sensação de que um
crime não nomeado, ligado à fatalidade de um “destino mineral”, foi cometido a céu aberto.
O grande buraco geral que a mineração cavou no
território de Minas, multiplicado por outras tantas
Itabiras e Itabiritos, e que em Belo Horizonte fez
da serra do Curral uma paisagem de fachada que
esconde uma ruína mineral, está exposto em Itabira
de maneira exemplar e obscena, de tão real e tão
próximo. Em outras palavras, se o horizonte de Belo
Horizonte é sustentado hoje por uma espécie de telão
montanhoso, mera película residual preservada por
conveniência – afinal, é dele que a capital do estado
extrai seu nome –, em Itabira a exploração mineradora
sentiu-se à vontade para abolir a serra e anular o horizonte sem maior necessidade de manter as aparências.
Impossível não associar tal visão à catástrofe de
Mariana e do rio Doce, desencadeada em 5 de novembro de 2015, desvelando uma nova dimensão desse
todo. Em Mariana, a derrama dos rejeitos, empilhados
como um castelo de cartas em barragens a montante, apoiando-se a si mesmas sem outros critérios
a não ser o da acumulação sem freios, pela empresa
Samarco, braço da atual Vale, cobrou seu tributo às
comunidades e a todos os reinos da natureza em vidas
e em destruição, no distrito de Bento Rodrigues e em
tudo que se estende pelo rio Doce até o mar.
Associar os acontecimentos de Itabira e de Mariana
não significa equipará-los – um é efeito do lento
desenrolar de uma exploração que opera em surdina
ao longo de décadas, de modo crônico, localizado e
praticamente invisível na cena pública nacional; outro
eclode súbito e estrondoso, esparramado no espaço
e reconhecido imediatamente como uma das maiores
hecatombes socioambientais do país, desmascarando
a pulsão destrutiva da sanha extrativa e acumuladora.
Embora diferentes, o acontecimento catastrófico de
Mariana, com tudo que tem de fragoroso e letal, pode
ser visto como o raio que ilumina o que há de silencioso e invisível na catástrofe de Itabira.
WISNIK, José Miguel. Disponível em: <http://www.viladeutopia. com.br/o-poeta-e-a-pedra>. Acesso em 18 de fevereiro de 2019. [Adaptado].
Obs.: Wisnik é autor do livro “Maquinação do mundo: Drummond e
a mineração”.
Com base no trecho a seguir, extraído do texto 4:
Mas os ecos da cidade retornam em sua obra inteira, e permanecem nela qual uma inscrição latejante, sem correspondente cronológico contabilizável – como a tal “fotografia na parede”, que dói, ou como um sino repercutindo traumas e avivando o vivido. (2°parágrafo)
assinale a alternativa correta.
Mas os ecos da cidade retornam em sua obra inteira, e permanecem nela qual uma inscrição latejante, sem correspondente cronológico contabilizável – como a tal “fotografia na parede”, que dói, ou como um sino repercutindo traumas e avivando o vivido. (2°parágrafo)
assinale a alternativa correta.
Q1336711
Português
Texto associado
Carlos Drummond de Andrade,
Itabira e a Mineração
Em julho de 2014 o acaso me levou a Itabira, onde eu
nunca tinha estado. A viagem teve efeitos inesperados, que desembocam neste livro: na cidade natal de
Carlos Drummond de Andrade as marcas do passado,
assim como sinais contemporâneos gritantes, pareciam estar chamando, todos juntos, para uma releitura
da obra do poeta. A estranha singularidade do lugar
incitava a ir mais fundo na relação do autor de “A
máquina do mundo” com as circunstâncias que envolvem a “estrada de Minas, pedregosa”, a geografia física
e humana, a história da mineração do ferro.
Nascido em 1902, Drummond viveu pouco tempo
em Itabira. Mas os ecos da cidade retornam em sua
obra inteira, e permanecem nela qual uma inscrição
latejante, sem correspondente cronológico contabilizável – como a tal “fotografia na parede”, que dói,
ou como um sino repercutindo traumas e avivando
o vivido. José Maria Cançado, seu primeiro biógrafo,
diz, a propósito, que ali o “mundo não se assemelha
nem à natureza nem à cultura, mas a uma terceira
coisa entre os dois, uma espécie de grande alucinação,
uma monstruosidade geológica, uma dissonância
planetária, com sua quantidade astronômica de minério”. A imagem não é despropositada, por mais que
possa parecer. Chegar a esse lugar é sentir, de fato, o
impacto da geologia e da história, acopladas. Algo de
alucinado se passou e se passa naquele sítio, implicando uma torção desmedida entre a paisagem e a
máquina mineradora, com quantidades monstruosas
de ferro envolvidas. Há no ar a sensação de que um
crime não nomeado, ligado à fatalidade de um “destino mineral”, foi cometido a céu aberto.
O grande buraco geral que a mineração cavou no
território de Minas, multiplicado por outras tantas
Itabiras e Itabiritos, e que em Belo Horizonte fez
da serra do Curral uma paisagem de fachada que
esconde uma ruína mineral, está exposto em Itabira
de maneira exemplar e obscena, de tão real e tão
próximo. Em outras palavras, se o horizonte de Belo
Horizonte é sustentado hoje por uma espécie de telão
montanhoso, mera película residual preservada por
conveniência – afinal, é dele que a capital do estado
extrai seu nome –, em Itabira a exploração mineradora
sentiu-se à vontade para abolir a serra e anular o horizonte sem maior necessidade de manter as aparências.
Impossível não associar tal visão à catástrofe de
Mariana e do rio Doce, desencadeada em 5 de novembro de 2015, desvelando uma nova dimensão desse
todo. Em Mariana, a derrama dos rejeitos, empilhados
como um castelo de cartas em barragens a montante, apoiando-se a si mesmas sem outros critérios
a não ser o da acumulação sem freios, pela empresa
Samarco, braço da atual Vale, cobrou seu tributo às
comunidades e a todos os reinos da natureza em vidas
e em destruição, no distrito de Bento Rodrigues e em
tudo que se estende pelo rio Doce até o mar.
Associar os acontecimentos de Itabira e de Mariana
não significa equipará-los – um é efeito do lento
desenrolar de uma exploração que opera em surdina
ao longo de décadas, de modo crônico, localizado e
praticamente invisível na cena pública nacional; outro
eclode súbito e estrondoso, esparramado no espaço
e reconhecido imediatamente como uma das maiores
hecatombes socioambientais do país, desmascarando
a pulsão destrutiva da sanha extrativa e acumuladora.
Embora diferentes, o acontecimento catastrófico de
Mariana, com tudo que tem de fragoroso e letal, pode
ser visto como o raio que ilumina o que há de silencioso e invisível na catástrofe de Itabira.
WISNIK, José Miguel. Disponível em: <http://www.viladeutopia. com.br/o-poeta-e-a-pedra>. Acesso em 18 de fevereiro de 2019. [Adaptado].
Obs.: Wisnik é autor do livro “Maquinação do mundo: Drummond e
a mineração”.
Assinale a alternativa correta, considerando os
textos 1 e 4.