Questões de Vestibular
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Selva selvaggia
As palavras espiam como animais: umas, rajadas, sensuais, que nem panteras... outras, escuras, furtivas raposas... mas as mais belas palavras estão pousadas nas frondes mais altas, como pássaros... O poema está parado em meio da clareira.
O poema caiu na armadilha! debate-se e ora subdivide-se e entrechoca-se como esferas de vidro colorido ora é uma fórmula algébrica ora, como um sexo, palpita... Que importa que importa qual seja enfim o seu verdadeiro universo? Ele em breve será inteiramente devorado pelas palavras!
QUINTANA, M. Esconderijos do tempo. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013.
Selva selvaggia exemplifica uma das características da poética de Mário Quintana:
LENTZ — Até agora não vejo probabilidade da raça negra atingir a civilização dos brancos. Jamais a África ...
MILKAU — O tempo da África chegará. As raças civilizam-se pela fusão; é no encontro das raças adiantadas com as raças virgens, selvagens, que está o repouso conservador, o milagre do rejuvenescimento da civilização. O papel dos povos superiores é o instintivo impulso do desdobramento da cultura, transfundindo de corpo a corpo o produto dessa fusão que, passada a treva da gestação, leva mais longe o capital acumulado nas infinitas gerações. Foi assim que a Gália se tornou França e a Germânia, Alemanha.
LENTZ — Não acredito que da fusão com espécies radicalmente incapazes resulte uma raça sobre que se possa desenvolver a civilização. Será sempre uma cultura inferior, civilização de mulatos, eternos escravos em revoltas e quedas. Enquanto não se eliminar a raça que é o produto de tal fusão, a civilização será sempre um misterioso artifício, todos os minutos rotos pelo sensualismo, pela bestialidade e pelo servilismo inato do negro. O problema social para o progresso de uma região como o Brasil está na substituição de uma raça híbrida, como a dos mulatos, por europeus. A imigração não é simplesmente para o futuro da região do País um caso de simples estética, é antes de tudo uma questão complexa, que interessa o futuro humano.
ARANHA, G. (1868-1931). Canaã. 3 ed. São Paulo: Martins Claret, 2013.
O fragmento de Canaã em que há predomínio de traços característicos do movimento simbolista é
[...] Iracema saiu do banho: o aljôfar d’água ainda a roreja, como à doce mangaba que corou em manhã de chuva. Enquanto repousa, empluma das penas do gará as flechas de seu arco, e concerta com o sabiá da mata, pousado no galho próximo, o canto agreste. A graciosa ará, sua companheira e amiga, brinca junto dela. Às vezes sobe aos ramos da árvore e de lá chama a virgem pelo nome; outras remexe o uru de palha matizada, onde traz a selvagem seus perfumes, os alvos fios do crautá, as agulhas da juçara com que tece a renda, e as tintas de que matiza o algodão. Rumor suspeito quebra a doce harmonia da sesta. Ergue a virgem os olhos, que o sol não deslumbra; sua vista perturba-se. Diante dela e todo a contemplá-la está um guerreiro estranho, se é guerreiro e não algum mau espírito da floresta. Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo. [...]
ALENCAR, José de. Iracema. São Paulo: Ática, 2004.
Considerando esse excerto da obra e o contexto de toda a narrativa, assim como as características do Romantismo, analise as assertivas e assinale a alternativa correta.
I. Iracema é uma obra romântica, exercendo, portanto, a função de literatura crítica, denunciando a desumanidade e o apagamento cultural dos nativos implicados no processo de colonização.
II. A representação da natureza no contexto do Romantismo ocorre de maneira idealizada, ressaltando as belezas do Brasil, o que indica a presença de um nacionalismo ufanista na obra.
III. O protagonismo feminino verificado em Iracema visa à representação da mulher como figura emancipada, dona de seu destino, surgindo heroínas independentes do poder masculino.
IV. A linguagem é um aspecto fundamental no Romantismo, de modo que, embora o texto de Iracema seja em prosa, observam-se marcas líricas, com aguçado tom poético, na construção da narrativa.
V. Em Iracema, o colono surge como herói da narrativa, sendo o par romântico da nativa, reforçando o discurso de harmonia entre os colonos e os indígenas.
Considerando o fragmento de texto precedente e os múltiplos aspectos a ele relacionados, julgue o item a seguir.
Machado de Assis, além de romancista, escreveu peças
teatrais típicas do realismo teatral, cujos temas estão
centrados essencialmente na contestação do colonialismo.