Questões de Concurso Militar CMM 2018 para Aluno do Colégio Militar (EM) - Português
Foram encontradas 20 questões
Ano: 2018
Banca:
Exército
Órgão:
CMM
Prova:
Exército - 2018 - CMM - Aluno do Colégio Militar (EM) - Português |
Q1327622
Português
Texto associado
TEXTO I
CORRUPÇÃO CULTURAL OU ORGANIZADA?
Renato Janine Ribeiro
Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente em nossa
sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a
lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é importante prestar atenção a essa
responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção política − por sinal, praticada por gente eleita por
nós.
Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é o que existe de
mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por isso, pertence à mesma
família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei,
outras, não.
Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas
legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a corrupção "cultural", pequena,
disseminada − que mencionei acima − não é a única que existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos
tem sido devassada por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da
União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
Chamei-a de "corrupção cultural" pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do
privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve
ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura.
Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para pilhar os cofres
públicos − e mal deixa rastros. A corrupção "cultural" é visível para qualquer um. Suas pegadas são
evidentes. Bastou colocar as contas do governo na internet para saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os
quais a mídia apontou no ano passado.
Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor − gastos não republicanos
− montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos.
Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem
talentos bem aprimorados da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito
especializados.
O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção "cultural"),
acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria,
organizada.
Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo nem gasta
dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só
pode ser pego com dificuldade.
Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem
menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia − e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus
negócios.
Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto cultura nos
desmoraliza como povo. Ela nos torna "blasé". Faz-nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque
a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o
bem geral à vantagem individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos.
Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos
de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir
pelo crime em geral.
Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e poupando o
macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é
bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-presidente favoreceu, antieticamente, a uma empresa de
suas relações na ocupação do Iraque.
A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, "atrasado". Porém, se pensarmos que
corrupção mata − porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da segurança −, então a mais homicida é a
corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos
leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2806200909.htm#_=_
Glossário:
Blasé: entediado, indiferente.
O autor do texto I inicia o 5º parágrafo com a conjunção porque. Pode-se afirmar que essa
conjunção
Ano: 2018
Banca:
Exército
Órgão:
CMM
Prova:
Exército - 2018 - CMM - Aluno do Colégio Militar (EM) - Português |
Q1327623
Português
Texto associado
TEXTO I
CORRUPÇÃO CULTURAL OU ORGANIZADA?
Renato Janine Ribeiro
Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente em nossa
sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a
lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é importante prestar atenção a essa
responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção política − por sinal, praticada por gente eleita por
nós.
Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é o que existe de
mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por isso, pertence à mesma
família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei,
outras, não.
Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas
legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a corrupção "cultural", pequena,
disseminada − que mencionei acima − não é a única que existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos
tem sido devassada por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da
União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
Chamei-a de "corrupção cultural" pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do
privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve
ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura.
Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para pilhar os cofres
públicos − e mal deixa rastros. A corrupção "cultural" é visível para qualquer um. Suas pegadas são
evidentes. Bastou colocar as contas do governo na internet para saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os
quais a mídia apontou no ano passado.
Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor − gastos não republicanos
− montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos.
Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem
talentos bem aprimorados da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito
especializados.
O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção "cultural"),
acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria,
organizada.
Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo nem gasta
dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só
pode ser pego com dificuldade.
Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem
menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia − e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus
negócios.
Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto cultura nos
desmoraliza como povo. Ela nos torna "blasé". Faz-nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque
a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o
bem geral à vantagem individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos.
Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos
de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir
pelo crime em geral.
Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e poupando o
macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é
bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-presidente favoreceu, antieticamente, a uma empresa de
suas relações na ocupação do Iraque.
A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, "atrasado". Porém, se pensarmos que
corrupção mata − porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da segurança −, então a mais homicida é a
corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos
leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2806200909.htm#_=_
Glossário:
Blasé: entediado, indiferente.
"Corrupção cultural ou organizada?" é um artigo de opinião e, portanto, apresenta
determinado tema e ponto de vista pessoal e tem como propósito comunicativo, ademais de informar,
persuadir o leitor. Nesse texto, a tese defendida pelo articulista é apresentada na íntegra no trecho:
Ano: 2018
Banca:
Exército
Órgão:
CMM
Prova:
Exército - 2018 - CMM - Aluno do Colégio Militar (EM) - Português |
Q1327624
Português
Texto associado
TEXTO I
CORRUPÇÃO CULTURAL OU ORGANIZADA?
Renato Janine Ribeiro
Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente em nossa
sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a
lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é importante prestar atenção a essa
responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção política − por sinal, praticada por gente eleita por
nós.
Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é o que existe de
mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por isso, pertence à mesma
família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei,
outras, não.
Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas
legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a corrupção "cultural", pequena,
disseminada − que mencionei acima − não é a única que existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos
tem sido devassada por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da
União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
Chamei-a de "corrupção cultural" pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do
privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve
ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura.
Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para pilhar os cofres
públicos − e mal deixa rastros. A corrupção "cultural" é visível para qualquer um. Suas pegadas são
evidentes. Bastou colocar as contas do governo na internet para saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os
quais a mídia apontou no ano passado.
Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor − gastos não republicanos
− montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos.
Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem
talentos bem aprimorados da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito
especializados.
O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção "cultural"),
acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria,
organizada.
Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo nem gasta
dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só
pode ser pego com dificuldade.
Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem
menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia − e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus
negócios.
Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto cultura nos
desmoraliza como povo. Ela nos torna "blasé". Faz-nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque
a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o
bem geral à vantagem individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos.
Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos
de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir
pelo crime em geral.
Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e poupando o
macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é
bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-presidente favoreceu, antieticamente, a uma empresa de
suas relações na ocupação do Iraque.
A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, "atrasado". Porém, se pensarmos que
corrupção mata − porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da segurança −, então a mais homicida é a
corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos
leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2806200909.htm#_=_
Glossário:
Blasé: entediado, indiferente.
Marque a alternativa em que poderia haver uma preposição antes da palavra que, sublinhada
abaixo:
Ano: 2018
Banca:
Exército
Órgão:
CMM
Prova:
Exército - 2018 - CMM - Aluno do Colégio Militar (EM) - Português |
Q1327625
Português
Texto associado
TEXTO I
CORRUPÇÃO CULTURAL OU ORGANIZADA?
Renato Janine Ribeiro
Ficamos muito atentos, nos últimos anos, a um tipo de corrupção que é muito frequente em nossa
sociedade: o pequeno ato, que muitos praticam, de pedir um favor, corromper um guarda ou, mesmo, violar a
lei e o bem comum para obter uma vantagem pessoal. Foi e é importante prestar atenção a essa
responsabilidade que temos, quase todos, pela corrupção política − por sinal, praticada por gente eleita por
nós.
Esclareço que, por corrupção, não entendo sua definição legal, mas ética. Corrupção é o que existe de
mais antirrepublicano, isto é, mais contrário ao bem comum e à coisa pública. Por isso, pertence à mesma
família que trafegar pelo acostamento, furar a fila, passar na frente dos outros. Às vezes é proibida por lei,
outras, não.
Mas, aqui, o que conta é seu lado ético, não legal. Deputados brasileiros e britânicos fizeram despesas
legais, mas não éticas. É desse universo que trato. O problema é que a corrupção "cultural", pequena,
disseminada − que mencionei acima − não é a única que existe. Aliás, sua existência nos poderes públicos
tem sido devassada por inúmeras iniciativas da sociedade, do Ministério Público, da Controladoria Geral da
União (órgão do Executivo) e do Tribunal de Contas da União (que serve ao Legislativo).
Chamei-a de "corrupção cultural" pois expressa uma cultura forte em nosso país, que é a busca do
privilégio pessoal somada a uma relação com o outro permeada pelo favor. É, sim, antirrepublicana. Dissolve
ou impede a criação de laços importantes. Mas não faz sistema, não faz estrutura.
Porque há outra corrupção que, essa, sim, organiza-se sob a forma de complô para pilhar os cofres
públicos − e mal deixa rastros. A corrupção "cultural" é visível para qualquer um. Suas pegadas são
evidentes. Bastou colocar as contas do governo na internet para saltarem aos olhos vários gastos indevidos, os
quais a mídia apontou no ano passado.
Mas nem a tapioca de R$ 8 de um ministro nem o apartamento de um reitor − gastos não republicanos
− montam um complô. Não fazem parte de um sistema que vise a desviar vultosas somas dos cofres públicos.
Quem desvia essas grandes somas não aparece, a não ser depois de investigações demoradas, que requerem
talentos bem aprimorados da polícia, de auditores de crimes financeiros ou mesmo de jornalistas muito
especializados.
O problema é que, ao darmos tanta atenção ao que é fácil de enxergar (a corrupção "cultural"),
acabamos esquecendo a enorme dimensão da corrupção estrutural, estruturada ou, como eu a chamaria,
organizada.
Ora, podemos ter certeza de uma coisa: um grande corrupto não usa cartão corporativo nem gasta
dinheiro da Câmara com a faxineira. Para que vai se expor com migalhas? Ele ataca somas enormes. E só
pode ser pego com dificuldade.
Se lembrarmos que Al Capone acabou na cadeia por ter fraudado o Imposto de Renda, crime bem
menor do que as chacinas que promoveu, é de imaginar que um megacorrupto tome cuidado com suas contas, com os detalhes que possam levá-lo à cadeia − e trate de esconder bem os caminhos que levam a seus
negócios.
Penso que devemos combater os dois tipos de corrupção. A corrupção enquanto cultura nos
desmoraliza como povo. Ela nos torna "blasé". Faz-nos perder o empenho em cultivar valores éticos. Porque
a república é o regime por excelência da ética na política: aquele que educa as pessoas para que prefiram o
bem geral à vantagem individual. Daí a importância dos exemplos, altamente pedagógicos.
Valorizar o laço social exige o fim da corrupção cultural, e isso só se consegue pela educação. Temos
de fazer que as novas gerações sintam pela corrupção a mesma ojeriza que uma formação ética nos faz sentir
pelo crime em geral.
