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O Último Rei
Todos os dias Kublai-Khan, último rei da dinastia Mogul, subia no alto da muralha da sua fortaleza para encontrar-se com o vento. O vento vinha de longe e tinha o mundo todo para contar. Kublai-Khan nunca tinha saído da sua fortaleza, não conhecia o mundo. Ouvia as palavras do vento e aprendia. — A Terra é redonda e fácil, disse o vento. Ando sempre em frente, e passo pelo mesmo lugar de onde saí. Dei tantas voltas na Terra que ela está enovelada no meu sopro. Kublai-Khan achou bonito ir e voltar sem nunca se perder. Um dia o vento chegou mais frio, vindo das montanhas. — Fui pentear a neve, gelou o vento ao pé do ouvido do rei. A neve é pesada e macia. Debaixo do seu silêncio as sementes se aprontam para a primavera. Só flores brancas furam a neve. Só passos brancos marcam a neve. Na neve mora o Rei do Sono. Kublai-Khan teve desejo de neve. Então prendeu fios de prata na Lua e a empinou contra o vento. Do alto, espelho do frio, a Lua trouxe a neve para Kublai-Khan. E um sono tranquilo. Todos os dias o vento contava seus caminhos no alto da muralha. Todos os dias os longos cabelos do rei deitavam-se no vento e recolhiam seus sons, como uma harpa. [...]
COLASANTI, Marina. Uma ideia toda azul. São Paulo: Global, 2005.
O rei Kublai-Khan, diariamente, no alto da muralha da sua fortaleza, encontrava-se com o vento.
Essa cena, metaforicamente, ilustra o poder de sua alteza.
O trecho em análise, contudo, permite ao leitor afirmar que, apesar desse poder, o soberano revela-se suplantado pelo vento. Na trama narrativa, o vento vivencia um
Analise a charge a seguir.
Estado de Minas 03-12-2021 https://www.em.com.br/app/charge/2021/12/03/interna_charge,1328062/racismo.shtml
A charge apresenta uma crítica severa à falta de liberdade do ser humano. Há relação temática, sobretudo,
evidenciada na sequência do segundo ao quarto quadrinhos com o seguinte trecho do conto A Escrava:
[...] E os dois imigrantes, no silêncio dos caminhos, unidos enfim numa mesma comunhão de esperança e admiração, puseram-se a louvar a Terra de Canaã.
Eles disseram que ela era formosa com os seus trajes magníficos, vestida de sol, coberta com o manto do voluptuoso e infinito azul; que era amimada pelas coisas; sobre o seu colo águas dos rios fazem voltas e outras enlaçam-lhe a cintura desejada; [...]
Eles disseram que ela era opulenta, porque no seu bojo fantástico guarda a riqueza inumerável, o ouro puro e a pedra iluminada; porque os seus rebanhos fartam as suas nações e o fruto das suas árvores consola o amargor da existência; porque um só grão das suas areias fecundas fertilizaria o mundo inteiro e apagaria para sempre a miséria e a fome entre os homens. Oh! poderosa!...
Eles disseram que ela, amorosa, enfraquece o sol com as suas sombras; para o orvalho da noite fria tem o calor da pele aquecida, e os homens encontram nela, tão meiga e consoladora, o esquecimento instantâneo da agonia eterna...
Eles disseram que ela era feliz entre as outras, porque era a mãe abastada, a casa de ouro, a providência dos filhos despreocupados, que a não enjeitam por outra, não deixam as suas vestes protetoras e a recompensam com o gesto perpetuamente infantil e carinhoso, e cantam-lhe hinos saídos de um peito alegre...
Eles disseram que ela era generosa, porque distribui os seus dons preciosos aos que deles têm desejo; a sua porta não se fecha, as suas riquezas não têm dono; não é perturbada pela ambição e pelo orgulho; os seus olhos suaves e divinos não distinguem as separações miseráveis; o seu seio maternal se abre a todos como um farto e tépido agasalho... Oh! esperança nossa!
Eles disseram esses e outros louvores e caminharam dentro da luz...
ARANHA, G. (1868-1931). Canaã. 3 ed. São Paulo: Martins Claret, 2013.