Questões de Vestibular FAG 2017 para Vestibular, Primeiro Semestre
Foram encontradas 3 questões
Q1379399
Português
Texto associado
Texto 1: A CRISE E SUAS INTERPRETAÇÕES
Quanto mal uma mídia partidarizada pode causar a um País? Que prejuízos a irresponsabilidade dos veículos de
comunicação traz à sociedade?
No Brasil, essas não são perguntas acadêmicas. Ao contrário. Em nossa história, sobram exemplos de períodos em
que a “grande imprensa”, movida por suas opções políticas, jogou contra os interesses da maioria da população.
Apoiou ditaduras, avalizou políticas antipopulares, fingiu não ver os desmandos de aliados. O instituto Vox Populi
acaba de realizar uma pesquisa nacional sobre sentimentos e expectativas a respeito da economia. O levantamento
deixa claro o preço que pagamos por ter a mídia que temos.
A pesquisa tratou principalmente de inflação e desemprego e mostra que a opinião pública vive um pesadelo. Olha
com desconfiança o futuro, teme a perda de renda e emprego, prefere não consumir e não tem disposição de
investir. Está com medo da “crise”.
Todos sabem quão importante é o papel das expectativas na vida econômica. Quando a maioria das pessoas se
convence de que as coisas não vão bem, seu comportamento tende a produzir aquilo que teme: a desaceleração da
economia e a diminuição do investimento público. A “crise” é, em grande parte, provocada pelas expectativas.
Estampada em manchetes e com tratamento de luxo nos noticiários de tevê, a “crise econômica” estava na pauta
dos meios de comunicação muito antes de se tornar uma preocupação real da sociedade. Há ao menos dois anos, é
o principal assunto.
A nova pesquisa mostra que a quase totalidade dos brasileiros, depois de ser bombardeada durante tanto tempo
com a noção de “crise”, perdeu a capacidade de enxergar com realismo a situação da economia.
A respeito da quantia imaginada para comprar, daqui a um mês, o que compram atualmente com 100 reais, apenas
2% dos entrevistados estimaram um valor próximo àquele. Os demais 98% desconfiam de que vão precisar de mais
ou de muito mais. Desse total, 73% temem uma alta dos preços superior a 10%. Quase a metade, 47%, estima uma
inflação acima de 20%. E não menos de 35% receiam que os preços subirão mais de 30% em um mês.
Os números são semelhantes nas análises do desemprego. Apenas 7% dos entrevistados sabem que hoje menos
de dez indivíduos em cada cem estão desempregados. Cerca de um quarto acredita que o desemprego varie de
10% a 30% da força de trabalho e 38% imaginam que a proporção de brasileiros sem emprego ultrapassa os 40%.
Por esse raciocínio, o cenário até o fim do ano seria dantesco: quase 40% acreditam que o desemprego em
dezembro punirá mais da metade da população ativa. Para tanta desinformação e medo do futuro, muitos fatores
contribuem. Nossa cultura explica parte desses temores. Os erros do governo, especialmente de comunicação, são
responsáveis por outra. Mas a maior responsável é a mídia hegemônica.
Ninguém defende que a população seja mantida na ignorância em relação aos problemas reais enfrentados pela
economia. Mas vemos outra coisa. A mídia deseduca ao deformar a realidade e por nada fazer para seus leitores e
espectadores desenvolverem uma visão realista e informada do País. Fabrica assustados para produzir
insatisfeitos.
Com isso, torna-se agente do agravamento de uma crise que estimulou e continua a estimular, apesar de seu custo
para as famílias e para o Brasil. (COIMBRA, Marcos. Revista Carta Capital. Disponível em:
http://www.cartacapital.com.br/revista/852/acrise-e-suas-interpretacoes-4986.html.
O Texto 1 discorre, entre outras questões, sobre a atual crise econômica pela qual está passando o
nosso país. Contudo, pode-se dizer que sua principal finalidade é discutir:
Q1379401
Português
Texto associado
Texto 2: Repórter Policial
[...] Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter
policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito
nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito,
briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.E assim sucessivamente.
Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que
eles puseram no ato de investigar), é logo apelidada de testemunha chave. Suspeito é Mister X, advogado é
causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um
crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito
ventral.
Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se
veste… mas, basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima traja terno
azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário
policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos
outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro
de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata…a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou
comerciário”.
Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se — ao contrário — em
vez de morrer fica estendida no asfalto, está prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um
repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira
facada." Desafeto — para os que são novos na turma — devemos explicar que é inimigo, adversário, etc. E mais: se
morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um
repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os
hospitais, perdão, para os nosocômios, onde sempre tem um cupincha de plantão. [...]
Fonte: STANISLAW, Ponte Preta. São Paulo: Moderna, 1986.
Assinale a alternativa correta quanto ao que esclarece o texto 2:
Ano: 2017
Banca:
FAG
Órgão:
FAG
Provas:
FAG - 2017 - FAG - Vestibular - Primeiro Semestre - Medicina
|
FAG - 2017 - FAG - Vestibular - Primeiro Semestre |
Q1379402
Português
Texto associado
Texto 2: Repórter Policial
[...] Assim como o locutor esportivo jamais chamou nada pelo nome comum, assim também o repórter
policial é um entortado literário. Nessa classe, os que se prezam nunca chamariam um hospital de hospital. De jeito
nenhum. É nosocômio. Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito,
briga ou simples indisposição intestinal foi parar num hospital. Só vai para o nosocômio.E assim sucessivamente.
Qualquer cidadão que vai à Polícia prestar declarações que possam ajudá-la numa diligência (apelido que
eles puseram no ato de investigar), é logo apelidada de testemunha chave. Suspeito é Mister X, advogado é
causídico, soldado é militar, marinheiro é naval, copeira é doméstica e, conforme esteja deitada, a vítima de um
crime – de costas ou de barriga pra baixo – fica numa destas duas incômodas posições: decúbito dorsal ou decúbito
ventral.
Num crime descrito pela imprensa sangrenta, a vítima nunca se vestiu. A vítima trajava. Todo mundo se
veste… mas, basta virar vítima de crime, que a rapaziada sadia ignora o verbo comum e mete lá: “A vítima traja terno
azul e gravata do mesmo tom”. Eis, portanto, que é preciso estar acostumado ao “métier” para morar no noticiário
policial. Como os locutores esportivos, a Delegacia do Imposto de Renda, os guardas de trânsito, as mulheres dos
outros, os repórteres policiais nasceram para complicar a vida da gente. Se um porco morde a perna de um caixeiro
de uma dessas casas da banha, por exemplo, é batata…a manchete no dia seguinte tá lá: “Suíno atacou
comerciário”.
Outro detalhezinho interessante: se a vítima de uma agressão morre, tá legal, mas se — ao contrário — em
vez de morrer fica estendida no asfalto, está prostrada. Podia estar caída, derrubada ou mesmo derribada, mas um
repórter de crime não vai trair a classe assim à toa. E castiga na página: "Naval prostrou desafeto com certeira
facada." Desafeto — para os que são novos na turma — devemos explicar que é inimigo, adversário, etc. E mais: se
morre na hora, tá certo; do contrário, morrerá invariavelmente ao dar entrada na sala de operações.
De como vive a imprensa sangrenta, é fácil explicar. Vive da desgraça alheia, em fotos ampliadas. Um
repórter de polícia, quando está sem notícia, fica na redação, telefonando pras delegacias distritais ou para os
hospitais, perdão, para os nosocômios, onde sempre tem um cupincha de plantão. [...]
Fonte: STANISLAW, Ponte Preta. São Paulo: Moderna, 1986.
“Nunca, em tempo algum, qualquer vítima de atropelamento, tentativa de morte, conflito, briga ou
simples indisposição intestinal foi parar num hospital”. Pela afirmativa do narrador, depreendesse que: