Questões Militares
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Ano: 2023
Banca:
VUNESP
Órgão:
EsFCEx
Prova:
VUNESP - 2023 - EsFCEx - Oficial - Magistério em Português |
Q2260600
Português
Texto associado
Fomos jantar com a minha velha. Já lhe podia chamar
assim, posto que os seus cabelos brancos não o fossem todos
nem totalmente, e o rosto estivesse comparativamente fresco;
era uma espécie de mocidade quinquagenária ou de ancianidade viçosa, à escolha... Mas nada de melancolias: não me
compraz falar dos olhos molhados, à entrada e à saída. Pouco
entrou na conversação. Também não era diferente da costumada. José Dias falou do casamento e suas belezas, da política,
da Europa e da homeopatia, tio Cosme das suas moléstias,
prima Justina da vizinhança, ou de José Dias, quando ele saía
da sala.
Quando voltamos, à noite, viemos por ali a pé, falando
das minhas dúvidas. Capitu novamente me aconselhou que
esperássemos. Sogras eram todas assim; lá vinha um dia e
mudavam. Ao passo que me falava, recrudescia de ternura. Dali em diante foi cada vez mais doce comigo; não me
ia esperar à janela, para não espertar-me os ciúmes, mas
quando eu subia, via no alto da escada, entre as grades da
cancela, a cara deliciosa da minha amiga e esposa, risonha
como toda a nossa infância. Ezequiel às vezes estava com
ela; nós o havíamos acostumado a ver o ósculo da chegada
e da saída, e ele enchia-me a cara de beijos.
(Machado de Assis, Dom Casmurro. Adaptado)
O termo destacado na oração – para não espertar-me os
ciúmes – tem equivalente de estrutura morfossintática e
de sentido em:
Ano: 2023
Banca:
VUNESP
Órgão:
EsFCEx
Prova:
VUNESP - 2023 - EsFCEx - Oficial - Magistério em Português |
Q2260589
Português
Texto associado
Em um piano distante alguém estuda uma lição lenta, em
notas graves. De muito longe, de outra esquina, vem também
o som de um realejo. Conheço o velho que o toca, ele anda
sempre pelo meu bairro; já fez o periquito tirar para mim um
papelucho em que me são garantidos 93 anos de vida, muita
riqueza, poder e felicidade.
Ora, não preciso de tanto. Nem de tanta vida nem de tanta
coisa mais. Dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza; poder somente para mandar um pouco, pelo menos, em
meu nariz; e da felicidade um salário mínimo: tristezas que
possa aguentar, remorsos que não doam mais, renúncias que
não façam de mim um velho amargo.
Joguei uma prata da janela, e o periquito do realejo me
fez um ancião poderoso, feliz e rico. De rebarba me concedeu
14 filhos, tarefa e honra que me assustam um pouco. Mas os
periquitos são muito exagerados, e o costume de ouvir o dia
inteiro trechos de ópera não deve lhes fazer bem à cabeça. Os
papagaios são mais objetivos e prudentes, e só se animam a
afirmar uma coisa depois que a ouvem repetidas vezes.
Agora não se ouve mais o realejo; o piano recomeça a
tocar. Esses sons soltos, e indecisos, teimosos e tristes, de
uma lição elementar qualquer, têm uma grave monotonia.
Deus sabe por que acordei hoje com tendência a filosofia
de bairro; mas agora me ocorre que a vida de muita gente
parece um pouco essa lição de piano. Nunca chega a formar
a linha de uma certa melodia. Começa a esboçar, com os
pontos soltos de alguns sons, a curva de uma frase musical;
mas logo se detém, e volta, e se perde numa incoerência
monótona. Não tem ritmo nem cadência sensíveis. Para
quem a vive, essa vida deve ser penosa e triste como o esforço dessa jovem pianista de bairro, que talvez preferisse ir
à praia, mas tem de ficar no piano.
(Rubem Braga, O vassoureiro, em O homem rouco. Adaptado)
Observe os trechos destacados nas passagens:
• ... vem também o som de um realejo • ... dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza • ... com tendência a filosofia de bairro
Na atividade de leitura, a observação de estruturas morfossintáticas dos enunciados pode ser produtiva para ressaltar aspectos semânticos relacionados a termos gramaticais, caso, por exemplo, das preposições. À vista disso, será correto concluir que, nos contextos selecionados, a preposição “de” relaciona as palavras introduzindo as noções, respectivamente, de:
• ... vem também o som de um realejo • ... dinheiro apenas para não ter as aflições da pobreza • ... com tendência a filosofia de bairro
Na atividade de leitura, a observação de estruturas morfossintáticas dos enunciados pode ser produtiva para ressaltar aspectos semânticos relacionados a termos gramaticais, caso, por exemplo, das preposições. À vista disso, será correto concluir que, nos contextos selecionados, a preposição “de” relaciona as palavras introduzindo as noções, respectivamente, de:
Ano: 2023
Banca:
VUNESP
Órgão:
EsFCEx
Prova:
VUNESP - 2023 - EsFCEx - Oficial - Magistério em Português |
Q2260585
Português
Texto associado
Neurolinguística
Quando ele me disse
ô linda
pareces uma rainha,
fui ao cúmice do ápice
mas segurei meu desmaio.
Aos sessenta anos de idade,
vinte de casta viuvez,
quero estar bem acordada,
caso ele fale outra vez.
