Questões de Vestibular CESMAC 2018 para Vestibular Medicina - Dia 1

Foram encontradas 48 questões

Ano: 2018 Banca: Cepros Órgão: CESMAC Prova: Cepros - 2018 - CESMAC - Vestibular Medicina - Dia 1 |
Q1797169 Português

Nós, os brasileiros.


    Uma editora europeia me pede que traduza poemas de autores estrangeiros sobre o Brasil.

    Como sempre, eles falam da floresta amazônica, uma floresta muito pouco real, aliás. Um bosque poético, com “mulheres de corpos alvíssimos espreitando entre os troncos das árvores e olhos de serpentes hirtas acariciando esses corpos como dedos amorosos”. Não faltam flores azuis, rios cristalinos e tigres mágicos. Traduzo os poemas por dever de ofício, mas com uma secreta – e nunca realizada – vontade de inserir ali um grãozinho de realidade.

     Nas minhas idas ao Exterior, onde convivi, sobretudo com escritores, professores e estudantes universitários – portanto, gente razoavelmente culta –, fui invariavelmente surpreendida com a profunda ignorância a respeito de quem, como e o que somos.

    – A senhora é brasileira? Comentaram espantados alunos de uma Universidade americana famosa: – Mas a senhora é loira!

     Depois de ler, num Congresso de escritores em Amsterdã, um trecho de um de meus romances traduzidos em inglês, ouvi de um senhor, dono de um antiquário famoso, que segurou comovido minhas duas mãos:

     – Que maravilha! Nunca imaginei que no Brasil houvesse pessoas cultas!

     Pior ainda, no Canadá, alguém exclamou incrédulo:

     – Escritora brasileira? Ué, mas no Brasil existem editoras?

    A culminância foi a observação de uma crítica berlinense, num artigo sobre um romance meu editado por lá, acrescentando, a alguns elogios, a grave restrição: “porém não parece livro brasileiro, pois não fala nem de plantas, nem de índios, nem de bichos.”

   Diante dos três poemas sobre o Brasil, esquisitos para qualquer brasileiro, pensei mais uma vez que esse desconhecimento não se deve apenas à natural alienação estrangeira quanto ao geograficamente fora de seus interesses, mas também é culpa nossa. Pois o que mais exportamos de nós é o exótico e o folclórico.

    Em uma feira do livro de Frankfurt, no espaço brasileiro, o que se via eram livros (não muito bem arrumados), muita caipirinha na mesa, e televisões mostrando carnaval, futebol, praias e ... matos.

    E eu, mulher essencialmente urbana, escritora das geografias interiores de meus personagens neuróticos, me senti tão deslocada quanto um macaco em uma loja de cristais. Mesmo que tentasse explicar, ninguém acreditaria que eu era tão brasileira quanto qualquer negra de origem africana vendendo acarajé nas ruas de Salvador. Porque o Brasil é tudo isso.

    E nem a cor de meu cabelo e olhos, nem meu sobrenome, nem os livros que li na infância, nem o idioma que falei naquele tempo, além do português, me fazem menos nascida e vivida nesta terra de tão surpreendentes misturas: imensa, desaproveitada, instigante e (por que ter medo da palavra?) maravilhosa!


(Lya Luft. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 49-51) 

A crônica de Lya Luft trata de tema culturalmente relevante, pois aborda:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: Cepros Órgão: CESMAC Prova: Cepros - 2018 - CESMAC - Vestibular Medicina - Dia 1 |
Q1797170 Português

Nós, os brasileiros.


    Uma editora europeia me pede que traduza poemas de autores estrangeiros sobre o Brasil.

    Como sempre, eles falam da floresta amazônica, uma floresta muito pouco real, aliás. Um bosque poético, com “mulheres de corpos alvíssimos espreitando entre os troncos das árvores e olhos de serpentes hirtas acariciando esses corpos como dedos amorosos”. Não faltam flores azuis, rios cristalinos e tigres mágicos. Traduzo os poemas por dever de ofício, mas com uma secreta – e nunca realizada – vontade de inserir ali um grãozinho de realidade.

     Nas minhas idas ao Exterior, onde convivi, sobretudo com escritores, professores e estudantes universitários – portanto, gente razoavelmente culta –, fui invariavelmente surpreendida com a profunda ignorância a respeito de quem, como e o que somos.

    – A senhora é brasileira? Comentaram espantados alunos de uma Universidade americana famosa: – Mas a senhora é loira!

     Depois de ler, num Congresso de escritores em Amsterdã, um trecho de um de meus romances traduzidos em inglês, ouvi de um senhor, dono de um antiquário famoso, que segurou comovido minhas duas mãos:

     – Que maravilha! Nunca imaginei que no Brasil houvesse pessoas cultas!

