Questões de Concurso Militar CBM-MG 2021 para Oficial Bombeiro Militar
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A mim pouco importava. Tendo descoberto o mundo da palavra escrita, eu estava feliz, muito feliz. [...] Bastava-me o ato de escrever. Colocar no pergaminho letra após letra, palavra após palavra, era algo que me deliciava. Não era só um texto que eu estava produzindo; era beleza, a beleza que resulta da ordem, da harmonia. Eu descobria que uma letra atrai outra, que uma palavra atrai outra, essa afinidade organizando não apenas o texto, como a vida, o universo. O que eu via, no pergaminho, quando terminava o trabalho, era um mapa, como os mapas celestes que indicavam a posição das estrelas e planetas, posição essa que não resulta do acaso, mas da composição de misteriosas forças, as mesmas que, em escala menor, guiavam minha mão quando ela deixava seus sinais sobre o pergaminho. [...] A única pessoa a quem eu tinha vontade de contar o que acontecia era o pastorzinho. Diria a ele que minha vida tinha agora um sentido, um significado: feia, eu era, contudo, capaz de criar beleza. Não a falsa beleza que os espelhos enganosamente refletem, mas a verdadeira e duradoura beleza dos textos que eu escrevia, dia após dia, semana após semana – como se estivesse num estado de permanente e deliciosa embriaguez.
SCLIAR, Moacyr. In: PEREIRA JUNIOR, Luiz Costa. Obra
Aberta. Revista Língua Portuguesa. São Paulo: Segmento,
Ano 5. n.66, abr.2011, p.34-35. Disponível em: <https://poetriz.
wordpress.com/2011/04/16/bastava-escrever/>.
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Três náufragos cegos: Homero, Joyce e Borges, à deriva num mar de palavras. Seu navio bateu numa metáfora – a ponta de um iceberg – e foi ao fundo. Seu bote salva-vidas é levado por uma corrente literária para longe das rotas mais navegadas, eles só serão encontrados se críticos e exegetas da guarda-costeira, que patrulham o mar, os descobrirem na vastidão azul das línguas e os resgatarem de helicóptero. E, mesmo assim, se debaterão contra o salvamento. São cegos difíceis.
VERÍSSIMO, Luís Fernando. A eterna privação do zagueiro
absoluto – as melhores crônicas de futebol, cinema e literatura.
Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. p. 167.
O Bem e o Mal
Eu guardo em mim
dois corações
um que é do mar
um das paixões
um canto doce
um cheiro de temporal
eu guardo em mim
um deus, um louco, um santo
um bem e um mal
eu guardo em mim
tantas canções
de tanto mar
tantas manhãs
encanto doce
o cheiro de um vendaval
guardo em mim
o deus, o louco, o santo
o bem, o mal.
FALCÃO, Dudu; CAYMMI, Danilo. O bem e o mal. In: DANILO
CAYMMI. Danilo Caymmi. São Paulo: RGE, 1992. LP.
Lado A, faixa 1.