Questões de Vestibular FAG 2015 para Vestibular, Primeiro Semestre
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Q1355617
Português
Texto associado
Texto 1
A CHAVE
Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo
Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem
importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que
você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está
retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.
O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.
Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco
reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e
casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer
que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de
confiança.
Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.
Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a
pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só
nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave
nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são
compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi
aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que
uma porta. Abre um novo tempo.
O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.
[...]
Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser
recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso
sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra
ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na
sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar
errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz
dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais
estarão sozinhos.
Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.
[...]
A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.
Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma
calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O
mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de
nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.
Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a
doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de
renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam
próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim
como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca,
oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece
abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html
Em relação ao texto 1, assinale a alternativa correta.
Q1355619
Português
Texto associado
Texto 1
A CHAVE
Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo
Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem
importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que
você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está
retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.
O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.
Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco
reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e
casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer
que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de
confiança.
Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.
Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a
pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só
nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave
nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são
compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi
aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que
uma porta. Abre um novo tempo.
O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.
[...]
Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser
recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso
sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra
ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na
sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar
errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz
dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais
estarão sozinhos.
Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.
[...]
A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.
Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma
calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O
mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de
nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.
Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a
doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de
renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam
próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim
como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca,
oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece
abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html
Em “... quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta.”, a crase
Q1355620
Português
Texto associado
Texto 1
A CHAVE
Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo
Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem
importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que
você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está
retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.
O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.
Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco
reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e
casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer
que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de
confiança.
Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.
Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a
pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só
nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave
nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são
compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi
aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que
uma porta. Abre um novo tempo.
O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.
[...]
Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser
recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso
sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra
ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na
sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar
errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz
dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais
estarão sozinhos.
Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.
[...]
A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.
Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma
calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O
mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de
nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.
Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a
doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de
renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam
próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim
como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca,
oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece
abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html
Em relação ao excerto: “O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.”, é
correto afirmar que
Q1355621
Português
Texto associado
Texto 1
A CHAVE
Ela abre mais do que uma porta, inaugura um novo tempo
Certos objetos dão a exata medida de um relacionamento. A chave, por exemplo. Embora caiba no bolso, ela tem
importância gigantesca na vida dos casais. O momento em que você oferece a chave da sua casa é aquele em que
você renuncia à sua privacidade, por amor. Quando pede a chave de volta - ou troca a fechadura da porta - está
retomando aquilo que havia oferecido, por que o amor acabou.
O primeiro momento é de exaltação e esperança. O segundo é sombrio.
Quem já passou pela experiência sabe como é gostoso carregar no bolso - ou na bolsa - aquela cópia de cinco
reais que vai dar início à nova vida. Carregada de expectativas e temores, a chave será entregue de forma tímida e
casual, como se não fosse importante, ou pode vir embalada em vinho e flores, pondo violinos na ocasião. Qualquer
que seja a cena, não cabe engano: foi dado um passo gigantesco. Alguém pôs na mão de outro alguém um totem de
confiança.
Não interessa se você dá ou ganha a chave, a sensação é a mesma. Ou quase.
Quem a recebe se enche de orgulho. No auge da paixão, e a pessoa que provoca seus melhores sentimentos (a
pessoa mais legal do mundo, evidentemente) põe no seu chaveiro a cópia discreta que abre a casa dela. Você só
nota mais tarde, quando chega à sua própria casa e vai abrir a porta. Primeiro, estranha a cor e o formato da chave
nova, mas logo entende a delicadeza da situação. Percebe, com um sorriso nos lábios, que suas emoções são
compartilhadas. Compreende que está sendo convidado a participar de outra vida. Sente, com enorme alívio, que foi
aceito, e que uma nova etapa tem início, mais intensa e mais profunda que anterior. Aquela chave abre mais do que
uma porta. Abre um novo tempo.
O momento de entregar a chave sempre foi para mim o momento de máximo otimismo.
[...]
Você tem certeza de que a outra pessoa ficará feliz e comovida, mas ao mesmo tempo teme, secretamente, ser
recusado. Então vê nos olhos dela a alegria que havia antecipado e desejado. O rosto querido se abre num sorriso
sem reservas, que você não ganharia se tivesse lhe dado uma joia ou uma aliança. (Uma não vale nada; para a outra
ela não está pronta). Por isto ela esperava, e retribui com um olhar cheio de amor. Esse é um instante que viverá na
sua alma para sempre. Nele, tudo parece perfeito. É como estar no início de um sonho em que nada pode dar
errado. A gente se sente adulto e moderno, herdeiro dos melhores sonhos da adolescência, parte da espécie feliz
dos adultos livres que são amados e correspondidos - os que acharam uma alma gêmea, aqueles que jamais
estarão sozinhos.