     Pior ainda, no Canadá, alguém exclamou incrédulo:

     – Escritora brasileira? Ué, mas no Brasil existem editoras?

    A culminância foi a observação de uma crítica berlinense, num artigo sobre um romance meu editado por lá, acrescentando, a alguns elogios, a grave restrição: “porém não parece livro brasileiro, pois não fala nem de plantas, nem de índios, nem de bichos.”

   Diante dos três poemas sobre o Brasil, esquisitos para qualquer brasileiro, pensei mais uma vez que esse desconhecimento não se deve apenas à natural alienação estrangeira quanto ao geograficamente fora de seus interesses, mas também é culpa nossa. Pois o que mais exportamos de nós é o exótico e o folclórico.

    Em uma feira do livro de Frankfurt, no espaço brasileiro, o que se via eram livros (não muito bem arrumados), muita caipirinha na mesa, e televisões mostrando carnaval, futebol, praias e ... matos.

    E eu, mulher essencialmente urbana, escritora das geografias interiores de meus personagens neuróticos, me senti tão deslocada quanto um macaco em uma loja de cristais. Mesmo que tentasse explicar, ninguém acreditaria que eu era tão brasileira quanto qualquer negra de origem africana vendendo acarajé nas ruas de Salvador. Porque o Brasil é tudo isso.

    E nem a cor de meu cabelo e olhos, nem meu sobrenome, nem os livros que li na infância, nem o idioma que falei naquele tempo, além do português, me fazem menos nascida e vivida nesta terra de tão surpreendentes misturas: imensa, desaproveitada, instigante e (por que ter medo da palavra?) maravilhosa!


(Lya Luft. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 49-51) 

Uma convincente justificativa, para o ponto dominante de que trata o Texto, está expressa na seguinte alternativa:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: Cepros Órgão: CESMAC Prova: Cepros - 2018 - CESMAC - Vestibular Medicina - Dia 1 |
Q1797171 Português

Nós, os brasileiros.


    Uma editora europeia me pede que traduza poemas de autores estrangeiros sobre o Brasil.

    Como sempre, eles falam da floresta amazônica, uma floresta muito pouco real, aliás. Um bosque poético, com “mulheres de corpos alvíssimos espreitando entre os troncos das árvores e olhos de serpentes hirtas acariciando esses corpos como dedos amorosos”. Não faltam flores azuis, rios cristalinos e tigres mágicos. Traduzo os poemas por dever de ofício, mas com uma secreta – e nunca realizada – vontade de inserir ali um grãozinho de realidade.

     Nas minhas idas ao Exterior, onde convivi, sobretudo com escritores, professores e estudantes universitários – portanto, gente razoavelmente culta –, fui invariavelmente surpreendida com a profunda ignorância a respeito de quem, como e o que somos.

    – A senhora é brasileira? Comentaram espantados alunos de uma Universidade americana famosa: – Mas a senhora é loira!

     Depois de ler, num Congresso de escritores em Amsterdã, um trecho de um de meus romances traduzidos em inglês, ouvi de um senhor, dono de um antiquário famoso, que segurou comovido minhas duas mãos:

     – Que maravilha! Nunca imaginei que no Brasil houvesse pessoas cultas!

     Pior ainda, no Canadá, alguém exclamou incrédulo:

     – Escritora brasileira? Ué, mas no Brasil existem editoras?

    A culminância foi a observação de uma crítica berlinense, num artigo sobre um romance meu editado por lá, acrescentando, a alguns elogios, a grave restrição: “porém não parece livro brasileiro, pois não fala nem de plantas, nem de índios, nem de bichos.”

   Diante dos três poemas sobre o Brasil, esquisitos para qualquer brasileiro, pensei mais uma vez que esse desconhecimento não se deve apenas à natural alienação estrangeira quanto ao geograficamente fora de seus interesses, mas também é culpa nossa. Pois o que mais exportamos de nós é o exótico e o folclórico.

    Em uma feira do livro de Frankfurt, no espaço brasileiro, o que se via eram livros (não muito bem arrumados), muita caipirinha na mesa, e televisões mostrando carnaval, futebol, praias e ... matos.

    E eu, mulher essencialmente urbana, escritora das geografias interiores de meus personagens neuróticos, me senti tão deslocada quanto um macaco em uma loja de cristais. Mesmo que tentasse explicar, ninguém acreditaria que eu era tão brasileira quanto qualquer negra de origem africana vendendo acarajé nas ruas de Salvador. Porque o Brasil é tudo isso.

    E nem a cor de meu cabelo e olhos, nem meu sobrenome, nem os livros que li na infância, nem o idioma que falei naquele tempo, além do português, me fazem menos nascida e vivida nesta terra de tão surpreendentes misturas: imensa, desaproveitada, instigante e (por que ter medo da palavra?) maravilhosa!


(Lya Luft. Pensar é transgredir. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 49-51) 

Frente aos comentários que ouvia em seus diferentes contatos, o sentimento que a autora revela é de:
1) inconformidade; executa seu ofício mas com uma oculta disposição para “inserir ali um grãozinho de realidade”. 2) desilusão; “mesmo se tentasse explicar, ninguém acreditaria que eu era brasileira”. 3) um certo desapontamento: “me senti tão deslocada quanto um macaco em uma loja de cristais”. 4) deslumbramento; “nesta terra de tão surpreendentes misturas!”
Estão corretas as alternativas:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: Cepros Órgão: CESMAC Prova: Cepros - 2018 - CESMAC - Vestibular Medicina - Dia 1 |
Q1797172 Português
Como e por que leio o romance brasileiro

     Leitora apaixonada, fã de carteirinha, me envolvo com os romances de que gosto: curto, torço, roo as unhas, leio de novo um pedaço que tenha me agradado de forma particular. Se não gosto, largo no meio ou até no começo. O autor tem vinte ou trinta páginas para me convencer de que seu livro vai fazer diferença. Pois acredito piamente que a leitura faz a diferença. Se não, adeus! O livro volta para a estante e vou cuidar de outra coisa...
      Ao terminar a leitura de um romance de que gosto, fico com vontade de dividi-lo com os amigos. Recomendar a leitura, emprestar, dar de presente. Mas, sobretudo, discutir. Nada melhor do que conversar sobre livros... eu acho uma coisa, meu amigo acha outra, a colega discorda de nós dois...
     Na discussão, pode tudo, só não pode não achar nada nem concordar com todo mundo. No fim do papo, cada um fica mais cada um, ouvindo os outros. Quem sabe o livro tem mais de um sentido? Como foi mesmo aquele lance? E aquele personagem... vilão ou herói?
       Na minha geração e nas minhas relações, é assim que se lê romance.
    A leitura de romance, no entanto, não é só esta leitura envolvida e vertiginosa. Junto com o suspense, ao lado do mergulho na história, transcorre o tempo de decantação. Enredo, linguagem e personagens depositam-se no leitor. Passam a fazer parte da vida de quem lê. Vêm à tona meio sem aviso, aos pedaços, evocados não se sabe bem por quais articulações...
    Vida e literatura enredam-se em bons e em maus momentos, e os romances que leio passam a fazer parte da minha vida, me expressam em várias situações.

Marisa Lajolo. Como e por que ler o romance brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004, p. 13-14.
O Texto, da autora Marisa Lajolo, constitui um exemplar do ‘gênero de texto declaração pessoal’, o que justifica:
Alternativas
Ano: 2018 Banca: Cepros Órgão: CESMAC Prova: Cepros - 2018 - CESMAC - Vestibular Medicina - Dia 1 |
Q1797173 Português
Como e por que leio o romance brasileiro

     Leitora apaixonada, fã de carteirinha, me envolvo com os romances de que gosto: curto, torço, roo as unhas, leio de novo um pedaço que tenha me agradado de forma particular. Se não gosto, largo no meio ou até no começo. O autor tem vinte ou trinta páginas para me convencer de que seu livro vai fazer diferença. Pois acredito piamente que a leitura faz a diferença. Se não, adeus! O livro volta para a estante e vou cuidar de outra coisa...
      Ao terminar a leitura de um romance de que gosto, fico com vontade de dividi-lo com os amigos. Recomendar a leitura, emprestar, dar de presente. Mas, sobretudo, discutir. Nada melhor do que conversar sobre livros... eu acho uma coisa, meu amigo acha outra, a colega discorda de nós dois...
     Na discussão, pode tudo, só não pode não achar nada nem concordar com todo mundo. No fim do papo, cada um fica mais cada um, ouvindo os outros. Quem sabe o livro tem mais de um sentido? Como foi mesmo aquele lance? E aquele personagem... vilão ou herói?
       Na minha geração e nas minhas relações, é assim que se lê romance.
    A leitura de romance, no entanto, não é só esta leitura envolvida e vertiginosa. Junto com o suspense, ao lado do mergulho na história, transcorre o tempo de decantação. Enredo, linguagem e personagens depositam-se no leitor. Passam a fazer parte da vida de quem lê. Vêm à tona meio sem aviso, aos pedaços, evocados não se sabe bem por quais articulações...
    Vida e literatura enredam-se em bons e em maus momentos, e os romances que leio passam a fazer parte da minha vida, me expressam em várias situações.

Marisa Lajolo. Como e por que ler o romance brasileiro. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004, p. 13-14.
Na crônica vista acima, Marisa Lajolo revela que adota uma concepção de leitura:
Alternativas
Respostas
6: B
7: C
8: B
9: D
10: B