“Em casa, minha mãe me batia. Batia muito. Quando estava
bêbada e quando estava sóbria. O álcool fazia ela ter problema
de nervos. Eu me lembro que quando estava sã ela ficava
tremendo. Era muito louco. Ela esperava eu dormir e batia em
nós com um pedaço de pau, tacava objetos. Às vezes ela me
cutucava com bituca de cigarro, e, como lá não tinha fogão a gás
e a gente cozinha no fogão a lenha, tinha bastante pau em casa.
Então minha mãe esperava a gente dormir e dava paulada. […]
Minha mãe morreu e eu me senti aliviada. Eu justificava todo o
meu fracasso na pessoa dela, tudo estava depositado nela. Eu
pensava “Faço isso porque minha mãe bebe, porque ela me
botou na rua”. Minha mãe falava coisas do tipo: “A mãe sempre
nos amou. Ela bebia porque era fraca”. Meu irmão também dizia:
“A mãe era fraca, bebia por causa da nossa avó e também, olha
eu não conheço o meu pai, você conhece o seu pai, a mãe
sozinha teve que criar eu, você e a Giselda. Ela não teve
ninguém para dar apoio. Ela se rendeu ao álcool, mas você não
pode pensar assim da mãe. A mãe sempre nos amou, cara, eu
amo a mãe. E eu respondia: “Amou a gente o quê? Não sei
porque você gosta da mãe.”