Questões de Concurso Militar APMBB 2013 para Aspirante da Polícia Militar
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Q528706
Português
Texto associado
Fronteiras do pensamento
SÃO PAULO – O livro é um catatau de quase 600 páginas
e traz só uma ideia. Ainda assim, “Surfaces and Essences” (superfícies
e essências), do físico convertido em cientista cognitivo
Douglas Hofstadter e do psicólogo Emmanuel Sander, é uma
obra importante. Os autores apresentam uma tese que é a um
só tempo capital e contraintuitiva – a de que as analogias que
fazemos constituem a matéria-prima do pensamento – e se põem
a demonstrá-la.
Para fazê-lo, eles se valem de um pouco de tudo. A argumentação
opera nas fronteiras entre a linguística, a filosofia, a
matemática e a física, com incursões pela literatura, o estudo
comparativo dos provérbios e a enologia, para enumerar algumas
poucas das muitas áreas em que os autores se arriscam.
A ideia básica é que o cérebro pensa através de analogias.
Elas podem ser infantis (“mamãe, eu desvesti a banana”), banais
(termos como “e” e “mas” sempre introduzem comparações
mentais) ou brilhantes (Galileu revolucionou a astronomia “vendo”
os satélites de Júpiter como luas), mas estão na origem de
todas as nossas falas, raciocínios, cálculos e atos falhos – mesmo
que não nos demos conta disso.
Hofstadter e Sander sustentam que o processo de categorização, que muitos especialistas consideram a base do pensamento,
não envolve nada mais do que fazer analogias.
Para não falar apenas de flores (mais uma analogia), o livro
ganharia bastante se tivesse passado por um bom editor disposto
a cortar pelo menos uns 30% de gorduras. Algumas das digressões
dos autores são francamente dispensáveis e eles poderiam
ter sido mais contidos nos exemplos, que se contam às centenas,
estendendo-se por páginas e mais páginas, quando meia dúzia
teriam sido suficientes.
A prolixidade e o exagero, porém, não bastam para apagar o
brilho da obra, que definitivamente muda nossa forma de pensar
o pensamento.
(Hélio Schwartsman, Fronteiras do pensamento.
Folha de S.Paulo, 19.05.2013. Adaptado)
Em conformidade com a norma-padrão da língua portuguesa e
mantendo-se a coesão textual, a oração do segundo parágrafo –
... em que os autores se arriscam. – está corretamente reescrita
em:
Q528707
Português
Texto associado
Fronteiras do pensamento
SÃO PAULO – O livro é um catatau de quase 600 páginas
e traz só uma ideia. Ainda assim, “Surfaces and Essences” (superfícies
e essências), do físico convertido em cientista cognitivo
Douglas Hofstadter e do psicólogo Emmanuel Sander, é uma
obra importante. Os autores apresentam uma tese que é a um
só tempo capital e contraintuitiva – a de que as analogias que
fazemos constituem a matéria-prima do pensamento – e se põem
a demonstrá-la.
Para fazê-lo, eles se valem de um pouco de tudo. A argumentação
opera nas fronteiras entre a linguística, a filosofia, a
matemática e a física, com incursões pela literatura, o estudo
comparativo dos provérbios e a enologia, para enumerar algumas
poucas das muitas áreas em que os autores se arriscam.
A ideia básica é que o cérebro pensa através de analogias.
Elas podem ser infantis (“mamãe, eu desvesti a banana”), banais
(termos como “e” e “mas” sempre introduzem comparações
mentais) ou brilhantes (Galileu revolucionou a astronomia “vendo”
os satélites de Júpiter como luas), mas estão na origem de
todas as nossas falas, raciocínios, cálculos e atos falhos – mesmo
que não nos demos conta disso.
Hofstadter e Sander sustentam que o processo de categorização, que muitos especialistas consideram a base do pensamento,
não envolve nada mais do que fazer analogias.
Para não falar apenas de flores (mais uma analogia), o livro
ganharia bastante se tivesse passado por um bom editor disposto
a cortar pelo menos uns 30% de gorduras. Algumas das digressões
dos autores são francamente dispensáveis e eles poderiam
ter sido mais contidos nos exemplos, que se contam às centenas,
estendendo-se por páginas e mais páginas, quando meia dúzia
teriam sido suficientes.
A prolixidade e o exagero, porém, não bastam para apagar o
brilho da obra, que definitivamente muda nossa forma de pensar
o pensamento.
(Hélio Schwartsman, Fronteiras do pensamento.
Folha de S.Paulo, 19.05.2013. Adaptado)
Assinale a alternativa correta quanto à norma-padrão e em conformidade
com o sentido do texto.
Q528714
Português
Texto associado
A seca
De repente, uma variante trágica.
Aproxima-se a seca.
O sertanejo adivinha-a e prefixa-a graças ao ritmo singular
com que se desencadeia o flagelo.
Entretanto não foge logo, abandonando a terra a pouco e
pouco invadida pelo limbo candente que irradia do Ceará.
Buckle, em página notável, assinala a anomalia de se não
afeiçoar nunca, o homem, às calamidades naturais que o rodeiam.
Nenhum povo tem mais pavor aos terremotos que o peruano;
e no Peru as crianças ao nascerem têm o berço embalado
pelas vibrações da terra.
Mas o nosso sertanejo faz exceção à regra. A seca não o apavora.
É um complemento à sua vida tormentosa, emoldurando-a
em cenários tremendos. Enfrenta-a, estoico. Apesar das dolorosas
tradições que conhece através de um sem-número de terríveis
episódios, alimenta a todo o transe esperanças de uma resistência
impossível.
Com os escassos recursos das próprias observações e das
dos seus maiores, em que ensinamentos práticos se misturam a
extravagantes crendices, tem procurado estudar o mal, para o
conhecer, suportar e suplantar. Aparelha-se com singular serenidade
para a luta. Dois ou três meses antes do solstício de verão,
especa e fortalece os muros dos açudes, ou limpa as cacimbas.
Faz os roçados e arregoa as estreitas faixas de solo arável à orla
dos ribeirões. Está preparado para as plantações ligeiras à vinda
das primeiras chuvas.
Procura em seguida desvendar o futuro. Volve o olhar para
as alturas; atenta longamente nos quadrantes; e perquire os tra-
ços mais fugitivos das paisagens...
Os sintomas do flagelo despontam-lhe, então, encadeados
em série, sucedendo-se inflexíveis, como sinais comemorativos
de uma moléstia cíclica, da sezão assombradora da Terra. Passam
as “chuvas do caju" em outubro, rápidas, em chuvisqueiros
prestes delidos nos ares ardentes, sem deixarem traços; e pintam
as caatingas, aqui, ali, por toda a parte, mosqueadas de tufos
pardos de árvores marcescentes, cada vez mais numerosos e
maiores, lembrando cinzeiros de uma combustão abafada, sem
chamas; e greta-se o chão; e abaixa-se vagarosamente o nível das
cacimbas... Do mesmo passo nota que os dias, estuando logo ao
alvorecer, transcorrem abrasantes, à medida que as noites se vão
tornando cada vez mais frias. A atmosfera absorve-lhe, com avidez
de esponja, o suor na fronte, enquanto a armadura de couro,
sem mais a flexibilidade primitiva, se lhe endurece aos ombros,
esturrada, rígida, feito uma couraça de bronze. E ao descer das
tardes, dia a dia menores e sem crepúsculos, considera, entristecido,
nos ares, em bandos, as primeiras aves emigrantes, transvoando
a outros climas...
É o prelúdio da sua desgraça.
(Euclides da Cunha, Os Sertões.
Em: Massaud Moisés, A literatura brasileira através dos tempos, 2004.)
Assinale a alternativa em que a frase do texto reescrita mantém a
correta relação entre as palavras, em conformidade com a norma
culta e sem alteração do sentido original.