Questões de Concurso Público Câmara de Juiz de Fora - MG 2018 para Assistente Técnico Legislativo – Analista na Área de Política Urbana
Foram encontradas 3 questões
Ano: 2018
Banca:
CONSULPAM
Órgão:
Câmara de Juiz de Fora - MG
Prova:
CONSULPAM - 2018 - Câmara de Juiz de Fora - MG - Assistente Técnico Legislativo – Analista na Área de Política Urbana |
Q2006746
Português
Texto associado
Leia o texto e responda às questões de 01 a 10.
As instituições sociedades se configuram em
padrões econômicos, culturais e ético-políticos. Esses
padrões são correlatos de uma ordem historicamente
construída. A ordem social pode ser chamada de
“autogerada” somente no sentido em que ela resulta
da atividade dos seres humanos, que são seres sociais,
não sendo, portanto, definida por um ser supremo fora
de nosso mundo, nem muito menos resultante
meramente de nossas tendências biológicas, tais
como se verificaria numa colmeia ou num
formigueiro. A ordem social é autogerada
coletivamente a partir da produção e reprodução
coletiva da existência humana. Essa empreita,
transformando-se constantemente de acordo com as
reconfigurações da correlação de forças econômicas
e ético-políticas, possui uma dimensão histórica
radical, pois tudo está em um processo, em um
“devir” contínuo.
A história não dá saltos, nada
acontece sem ter sido preparado, sem que condições
específicas não tivessem possibilitado o advento do
novo. A ordem social é construída historicamente e
só é criticamente compreensível segundo a
configuração das forças sociais em dado momento, o
que pode ser investigado a partir da pergunta sobre a
quem ela serve. Essas forças expressam o
entrelaçamento das relações de poder econômico,
político, técnico-científico, comunicativo e bélico.
Devido ao caráter instável da configuração e
constituição social, nenhuma ordem, padrão de
reconhecimento entre as pessoas, em relação ao qual
se estabelece o que cabe a cada uma fazer, ceder,
oferecer e receber, deve ser entendida fora do
processo contraditório de destruição e criação de
padrões, da desordem que lhe é correlata, das ações
que não se enquadram nos padrões de
reconhecimento estabelecidos num determinado
momento, mas que os tornam relativos.
O poder público tem-se definido como esquema
de constrangimento, capacidade de definir
prioridades para a coletividade, controle dos meios de
produção e reprodução da existência social e dos
meios de persuasão e de repressão. A sociedade é
desigual porque a partilha do poder econômico gera
diferenças históricas definidas pela divisão social do
trabalho e da propriedade. Assim, a desigualdade de
poder de consumo é apenas a ponta do iceberg da
configuração das forças sociais, do processo histórico
segundo o qual uma sociedade se constitui. A ordem
expressa nas leis constitucionais que modulam
juridicamente uma sociedade reflete e justifica a
configuração de forças históricas, que define como os
frutos da cooperação social são diferentemente
apropriados.
SILVA, S. R. Ética pública e formação humana. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 645-665, out. 2006. p. 648-649. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br (com adaptações).
SILVA, S. R. Ética pública e formação humana. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 96 - Especial, p. 645-665, out. 2006. p. 648-649. Disponível em http://www.cedes.unicamp.br (com adaptações).
As regras de concordância estão corretamente
observadas somente no item:
Ano: 2018
Banca:
CONSULPAM
Órgão:
Câmara de Juiz de Fora - MG
Prova:
CONSULPAM - 2018 - Câmara de Juiz de Fora - MG - Assistente Técnico Legislativo – Analista na Área de Política Urbana |
Q2006748
Português
Texto associado
Leia o texto e responda às questões de 11 a 20.
Aldrovando Cantagalo veio ao mundo em virtude dum erro de gramática. Durante sessenta anos de vida terrena pererecou como um peru em cima da gramática. E morreu, afinal, vítima dum novo erro de gramática. Mártir da gramática, fique este documento da sua vida como pedra angular para uma futura e bem merecida canonização.
Havia em Itaoca um pobre moço que definhava de tédio no fundo de um cartório. Escrevente. Vinte e três anos. Magro. Ar um tanto palerma. Ledor de versos lacrimogêneos e pai duns acrósticos dados à luz no “Itaoquense”, com bastante sucesso. Vivia em paz com as suas certidões quando o frechou venenosa seta de Cupido. Objeto amado: a filha mais moça do coronel Triburtino, o qual tinha duas, essa Laurinha, do escrevente, então nos dezessete, e a do Carmo, encalhe da família, vesga, madurota, histérica, manca da perna esquerda e um tanto aluada.
Triburtino não era homem de brincadeira. Esguelara um vereador oposicionista em plena sessão da câmara e desd’aí se transformou no tutu da terra. Toda gente lhe tinha um vago medo; mas o amor, que é mais forte que a morte, não receia sobrecenhos enfarruscados nem tufos de cabelos no nariz. Ousou o escrevente namorar-lhe a filha, apesar da distância hierárquica que os separava. Namoro à moda velha, já se vê, pois que nesse tempo não existia a gostosura dos cinemas. Encontros na igreja, à missa, troca de olhares, diálogos de flores – o que havia de inocente e puro. Depois, roupa nova, ponta de lenço de seda a entremostrar-se no bolsinho de cima e medição de passos na rua d’Ela, nos dias de folga. Depois, a serenata fatal à esquina, com o
Acorda, donzela...
Sapecado a medo num velho pinho de
empréstimo. Depois, bilhetinho perfumado.
Aqui se estrepou...
Escrevera nesse bilhetinho, entretanto, apenas
quatro palavras, afora pontos exclamativos e
reticências:
Anjo adorado!
Amo-lhe!
Para abrir o jogo bastava esse movimento de
peão. Ora, aconteceu que o pai do anjo apanhou o
bilhetinho celestial e, depois de três dias de
sobrecenho carregado, mandou chamá-lo à sua
presença, com disfarce de pretexto – para umas
certidõesinhas, explicou. Apesar disso, o moço veio um tanto
ressabiado, com a pulga atrás da orelha. Não lhe
erravam os pressentimentos. Mas o pilhou portas
aquém, o coronel trancou o escritório, fechou a
carranca e disse:
- A família Triburtino de Mendonça é a mais
honrada desta terra, e eu, seu chefe natural, não
permitirei nunca – nunca, ouviu? – que contra ela se
cometa o menor deslize.
Parou. Abriu uma gaveta. Tirou de dentro o
bilhetinho cor-de-rosa, desdobrou-o.
- É sua esta peça de flagrante delito?
O escrevente, a tremer, balbuciou medrosa
confirmação.
- Muito bem! Continuou o coronel em tom
mais sereno. Ama, então, minha filha e tem a audácia
de o declarar... Pois agora…
O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos para a rua, sondando uma retirada estratégica.
- ... é casar! Concluiu de improviso o vingativo pai.
O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si, comoveu-se e, com lágrimas nos olhos disse, gaguejante:
- Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora vejo com que injustiça o julgam aí fora!…
O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos para a rua, sondando uma retirada estratégica.
- ... é casar! Concluiu de improviso o vingativo pai.
O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si, comoveu-se e, com lágrimas nos olhos disse, gaguejante:
- Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora vejo com que injustiça o julgam aí fora!…
Velhacamente o velho cortou-lhe o fio das
expansões.
- Nada de frases, moço, vamos ao que serve:
declaro-o solenemente noivo de minha filha!
E voltando-se para dentro, gritou:
- Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo!
O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se
de coragem, corrigiu o erro.
- Laurinha, quer o coronel dizer…
O velho fechou de novo a carranca.
- Sei onde trago o nariz, moço. Vassuncê
mandou este bilhete à Laurinha dizendo que ama-
“lhe”. Se amasse a ela deveria dizer amo-“te”.
Dizendo “amo-lhe” declara que ama a uma terceira
pessoa, a qual não pode ser senão a Maria do Carmo.
Salvo se declara amor à minha mulher (…).
(LOBATO, Monteiro. O Colocador de
Pronomes. In: PINTO, Edith Pimentel (org.). O Português
do Brasil: textos críticos e teóricos II - 1920-1945 – Fontes
para a teoria e a história. São Paulo: Edusp, [1924] 1981,
p. 51-79.)
Assinale a opção que corresponde à descrição
temporal do verbo sublinhado em “Esguelara um
vereador oposicionista em plena sessão da câmara...”.
Ano: 2018
Banca:
CONSULPAM
Órgão:
Câmara de Juiz de Fora - MG
Prova:
CONSULPAM - 2018 - Câmara de Juiz de Fora - MG - Assistente Técnico Legislativo – Analista na Área de Política Urbana |
Q2006755
Português
Texto associado
Leia o texto e responda às questões de 11 a 20.
Aldrovando Cantagalo veio ao mundo em virtude dum erro de gramática. Durante sessenta anos de vida terrena pererecou como um peru em cima da gramática. E morreu, afinal, vítima dum novo erro de gramática. Mártir da gramática, fique este documento da sua vida como pedra angular para uma futura e bem merecida canonização.
Havia em Itaoca um pobre moço que definhava de tédio no fundo de um cartório. Escrevente. Vinte e três anos. Magro. Ar um tanto palerma. Ledor de versos lacrimogêneos e pai duns acrósticos dados à luz no “Itaoquense”, com bastante sucesso. Vivia em paz com as suas certidões quando o frechou venenosa seta de Cupido. Objeto amado: a filha mais moça do coronel Triburtino, o qual tinha duas, essa Laurinha, do escrevente, então nos dezessete, e a do Carmo, encalhe da família, vesga, madurota, histérica, manca da perna esquerda e um tanto aluada.
Triburtino não era homem de brincadeira. Esguelara um vereador oposicionista em plena sessão da câmara e desd’aí se transformou no tutu da terra. Toda gente lhe tinha um vago medo; mas o amor, que é mais forte que a morte, não receia sobrecenhos enfarruscados nem tufos de cabelos no nariz. Ousou o escrevente namorar-lhe a filha, apesar da distância hierárquica que os separava. Namoro à moda velha, já se vê, pois que nesse tempo não existia a gostosura dos cinemas. Encontros na igreja, à missa, troca de olhares, diálogos de flores – o que havia de inocente e puro. Depois, roupa nova, ponta de lenço de seda a entremostrar-se no bolsinho de cima e medição de passos na rua d’Ela, nos dias de folga. Depois, a serenata fatal à esquina, com o
Acorda, donzela...
Sapecado a medo num velho pinho de
empréstimo. Depois, bilhetinho perfumado.
Aqui se estrepou...
Escrevera nesse bilhetinho, entretanto, apenas
quatro palavras, afora pontos exclamativos e
reticências:
Anjo adorado!
Amo-lhe!
Para abrir o jogo bastava esse movimento de
peão. Ora, aconteceu que o pai do anjo apanhou o
bilhetinho celestial e, depois de três dias de
sobrecenho carregado, mandou chamá-lo à sua
presença, com disfarce de pretexto – para umas
certidõesinhas, explicou. Apesar disso, o moço veio um tanto
ressabiado, com a pulga atrás da orelha. Não lhe
erravam os pressentimentos. Mas o pilhou portas
aquém, o coronel trancou o escritório, fechou a
carranca e disse:
- A família Triburtino de Mendonça é a mais
honrada desta terra, e eu, seu chefe natural, não
permitirei nunca – nunca, ouviu? – que contra ela se
cometa o menor deslize.
Parou. Abriu uma gaveta. Tirou de dentro o
bilhetinho cor-de-rosa, desdobrou-o.
- É sua esta peça de flagrante delito?
O escrevente, a tremer, balbuciou medrosa
confirmação.
- Muito bem! Continuou o coronel em tom
mais sereno. Ama, então, minha filha e tem a audácia
de o declarar... Pois agora…
O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos para a rua, sondando uma retirada estratégica.
- ... é casar! Concluiu de improviso o vingativo pai.
O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si, comoveu-se e, com lágrimas nos olhos disse, gaguejante:
- Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora vejo com que injustiça o julgam aí fora!…
O escrevente, por instinto, ergueu o braço para defender a cabeça e relanceou os olhos para a rua, sondando uma retirada estratégica.
- ... é casar! Concluiu de improviso o vingativo pai.
O escrevente ressuscitou. Abriu os olhos e a boca, num pasmo. Depois, tornando a si, comoveu-se e, com lágrimas nos olhos disse, gaguejante:
- Beijo-lhe as mãos, coronel! Nunca imaginei tanta generosidade em peito humano! Agora vejo com que injustiça o julgam aí fora!…
Velhacamente o velho cortou-lhe o fio das
expansões.
- Nada de frases, moço, vamos ao que serve:
declaro-o solenemente noivo de minha filha!
E voltando-se para dentro, gritou:
- Do Carmo! Venha abraçar o teu noivo!
O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se
de coragem, corrigiu o erro.
- Laurinha, quer o coronel dizer…
O velho fechou de novo a carranca.
- Sei onde trago o nariz, moço. Vassuncê
mandou este bilhete à Laurinha dizendo que ama-
“lhe”. Se amasse a ela deveria dizer amo-“te”.
Dizendo “amo-lhe” declara que ama a uma terceira
pessoa, a qual não pode ser senão a Maria do Carmo.
Salvo se declara amor à minha mulher (…).
(LOBATO, Monteiro. O Colocador de
Pronomes. In: PINTO, Edith Pimentel (org.). O Português
do Brasil: textos críticos e teóricos II - 1920-1945 – Fontes
para a teoria e a história. São Paulo: Edusp, [1924] 1981,
p. 51-79.)
A respeito do emprego da expressão destacada em “a
qual não pode ser senão a Maria do Carmo.”, assinale
a(s) opção(ões) verdadeira(s) (V) ou falsa(s) (F).
I. A expressão “senão” equivale, no enunciado, a “a não ser”.
II. A expressão “senão” equivale, no enunciado, a “do contrário”.
III. A expressão “senão” equivale, no enunciado, a “apenas”
I. A expressão “senão” equivale, no enunciado, a “a não ser”.
II. A expressão “senão” equivale, no enunciado, a “do contrário”.
III. A expressão “senão” equivale, no enunciado, a “apenas”