Mas falar só na corrupção cultural acaba nos indignando com o pequeno criminoso e poupando o
macrocorrupto. Mesmo uma sociedade como a norte-americana, em que corromper o fiscal da prefeitura é
bem mais raro, teve há pouco um governo cujo vice-presidente favoreceu, antieticamente, a uma empresa de
suas relações na ocupação do Iraque.
A corrupção secreta e organizada não é privilégio de país pobre, "atrasado". Porém, se pensarmos que
corrupção mata − porque desvia dinheiro de hospitais, de escolas, da segurança −, então a mais homicida é a
corrupção estruturada. Precisamos evitar que a necessária indignação com as microcorrupções "culturais" nos
leve a ignorar a grande corrupção. É mais difícil de descobrir. Mas é ela que mata mais gente.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2806200909.htm#_=_
Glossário:
Blasé: entediado, indiferente.
Marque a alternativa em que há uma oração subordinada adjetiva:
Ano: 2018
Banca:
Exército
Órgão:
CMM
Prova:
Exército - 2018 - CMM - Aluno do Colégio Militar (EM) - Português |
Q1327626
Português
Texto associado
TEXTO II
PEQUENOS DELITOS
Walcyr Carrasco
Compras do mês. Percorro as prateleiras do supermercado olhando gulosamente tudo aquilo que é
bom mas engorda. Um senhor magro e grisalho para diante dos iogurtes. Olha em torno, cautelosamente.
Agarra uma garrafinha sabor morango, abre e vira na boca, bem depressa. Esconde a embalagem. Disfarço,
mas sigo o homem. Podem me chamar de abelhudo. Sou. Minha desculpa é que só tento entender o
comportamento humano para escrever depois. Dali a pouco o homem pega um pacote de bolachas. Abre.
Come algumas. A sobremesa? Na banca de frutas. Uvas itália tiradas do cacho. Um pêssego pequeno.
Devora. Esconde o caroço no bolso. Nem sei como consegue fazer a digestão, tal a rapidez. Não, não se trata de nenhum MSS — Movimento dos Sem-Supermercado ou coisa que o valha. É um senhor com jeito
de vovozinho e trajes de classe média. Termina as compras de barriga cheia e com expressão de vitória.
— Faço de tudo para não praticar pequenos delitos — conta uma amiga.
— É uma responsabilidade pessoal.
Culposamente, lembro de quando vou comprar fruta seca. Adoro uva passa. Com a desculpa de
experimentar, pego uma. Duas. Três. Trezentas! Outra amiga é absolutamente contra camelôs. Diz que
emporcalham a cidade. Há uma semana chegou com um brinquedo para os filhos.
— Paguei baratinho — contou animada.
— Era de uma banquinha do centro da cidade. Espantei-me.
— Você não é contra?
— Sou contra, mas não sou burra!
Pode? Hoje em dia se fala muito em ética. Mas, quando podem dar o golpe nas pequenas coisas,
muita gente se sente orgulhosa. Conheço uma livraria, em Pinheiros, onde sempre se aceita devolução.
Recentemente uma senhora levou seu exemplar. A gerente não reconheceu o livro. A cliente teimou. Ela
verificou todas as notas. Simplesmente o título não havia sido negociado. Insistiu:
— Eu troco, desde que a senhora me diga a verdade. Não é daqui, é?
A mulher reconheceu: havia comprado o exemplar há tempos, em outro lugar. Mesmo assim, aceitou
a troca e saiu satisfeitíssima com um livro novo. Outra cliente levou o livro de atividades do filho,
acompanhada pela criança. Trocou. Dias depois se descobriu que os questionários internos estavam
preenchidos a mão. Era golpe.
— Que exemplo essa mulher dá ao filho? — admira-se a moça.
E quando o troco vem errado? Confesso que a minha primeira reação é de alegria! De repente, tenho
mais dinheiro do que pensava. Em seguida lembro que a diferença será paga pelo caixa. Devolvo. Já vi
gente feliz da vida porque o dono da loja fez confusão nos preços. Outra coisa que odeio é emprestar e não
receber. Há uma predisposição, para não pagar pequenas dívidas. Mesmo quem empresta fica sem jeito.
— São só cinco reais... não faço questão.
Como se fosse feio receber o que é seu! Já ouvi, uma vez que reclamei.
— Pão-duro! Você liga pra mixaria?
Tenho um conhecido que jamais tem dinheiro para dar ao manobrista. Sempre pede um trocado. Se
eu não tenho, pede desculpas ao homem.
— Da próxima vez, dou em dobro. Ou então:
— Saí sem talão de cheques. Hoje você paga o jantar, o próximo é meu. Ah, que raiva! De facadinha em facadinha, faz uma bela economia.
Surrupiar um queijinho no supermercado parece não ter sequer importância. Mas os pequenos delitos,
quando somados, tornam a vida na cidade grande ainda mais selvagem.
Fonte: https://comissaodecultura.files.wordpress.com/2011/06/walcyr-carrasco-pequenos-delitos-e-outras-crc3b4nicas.pdf
Assinale a alternativa correta com relação à crônica de Walcyr Carrasco: