Questões de Concurso Militar CBM-PR 2019 para Aspirante do Corpo de Bombeiro

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Q1665239 Português

Leia o trecho abaixo, extraído de Sagarana, de João Guimarães Rosa:


Estremecem, amarelas, as flores da aroeira. Há um frêmito nos caules rosados da erva-de-sapo. A erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira. Trepidam, sacudindo as estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha. Tirita a mamona, de folhas peludas, como o corselete de um caçununga, brilhando em verde-azul! A pitangueira se abala, do jarrete à grimpa. E o açoita-cavalos derruba frutinhas fendilhadas, entrando em convulsões.

– Mas, meu Deus, como isto é bonito! Que lugar bonito p’r’a gente deitar no chão e se acabar!...

É o mato, todo enfeitado, tremendo também com a sezão.

(GUIMARÃES ROSA. “Sarapalha”. Sagarana. Obra completa (vol. 1). Nova Aguilar, 1994. p. 295.)


O trecho extraído do conto “Sarapalha”, do livro Sagarana, de Guimarães Rosa, exemplifica um aspecto que está presente em todos os contos do mesmo livro. Assinale a alternativa que reconhece esse aspecto de forma adequada.

Alternativas
Q1665240 Português

Leia os versos abaixo, de Gonçalves Dias e Basílio da Gama:


O Gigante de Pedra

     (II, Estrofes 5 e 6)

Tornam prados a despir-se,

Tornam flores a murchar,

Tornam de novo a vestir-se,

Tornam depois a secar;

E como gota filtrada

De uma abóboda escavada

Sempre, incessante a cair,

Tombam as horas e os dias,

Como fantasmas sombrias,

Nos abismos do porvir!


E no féretro de montes

Inconcusso, imóvel, fito,

Escurece os horizontes

O gigante de granito.

Com soberba indiferença

Sente extinta a antiga crença

Dos Tamoios, dos Pajés;

Nem vê que duras desgraças,

Que lutas de novas raças

Se lhe atropelam aos pés!

                        Gonçalves Dias


A Tempestade

        (Estrofes 1-4)

Um raio

Fulgura

No espaço,

Esparso

De luz;

E trêmulo

E puro

Se aviva,

S’esquiva,

Rutila.

Seduz!


Vem a aurora

Pressurosa,

Côr-de-rosa,

Que se cora

De carmim;

A seus raios

As estrelas,

Que eram belas,

Têm desmaios,

Já por fim.


O sol desponta

Lá no horizonte,

Doirando a fronte,

E o prado e o monte

E o céu e o mar;

E um manto belo

De vivas cores

Adorna as flores

Que entre verdores

Se vê brilhar.


Um ponto aparece,

Que o dia entristece,

O céu, onde cresce,

De negro a tingir;

Oh! Vede a procela

Infrene, mais bela,

No ar s’encapela

Já pronta a rugir!

                Gonçalves Dias


O Uraguai

         (Canto IV, v. 30-52)

Assim quem olha do escarpado cume

Não vê mais do que o céu, que o mais lhe encobre

A tarda e fria névoa, escura e densa.

Mas quando o sol, de lá do eterno e fixo

Purpúreo encosto de dourado assento,

Co’a criadora mão desfaz e corre

O véu cinzento de ondeadas nuvens,

Que alegre cena para nossos olhos! Podem

Daquela altura, por espaço imenso,

Ver as longas campinas retalhadas

De trêmulos ribeiros, claras fontes

E lagos cristalinos, onde molha

As leves asas o lascivo vento.

Engraçados outeiros, fundos vales

E arvoredos copados e confusos,

Verde teatro onde se admira quanto

Produziu a supérflua Natureza.

A terra sofredora de cultura

Mostra o rasgado seio; e as várias plantas,

Dando as mãos entre si, tecem compridas

Ruas, por onde a vista saudosa

Se estende e se perde. O vagaroso gado

Mal se move no campo, e se divisam

Por entre as sombras da verdura, ao longe,

As casas branquejando e os altos templos.

                                                Basílio da Gama

Com base na análise dos versos acima e na leitura integral de O Uraguai e de Os últimos cantos, considere as seguintes afirmativas:


1. Embora as “Poesias Americanas” tenham alcançado grande destaque nas leituras posteriores da obra de Gonçalves Dias, em Últimos Cantos elas ocupam um espaço menor do que o conjunto das outras duas partes: “Poesias Diversas” e “Hinos”.

2. No poema “O gigante de pedra”, é a montanha, da sua altura, quem assiste aos acontecimentos da história. Os versos acima citados de O Uraguai, por sua vez, adotam a perspectiva do olhar humano para descrever a natureza que se descortina do alto de uma montanha.

