Quando estava entrando na adolescência, no início dos anos 90, era um hábito passar vários finais de semana na casa do meu avô, uma pessoa extremamente sistemática.
Tinha dias que eu ficava com ele enquanto ele “catava milho”, como minha avó chamava seu hábito de ficar datilografando. Eu gostava muito de fazer companhia para ele. Lembro-me, como se fosse hoje, das histórias que me contava. Eram histórias verídicas, fatos que ele havia vivido e que ele me contava e recontava diversas vezes, como se fossem inéditas a cada vez. E eu sempre as ouvia com muita atenção e admiração, afinal, ele foi meu único referencial de pai.
Foi o meu avô quem me ensinou a ser íntegro, respeitar os mais velhos e batalhar para ser alguém na vida. Ele sempre usava como exemplo de fracasso pessoas muito próximas, geralmente membros da nossa família, que ele tentou aconselhar, ajudar e dar um direcionamento, mas que foram teimosos e estavam colhendo os frutos ruins de sua teimosia, de não o terem ouvido.
Agora adulto, vejo que muitas coisas no meu caráter herdei dele: sou sistemático, gosto de estudar, ler e escrever. E algo de que sempre gostei e aprendi, nas tardes e noites ao lado dele, foi a conversar com os mais velhos e a saber ouvi-los.
Os mais velhos têm muito a contribuir com nossas vidas,
independentemente da classe social e origem. Deles podemos
extrair momentos preciosos de sabedoria e vivência, porém,
para isso, é importante tentar compreendê-los e imaginar como
as coisas seriam na época deles, ou na perspectiva deles.
Eu trabalho há quase 10 anos na Previdência Social.
Lá atendo, predominantemente, idosos. Pessoas que, na
maioria das vezes, além de serem atendidas, querem ser
ouvidas. O tempo que passei com o meu avô me auxilia no
meu trabalho hoje.
Atendi um senhor de cerca de 70 anos que me inspirou
a escrever este texto. Tive necessidade de escrever isso
porque, por incrível e estranho que pareça, senti nele o
cheiro do meu avô.
(Ruy Carneiro Giraldes Neto. O cheiro do meu avô.
www.folhadelondrina.com.br, 04.03.2014. Adaptado)