Questões da Prova Exército - 2014 - EsFCEx - Oficial - v
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Anderson Cunha
A derradeira...
A derradeira
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Aquela estrela...
Aquela estrela
Marvada chegou
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer
Aquela estrela ô
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer
Minha pele é solidão
O meu colo, bem querer
Lágrima de dor
Teimou e caiu
Ai saudade, eu não sei esquecer
Aquela estrela ô
Tinhosa e vil
De mim levou meu bem querer “
(...) Era a Mulher, que falava. Ah, e a Mulher rogava: – Que
trouxessem o corpo daquele rapaz moço, vistoso, o dos olhos muito verdes...
Eu desguisei. Eu deixei minhas lágrimas virem, e ordenando: – 'Traz Diadorim!' (...)
Diadorim, Diadorim, oh, ah, meus buritizais levados de verdes... (...)
Sufoquei, numa estrangulação de dó. Constante o que a
Mulher disse: carecia de se lavar e vestir o corpo.
Piedade, como que ela mesma, embebendo toalha,
limpou as faces de Diadorim, casca de tão grosso sangue, repisado. (...)
Eu dizendo que a Mulher ia lavar o corpo dele. Ela rezava rezas da Bahia.
Mandou todo o mundo sair. Eu fiquei. (...) Não me mostrou de propósito o corpo.
E disse...
Diadorim – nu de tudo. E ela disse:
– 'A Deus dada. Pobrezinha...' (...)
Como em todo o tempo antes eu não contei ao senhor – e mercê peço: – mas para o senhor divulgar comigo, a par, justo o travo de tanto segredo, sabendo somente no átimo em que eu também só soube... Que Diadorim era o corpo de uma mulher, moça perfeita... (...)
Eu estendi as mãos para tocar naquele corpo, e estremeci,
retirando as mãos para trás (...) E a Mulher estendeu a toalha,recobrindo as partes. Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. (...) E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo:
– 'Meu amor!...' "
Texto extraído do livro Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa
I. Na trama de citações da canção Meus Buritizais levados de verdes, há uma referência à personagem Diadorim (“Diadorim, oh, ah, meus buritizais levados de verdes"), mas também uma citação textual direta à clássica canção do sertão, Asa Branca (“Quando o verde dos teus olhos/ Se espalhar na plantação").
II. Embora a saudade seja tema de ambos os textos, Meus buritizais levados de verdes e Grande Sertão: Veredas, é possível verificar um sentimento de plenitude e realização do desejo pelos amantes nos versos: “Minha pele é solidão/ O meu colo, bem querer" e no trecho citado: “Mas aqueles olhos eu beijei, e as faces, a boca. (...) E eu não sabia por que nome chamar; eu exclamei me doendo: – 'Meu amor!...' "
III. Meus buritizais levados de verdes tematiza uma das principais problemáticas do romance Grande Sertão: Veredas: a presença do maligno, a mistura entre bem e mal, o que é sintetizado na metáfora da “estrela tinhosa e vil".
IV. A cena clássica da morte de Diadorim, para a qual toda a narrativa de Riobaldo converge, é recuperada pela canção, decorrendo disso o seu teor dramático e trágico, corroborando a impossibilidade de realização do amor sintetizada no romance “até que ponto esses olhos, sempre havendo, aquela beleza verde, me adoecido, tão impossível." (p. 36).
Castro Alves
NÃO SABES, criança? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas, (1)
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita, (2)
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita... (3)
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
Um laço de fita. (4)
Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
Teu laço de fita.
(ALVES, Castro. Obra completa. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1997, p. 84-85.
( ) O poema pertence à poesia social de Castro Alves, gênero no qual canta em favor da liberdade, em versos como: “O braço, que rompe cadeias de ferro,/ Não quebra teus elos,/Ó laço de fita!"
( ) A morte, ao final do poema, representa o aprisionamento do eu-lírico, ao impossibilitar a realização do sentimento amoroso.
( ) Há a sugestão de possível relação íntima entre os amantes, nas ações de: “despir os adornos" e “libertar as tranças" e na imagem do “crepitar da vela".