3. O hino “A tempestade” recria em seus versos os efeitos do fenômeno atmosférico que deslumbra o poeta. Nas três estrofes citadas, podem-se perceber os recursos poéticos utilizados: métrica crescente, esquema de rimas diferente a cada estrofe, adjetivos e verbos que vão do claro ao escuro, do tranquilo ao agitado.

4. A reiteração sonora do verbo “tornar”, na mesma posição dos versos iniciais da estrofe 5 de “O Gigante de Pedra”, marca a variação das estações do ano, sendo que a mesma característica é atribuída à montanha na estrofe seguinte e ao longo de todo o poema.

5. A partir de acidentes geográficos de localização precisa, a cadeia de montanhas localizada na atual cidade do Rio de Janeiro e o rio Uruguai, localizado na fronteira sul do país, “O Gigante de Pedra” e O Uraguai narram um episódio específico e datado da história brasileira.


Assinale a alternativa correta.

Alternativas
Q1665241 Português
Ao mesmo tempo em que narram fatos, os narradores de Casa de Pensão e Clara dos Anjos também assumem postura intrusa e opinativa: eles interrompem a narração de acontecimentos e inserem seus comentários e opiniões, apresentando análises sociológicas ou psicológicas de acontecimentos, ambientes e personagens. Nas alternativas abaixo, foram transcritos trechos dos dois romances. Assinale a alternativa em que se observa tal atitude intrusa e opinativa do narrador no romance de Aluísio Azevedo.
Alternativas
Q1665242 Português

O romance Nove noites apresenta o antropólogo Buel Quain como um aluno da antropóloga estadunidense Ruth Benedict. Ambos são personagens reais e atuaram, efetivamente, como pesquisadores da área. A tentativa de representar aspectos ligados aos povos indígenas retoma uma temática da Literatura Brasileira presente, ao menos, desde a poesia de Gonçalves Dias e de outros indianistas anteriores e posteriores a ele. Considerando isso, leia o trecho abaixo, extraído de um ensaio de Ruth Benedict, originalmente publicado em 1934:


Nem a razão para usar as sociedades primitivas para discutir as formas sociais tem necessária relação com uma volta romântica ao primitivo. Essa razão não existe com o espírito de poetizar os povos mais simples. Existem muitos modos pelos quais a cultura de um ou outro povo nos atrai fortemente nesta era de padrões heterogêneos e de tumulto mecânico confuso. Mas não é por meio de um regresso aos ideais preservados para nós pelos povos primitivos que a nossa sociedade poderá curar-se de suas moléstias. O utopismo romântico que se dirige aos primitivos mais simples, por mais atraente que seja, às vezes tanto pode ser no estudo etnológico, um empecilho como um auxílio.

(BENEDICT, Ruth: “A ciência do costume”. PIERSON, Donald. 1970. Estudos de organização social: leituras de sociologia e antropologia social. Tomo II. Tradução de Olga Dória. São Paulo: Martins. p. 497-513.)


Considerando a leitura integral de Nove Noites e a leitura do trecho extraído da obra da antropóloga, assinale a alternativa em que a representação dos “povos primitivos” é condicionada pelo que a autora denomina de “utopismo romântico”, ou, segundo definição dela mesma, o “espírito de poetizar os povos mais simples”.

Alternativas
Q1665243 Português

Em Morte e vida severina, Severino é um retirante que sai do interior com a intenção de chegar ao litoral, à cidade do Recife. Quando atinge a Zona da Mata, última região antes da chegada ao Recife, diz ele: 


– Nunca esperei muita coisa,

digo a Vossas Senhorias.

O que me fez retirar

não foi a grande cobiça;

o que apenas busquei

foi defender minha vida

da tal velhice que chega

antes de se inteirar trinta;

se na serra vivi vinte,

se alcancei lá tal medida,

o que pensei, retirando,

foi estendê-la um pouco ainda.

Mas não senti diferença

entre o Agreste e a Caatinga,

e entre a Caatinga e aqui a Mata

a diferença é a mais mínima.

Está apenas em que a terra

é por aqui mais macia;

está apenas no pavio,

ou melhor, na lamparina:

pois é igual o querosene

que em toda parte ilumina,

e quer nesta terra gorda

quer na serra, de caliça,

a vida arde sempre

com a mesma chama mortiça.

[…]

Sim, o melhor é apressar

o fim dessa ladainha,

fim do rosário de nomes

que a linha do rio enfia;

é chegar logo ao Recife,

derradeira ave-maria

do rosário, derradeira

invocação da ladainha,

Recife, onde o rio some

e esta minha viagem se finda.

(MELLO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 186-187.)

Considerando o trecho acima e a leitura integral do auto de João Cabral de Melo Neto, assinale a alternativa correta.
Alternativas
Respostas
11: D
12: C
13: B
14: E
15: C