Se as chaves de despedida parecem a pior coisa do mundo, não são.
[...]
A gente sabe que essas coisas, às vezes, são efêmeras, mas é tão bonito.
Pode ser que dentro de três meses ou três anos a chave inútil e esquecida seja encontrada no bolso de uma
calça ou no fundo de uma bolsa. Ela já não abrirá porta alguma exceto a da memória, que poderá ser boa ou ruim. O
mais provável é que o tato e a visão daquela ferramenta sem propósito provoquem um sorriso agridoce, grisalho de
nostalgia. Essa chave do adeus não dói, ela constata e encerra.
Nestes tempos de arrogante independência, em que a solidão virou estandarte exibido como prova de força, a
doação de chaves ganhou uma solenidade inesperada. Com ela, homens e mulheres sinalizam a disposição de
renunciar a um pedaço da sua sagrada liberdade pessoal. Sugerem ao outro que precisam dele e o desejam
próximo. Cedem o seu terreno, correm o risco. É uma forma moderna e eloquente de dizer “eu te amo”. E, assim
como a outra, dispensa “eu também”. Oferece a chave quem está pronto, aceita a chave quem a deseja, reciproca,
oferecendo a sua, quem sente que é o caso, verdadeiramente. Nada mais triste que uma chave falsa. Ela parece
abrir uma esperança, mas abre somente uma ilusão.
Adaptado de http://epoca.globo.com/colunas-e-blogs/ivan-martins/noticia/2015/04/chave.html
Em “... um sorriso agridoce, grisalho de nostalgia.”, o termo destacado significa
Q1355622
Português
Texto associado
Texto 2
Coragem
“A pior coisa do mundo é a pessoa não ter coragem na vida”. Pincei essa frase do relato de uma moça chamada
Florescelia, nascida no Ceará e que passou (e vem passando) poucas e boas: a morte da mãe quando tinha dois
anos, uma madrasta cruel, uma gravidez prematura, a perda do único homem que amou, uma vida sem porto fixo,
sem emprego fixo, mas com sonhos diversos, que lhe servem de sustentação.
Ela segue em frente porque tem o combustível que necessitamos para trilhar o longo caminho desde o
nascimento até a morte. Coragem.
Quando eu era pequena, achava que coragem era o sentimento que designava o ímpeto de fazer coisas
perigosas, e por perigoso eu entendia, por exemplo, andar de tobogã, aquela rampa alta e ondulada em que a gente
descia sentada sobre um saco de algodão ou coisa parecida.
Por volta dos nove anos, decidi descer o tobogã, mas na hora H, amarelei. Faltou coragem. Assim como
faltou também no dia em que meus pais resolveram ir até a Ilha dos Lobos, em Torres, num barco de pescador. No
momento de subir no barco, desisti. Foram meu pai, minha mãe, meu irmão, e eu retornei sozinha, caminhando pela
praia, até a casa da vó.
Muita coragem me faltou na infância: até para colar durante as provas eu ficava nervosa.
Mentir para pai e mãe, nem pensar. Ir de bicicleta até ruas muito distantes de casa, não me atrevia. Travada
desse jeito, desconfiava que meu futuro seria bem diferente do das minhas amigas.
Até que cresci e segui medrosa para andar de helicóptero, escalar vulcões, descer corredeiras d’água. No
entanto, aos poucos fui descobrindo que mais importante do que ter coragem para aventuras de fim de semana, era
ter coragem para aventuras mais definitivas, como a de mudar o rumo da minha vida se preciso fosse. Enfrentar
helicópteros, vulcões, corredeiras e tobogãs exige apenas que tenhamos um bom relacionamento com a adrenalina.
Coragem, mesmo, é preciso para terminar um relacionamento, trocar de profissão, abandonar um país que
não atende nossos anseios, dizer não para propostas lucrativas porém vampirescas, optar por um caminho diferente
do da boiada, confiar mais na intuição do que em estatísticas, arriscar-se a decepções para conhecer o que existe do
outro lado da vida convencional. E, principalmente, coragem para enfrentar a própria solidão e descobrir o quanto
ela fortalece o ser humano.
Não subi no barco quando criança – e não gosto de barcos até hoje. Vi minha família sair em expedição pelo
mar e voltei sozinha pela praia, uma criança ainda, caminhando em meio ao povo, acreditando que era medrosa.
Mas o que parecia medo era a coragem me dando as boas vindas, me acompanhando naquele recuo solitário,
quando aprendi que toda escolha requer ousadia.
MEDEIROS, Marta. A graça das coisas. Porto Alegre - RS: L&PM, 2014, p. 90-91.
Quanto ao gênero e ao tipo textual, o texto 2 pode ser classificado como um(a):