Questões de Concurso Sobre sintaxe em português
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Texto 04:
Falam tanto sobre a vida de casado. De como ela acaba com o amor, de como se tornam distantes os que vivem ao alcance das mãos. Afirmam que é destino da intimidade abrir passagem para a indelicadeza, que a disponibilidade afasta o desejo e a convivência mina o afeto, como se essas fossem leis imutáveis. São fartos os exemplos dos que vivem juntos apenas se tolerando, dos que se destroem com o empenho com que se beijavam. Que falem os mal-amados sobre suas profecias amargas, que sinalizem os abismos, as curvas, as areias movediças — nada comoverá. Não há quem convença um apaixonado com a dor alheia. Nem a própria dor pode salvá–lo. Cite todos os casos, reúna os parentes infelizes no amor, pregue nas paredes as páginas policiais escritas com sangue e paixão, nada demoverá os que foram fisgados.
(Trecho de “Tudo é Rio”. Autora Carla Madeira).
Leia o texto a seguir:
Visita médica
Num evento em São Paulo, onde fui fazer uma fala, fiz um novo amigo: o dr. Milton de Arruda Martins, professor da USP. Ele é um desses professores raros, que vive para ensinar aos seus alunos, além da competência técnica, a ética e os sentimentos humanos que devem fazer parte do caráter de um médico. Tem tentado reformular a educação médica, inclusive a visita hospitalar, aquela em que o professor e seus alunos passam pelos doentes para estudar os seus casos. Fizeram uma classificação das visitas em três tipos. No primeiro tipo de visita, o professor e os alunos passam pelo enfermo, observam-no e o apalpam, sem nada dizer. Vão discutir o caso num outro lugar. O paciente fica mergulhado no mistério. No segundo tipo, professor e alunos discutem o caso na presença do doente, como se ele não estivesse presente, usando todas as palavras científicas que só os iniciados entendem. Como o doente não sabe o que elas significam, ele fica pensando que vai morrer. No terceiro tipo, o professor e os alunos conversam com o paciente e o chamam pelo nome. “O que é que o senhor acha que tem?” Todo doente tem ideias sobre a sua doença e formas de explicá-la. “O que é que o senhor espera de nós?” As respostas dos doentes são surpreendentes. Lembro-me de um filme em que a visita do segundo tipo estava acontecendo. Os alunos faziam todo tipo de perguntas ao professor. Mas ninguém se dirigia ao doente. Foi então que um dos estudantes, o Robin Williams, levantou a mão e perguntou: “Qual é o nome do paciente?”. Ninguém sabia.
Fonte: Alves, Rubem. Ostra feliz não faz pérola. São Paulo: Editora Planeta do Brasil,
2008, p. 99.