(Adélia Prado, Reunião de poesia)
No verso – fui ao cúmice do ápice – a palavra destacada
é uma criação da autora, para produzir um efeito de sentido, enfatizando a força expressiva do verso. Com base
na estilística da palavra e nos elementos fornecidos pelo
verso, é correto afirmar que “cúmice” se caracteriza pelo
processo de
Ano: 2023
Banca:
VUNESP
Órgão:
EsFCEx
Prova:
VUNESP - 2023 - EsFCEx - Capelão Evangélico - Pastor Evangélico |
Q2259534
Português
Texto associado
A alegria da música
Eu gosto muito de música clássica. Comecei a ouvir música clássica antes de nascer, quando ainda estava na barriga da minha mãe. Ela era pianista e tocava... Sem nada ouvir, eu ouvia. E assim a música clássica se misturou com minha carne e meu sangue. Agora, quando ouço as músicas que minha mãe tocava, eu retorno ao mundo inefável que existe antes das palavras, onde moram a perfeição e a beleza.
Em outros tempos, falava-se muito mal da alienação. A palavra “alienado” era usada como xingamento. Alienação era uma doença pessoal e política a ser denunciada e combatida. A palavra alienação vem do latim alienum, que quer dizer “que pertence a um outro”. Daí a expressão alienar um imóvel. Pois a música produz alienação: ela me faz sair do meu mundo medíocre e entrar num outro, de beleza e formas perfeitas. Nesse outro mundo eu me liberto da pequenez e das picuinhas do meu cotidiano e experimento, ainda que momentaneamente, uma felicidade divina. A música me faz retornar à harmonia do ventre materno. Esse ventre é, por vezes, do tamanho de um ovo, como na Rêverie, de Schumann; por vezes é maior que o universo, como no Concerto nº 3 de Rachmaninoff. Porque a música é parte de mim, para me conhecer e me amar é preciso conhecer e amar as músicas que amo.
Agora mesmo estou a ouvir uma fita cassete que me deu Ademar Ferreira dos Santos, um amigo português. Viajávamos de carro a caminho de Coimbra. O Ademar pôs música a tocar. Ele sempre faz isso. Fauré, numa transcrição para piano. A beleza pôs fim à nossa conversa. Nada do que disséssemos era melhor do que a música. A música produz silêncio. Toda palavra é profanação. Faz-se silêncio porque a beleza é uma epifania do divino, ouvir música é oração. Assim, eu e o Ademar adoramos juntos no altar da beleza. Terminada a viagem, o Ademar retirou a fita e m’a deu. “É sua”, ele disse de forma definitiva. Protestei. Senti-me mal, como se fosse um ladrão. Mas não adiantou. Existem gestos de amizade que não podem ser rejeitados. Assim, trouxe comigo um pedaço do Ademar que é também um pedaço de mim.
(Rubem Alves, Na morada das palavras. Adaptado)
A alternativa que substitui, nos parênteses, a expressão
destacada, de acordo com a norma-padrão de colocação
do pronome, é:
Ano: 2023
Banca:
VUNESP
Órgão:
EsFCEx
Prova:
VUNESP - 2023 - EsFCEx - Capelão Católico - Padre Apostólico Romano |
Q2259124
Português
Texto associado
A alegria da música
Eu gosto muito de música clássica. Comecei a ouvir
música clássica antes de nascer, quando ainda estava na barriga da minha mãe. Ela era pianista e tocava... Sem nada ouvir, eu ouvia. E assim a música clássica se misturou com minha carne e meu sangue. Agora, quando ouço as músicas que
minha mãe tocava, eu retorno ao mundo inefável que existe
antes das palavras, onde moram a perfeição e a beleza.
Em outros tempos, falava-se muito mal da alienação.
A palavra “alienado” era usada como xingamento. Alienação
era uma doença pessoal e política a ser denunciada e combatida. A palavra alienação vem do latim alienum, que quer dizer
“que pertence a um outro”. Daí a expressão alienar um imóvel.
Pois a música produz alienação: ela me faz sair do meu mundo medíocre e entrar num outro, de beleza e formas perfeitas.
Nesse outro mundo eu me liberto da pequenez e das picuinhas
do meu cotidiano e experimento, ainda que momentaneamente,
uma felicidade divina. A música me faz retornar à harmonia do
ventre materno. Esse ventre é, por vezes, do tamanho de um
ovo, como na Rêverie, de Schumann; por vezes é maior que
o universo, como no Concerto nº 3 de Rachmaninoff. Porque a
música é parte de mim, para me conhecer e me amar é preciso
conhecer e amar as músicas que amo.
Agora mesmo estou a ouvir uma fita cassete que me deu
Ademar Ferreira dos Santos, um amigo português. Viajávamos
de carro a caminho de Coimbra. O Ademar pôs música a tocar.
Ele sempre faz isso. Fauré, numa transcrição para piano. A beleza
pôs fim à nossa conversa. Nada do que disséssemos era melhor
do que a música. A música produz silêncio. Toda palavra é profanação. Faz-se silêncio porque a beleza é uma epifania do divino,
ouvir música é oração. Assim, eu e o Ademar adoramos juntos
no altar da beleza. Terminada a viagem, o Ademar retirou a fita e
m’a deu. “É sua”, ele disse de forma definitiva. Protestei. Senti-me
mal, como se fosse um ladrão. Mas não adiantou. Existem gestos
de amizade que não podem ser rejeitados. Assim, trouxe comigo
um pedaço do Ademar que é também um pedaço de mim.
(Rubem Alves, Na morada das palavras. Adaptado)
A alternativa que substitui, nos parênteses, a expressão
destacada, de acordo com a norma-padrão de colocação
do pronome, é: