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Q1681321 Português

O que existe ou não existe numa língua?

(Marcos Bagno)


Quando se trata de falar sobre a língua, o verbo existir pode ter dois sentidos muito diferentes. A pessoa que se guia pelo purismo linguístico (uma espécie de racismo gramatical, nada menos), quando topa, por exemplo, com uma construção do tipo “pra mim fazer”, exclama categoricamente: “‘Pra mim fazer’ não existe em português!”. Não importa que a imensa maioria da população brasileira use essa construção: o fato de não estar prevista na (limitadíssima e paupérrima) norma-padrão convencional é suficiente para decretar sua inexistência. Me divirto muito com isso. Se a coisa “não existe”, para que então afirmar essa não-existência? Tá lá no Freud, e se chama denegação. Se o Antigo Testamento precisou condenar a homossexualidade é porque ela existia, sim, alegre e saltitante, na sociedade hebraica daquela época. Afinal, ninguém precisa dizer que não existem elefantes na Amazônia: se fôssemos listar todas as espécies animais que não existem lá, estaríamos fazendo um trabalho inútil e, convenhamos, ridículo.

Por outro lado, quando uma linguista diz que determinada categoria gramatical (ou qualquer outro elemento) não existe numa língua, ela está enunciando aquilo que a pesquisa acumulada a respeito do fenômeno permite concluir. Não se trata de listar todas as categorias gramaticais que não existem numa língua, mas de procurar entender, num quadro mais amplo de comparação, sobretudo entre línguas aparentadas, porque aquela categoria específica, se algum dia existiu, desapareceu devido aos processos de mudança linguística. Além disso, quando a linguista diz que X não existe, ela está se referindo à língua falada espontânea, ao discurso menos monitorado possível, porque é nessa modalidade de uso que se pode realmente detectar com certeza a gramática internalizada das pessoas que falam, bem como os processos de mudança em andamento. E é precisamente disso que quero tratar aqui hoje: da inexistência, no PB (português brasileiro), de pronomes oblíquos de 3ª pessoa. Já se assustou? Não precisa.

As formas oblíquas de 3ª p. — o, a, os, as — não pertencem à gramática do PB (gramática entendida aqui como o conhecimento intuitivo que cada uma de nós tem da língua que fala). Essas formas só podem ser adquiridas por meio do acesso à cultura letrada, da instrução formal, do ensino consciente da língua. A esse ensino consciente podemos contrapor a aquisição inconsciente da língua, que é o misterioso processo pelo qual aprendemos a falar nossa língua materna (ou línguas no plural, no caso das pessoas sortudas que nascem e crescem em ambientes multilíngues).

Quem nos revela melhor do que ninguém a (in)existência de categorias gramaticais numa língua são as crianças, especialmente as que ainda não tiveram acesso à educação formal. Uma menina de mais ou menos 7 anos já é dotada de um conhecimento fabuloso de sua língua. Se formos coletar a fala espontânea de crianças brasileiras dessa idade, seja de que classe social for, não vamos encontrar absolutamente nenhuma ocorrência de o/a/os/as como pronomes oblíquos. Se, por outro lado, formos coletar a fala de crianças dessa idade que tenham como língua materna português europeu, galego, espanhol, catalão, provençal, francês e italiano (para ficar só nessas línguas do grupo românico), vamos encontrar uma farta ocorrência dos pronomes oblíquos de 3ª p. dessas línguas. A réplica daquela velha parlenda brasileira “— Cadê o docinho que tava aqui? — O gato comeu” seria traduzida em todas essas línguas pelo equivalente a “o gato o comeu”. Se as crianças brasileiras não produzem o/a/os/as é porque não adquiriram esses pronomes no ambiente familiar, e se não adquiriram é porque seus pais, tios, avós etc. não usam esses pronomes. Simples assim.

(Disponível em: https://bit.ly/372nb5v. Acesso em nov. 2020)

Leia o texto 'O que existe ou não existe numa língua?' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:


I. Uma forma de oferecer maior objetividade ao texto, modificando as formas verbais, sem alterar a função discursiva do trecho “Não importa que a imensa maioria da população brasileira use essa construção...”, seria reescrevê-lo da seguinte maneira: “Não importa a imensa população brasileira usar essa construção...”. O mesmo fenômeno pode ocorrer em enunciados como I. Joana quer que você faça aquela deliciosa torta; II. Joana quer fazer aquela deliciosa torta.

II. No trecho “Se a coisa ‘não existe’, para que então afirmar essa não-existência?”, o uso de pronome apassivador confere objetividade ao texto, pois evita-se a voz passiva analítica da forma verbal. Já o pronome demostrativo exerce papel importante na retomada das ideias, corroborando com a progressão sequencial.

III. No fragmento “se fôssemos listar todas as espécies animais que não existem lá, estaríamos fazendo um trabalho inútil e, convenhamos, ridículo”, o uso da primeira pessoa do plural, com destaque para o isolamento da forma verbal “convenhamos”, por vírgulas, convida o leitor a compartilhar do mesmo ponto de vista do autor. Fenômeno idêntico se dá com algumas expressões, gramaticalmente bem localizadas, como a do enunciado a seguir: “O aumento acentuado da pobreza pode levar o Brasil novamente para o Mapa da Fome. Isso é a meu ver, um grave retrocesso”.


Marque a alternativa CORRETA:

Alternativas
Q1681320 Português

O que existe ou não existe numa língua?

(Marcos Bagno)


Quando se trata de falar sobre a língua, o verbo existir pode ter dois sentidos muito diferentes. A pessoa que se guia pelo purismo linguístico (uma espécie de racismo gramatical, nada menos), quando topa, por exemplo, com uma construção do tipo “pra mim fazer”, exclama categoricamente: “‘Pra mim fazer’ não existe em português!”. Não importa que a imensa maioria da população brasileira use essa construção: o fato de não estar prevista na (limitadíssima e paupérrima) norma-padrão convencional é suficiente para decretar sua inexistência. Me divirto muito com isso. Se a coisa “não existe”, para que então afirmar essa não-existência? Tá lá no Freud, e se chama denegação. Se o Antigo Testamento precisou condenar a homossexualidade é porque ela existia, sim, alegre e saltitante, na sociedade hebraica daquela época. Afinal, ninguém precisa dizer que não existem elefantes na Amazônia: se fôssemos listar todas as espécies animais que não existem lá, estaríamos fazendo um trabalho inútil e, convenhamos, ridículo.

Por outro lado, quando uma linguista diz que determinada categoria gramatical (ou qualquer outro elemento) não existe numa língua, ela está enunciando aquilo que a pesquisa acumulada a respeito do fenômeno permite concluir. Não se trata de listar todas as categorias gramaticais que não existem numa língua, mas de procurar entender, num quadro mais amplo de comparação, sobretudo entre línguas aparentadas, porque aquela categoria específica, se algum dia existiu, desapareceu devido aos processos de mudança linguística. Além disso, quando a linguista diz que X não existe, ela está se referindo à língua falada espontânea, ao discurso menos monitorado possível, porque é nessa modalidade de uso que se pode realmente detectar com certeza a gramática internalizada das pessoas que falam, bem como os processos de mudança em andamento. E é precisamente disso que quero tratar aqui hoje: da inexistência, no PB (português brasileiro), de pronomes oblíquos de 3ª pessoa. Já se assustou? Não precisa.

As formas oblíquas de 3ª p. — o, a, os, as — não pertencem à gramática do PB (gramática entendida aqui como o conhecimento intuitivo que cada uma de nós tem da língua que fala). Essas formas só podem ser adquiridas por meio do acesso à cultura letrada, da instrução formal, do ensino consciente da língua. A esse ensino consciente podemos contrapor a aquisição inconsciente da língua, que é o misterioso processo pelo qual aprendemos a falar nossa língua materna (ou línguas no plural, no caso das pessoas sortudas que nascem e crescem em ambientes multilíngues).

Quem nos revela melhor do que ninguém a (in)existência de categorias gramaticais numa língua são as crianças, especialmente as que ainda não tiveram acesso à educação formal. Uma menina de mais ou menos 7 anos já é dotada de um conhecimento fabuloso de sua língua. Se formos coletar a fala espontânea de crianças brasileiras dessa idade, seja de que classe social for, não vamos encontrar absolutamente nenhuma ocorrência de o/a/os/as como pronomes oblíquos. Se, por outro lado, formos coletar a fala de crianças dessa idade que tenham como língua materna português europeu, galego, espanhol, catalão, provençal, francês e italiano (para ficar só nessas línguas do grupo românico), vamos encontrar uma farta ocorrência dos pronomes oblíquos de 3ª p. dessas línguas. A réplica daquela velha parlenda brasileira “— Cadê o docinho que tava aqui? — O gato comeu” seria traduzida em todas essas línguas pelo equivalente a “o gato o comeu”. Se as crianças brasileiras não produzem o/a/os/as é porque não adquiriram esses pronomes no ambiente familiar, e se não adquiriram é porque seus pais, tios, avós etc. não usam esses pronomes. Simples assim.

(Disponível em: https://bit.ly/372nb5v. Acesso em nov. 2020)

Leia o texto 'O que existe ou não existe numa língua?' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:


I. A apreciação inicial do autor é verdadeira, pois a “normapadrão” considera erro o emprego do pronome oblíquo associado ao infinitivo em enunciados como “A atividade é para mim fazer”. Nesse caso, o pronome “mim” deveria ser substituído por um do caso reto (eu).

II. No trecho “Quem nos revela melhor do que ninguém a (in)existência de categorias gramaticais numa língua”, o uso do prefixo entre parênteses sugere uma alternância na construção do enunciado. A mesma função e sentido o prefixo -in possui nos seguintes exemplos: “ele induziu a testemunha”; “foi infiel a sua esposa”.

III. Ao afirmar que “as formas oblíquas de 3ª p. — o, a, os, as — não pertencem à gramática do PB (gramática entendida aqui como o conhecimento intuitivo que cada uma de nós tem da língua que fala)", o autor sugere que construções como “Quem as elogiou pelo lindo trabalho?” ou “Fi-lo perder tempo” são mais “adquiridas” por meio do acesso à cultura escolar letrada.


Marque a alternativa CORRETA:

Alternativas
Q1681311 Psicologia

Vygotsky e os conceitos de pensamento e fala

Por V. SOUZA e P. ANDRADA (adaptado).


“O pensamento é uma nuvem, da qual a fala se desprende em gotas” (Vygotsky, 1925). Por meio desta afirmação poética, Vygotsky traz à tona a relação que pretendemos abordar aqui: a fala como expressão do psiquismo. 

O autor salienta que não há como estudar o pensamento e a fala a não ser pelo método dialético, que confere um caráter histórico às questões ligadas ao comportamento humano. Ele afirma que a questão do pensamento e da fala supera os limites das ciências naturais e se transforma em um fato histórico-social (Vygotsky, 1934). Segundo ele, é pela aquisição da fala que nos relacionamos socialmente e, ao mesmo tempo, interferimos na construção do meio. O que o sujeito pensa, interpreta e expressa é o que ele apreende de seu entorno, mas também, dialeticamente, é pela fala que este mesmo sujeito pode interagir e transformar o mundo (Vygotsky, 1931). 

Considera, o autor, que a fala, inicialmente, exerce a função de comunicação entre a criança e o meio e, nesse processo, vai construindo as condições para que se transforme em fala interna, quando exercerá a função de organizar o pensamento. A fala interna se desenvolve mediante as trocas estruturais e funcionais derivadas da fala social (Vygotsky 1934). Por volta dos dois anos de idade, as curvas do desenvolvimento da fala e do pensamento se encontram, em um processo exclusivamente humano. O autor aponta que neste momento em que ocorre o estabelecimento de um nexo entre estas duas funções (fala e pensamento) há um grande salto no desenvolvimento do sujeito. 

A partir deste salto advindo do desenvolvimento da fala, a criança pode explorar a relação entre signo e significado. A palavra, que era inicialmente para a criança uma propriedade externa do objeto, passa a ter um significado simbólico, que o autor denomina de função simbólica da fala. Essa conquista abre portas para a criança se apropriar de uma gama maior de experiências circundantes em sua realidade.

A palavra é o signo que conceitua e, ao mesmo tempo, representa o objeto, dando-lhe sentido como um predicado do pensamento. À medida que a fala fica mais complexa, o pensamento também se torna mais desenvolvido. Cada estágio do desenvolvimento do significado das palavras representa também um novo estágio de desenvolvimento na relação entre pensamento e fala (Vygotsky, 1934). 

Por estes processos descritos por Vygotsky é que o sujeito, cada vez mais, pode ampliar suas trocas com o mundo e, assim, expandir as representações do meio ao seu redor, formar novos conceitos e desenvolver a consciência de si e da realidade. Daí a compreensão de que o sujeito é produto e produtor de sua história, constituição possível, justamente, por seu caráter histórico-social. 

(Estudos de Psicologia. Campinas. 30(3). 355-365. julho - setembro 2013. Fonte: https://bit.ly/2J3VWiH). 

Leia o texto 'Vygotsky e os conceitos de pensamento e fala' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:


I. Segundo Vygotsky, é pela aquisição da fala que nos relacionamos socialmente e, ao mesmo tempo, interferimos na construção do meio, como se pode concluir a partir da análise das informações do texto.

II. O texto leva o leitor a concluir que Vygotsky considera que a fala, inicialmente, exerce a função de comunicação entre a criança e o meio e, nesse processo, vai construindo as condições para que se transforme em fala interna, quando exercerá a função de organizar o pensamento.

III. Para Vygotsky, a palavra é o signo que conceitua e, ao mesmo tempo, representa o objeto, dando-lhe sentido literal como um predicado do pensamento, ao mesmo tempo em que impede o intercâmbio de ideias e sentimentos entre os indivíduos, como se pode perceber a partir da análise dos dados e informações do texto.


Marque a alternativa CORRETA:

Alternativas
Q1681310 Psicologia

Vygotsky e os conceitos de pensamento e fala

Por V. SOUZA e P. ANDRADA (adaptado).


“O pensamento é uma nuvem, da qual a fala se desprende em gotas” (Vygotsky, 1925). Por meio desta afirmação poética, Vygotsky traz à tona a relação que pretendemos abordar aqui: a fala como expressão do psiquismo. 

O autor salienta que não há como estudar o pensamento e a fala a não ser pelo método dialético, que confere um caráter histórico às questões ligadas ao comportamento humano. Ele afirma que a questão do pensamento e da fala supera os limites das ciências naturais e se transforma em um fato histórico-social (Vygotsky, 1934). Segundo ele, é pela aquisição da fala que nos relacionamos socialmente e, ao mesmo tempo, interferimos na construção do meio. O que o sujeito pensa, interpreta e expressa é o que ele apreende de seu entorno, mas também, dialeticamente, é pela fala que este mesmo sujeito pode interagir e transformar o mundo (Vygotsky, 1931). 

Considera, o autor, que a fala, inicialmente, exerce a função de comunicação entre a criança e o meio e, nesse processo, vai construindo as condições para que se transforme em fala interna, quando exercerá a função de organizar o pensamento. A fala interna se desenvolve mediante as trocas estruturais e funcionais derivadas da fala social (Vygotsky 1934). Por volta dos dois anos de idade, as curvas do desenvolvimento da fala e do pensamento se encontram, em um processo exclusivamente humano. O autor aponta que neste momento em que ocorre o estabelecimento de um nexo entre estas duas funções (fala e pensamento) há um grande salto no desenvolvimento do sujeito. 

A partir deste salto advindo do desenvolvimento da fala, a criança pode explorar a relação entre signo e significado. A palavra, que era inicialmente para a criança uma propriedade externa do objeto, passa a ter um significado simbólico, que o autor denomina de função simbólica da fala. Essa conquista abre portas para a criança se apropriar de uma gama maior de experiências circundantes em sua realidade.

A palavra é o signo que conceitua e, ao mesmo tempo, representa o objeto, dando-lhe sentido como um predicado do pensamento. À medida que a fala fica mais complexa, o pensamento também se torna mais desenvolvido. Cada estágio do desenvolvimento do significado das palavras representa também um novo estágio de desenvolvimento na relação entre pensamento e fala (Vygotsky, 1934). 

Por estes processos descritos por Vygotsky é que o sujeito, cada vez mais, pode ampliar suas trocas com o mundo e, assim, expandir as representações do meio ao seu redor, formar novos conceitos e desenvolver a consciência de si e da realidade. Daí a compreensão de que o sujeito é produto e produtor de sua história, constituição possível, justamente, por seu caráter histórico-social. 

(Estudos de Psicologia. Campinas. 30(3). 355-365. julho - setembro 2013. Fonte: https://bit.ly/2J3VWiH). 

Leia o texto 'Vygotsky e os conceitos de pensamento e fala' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:


I. O texto apresenta ao leitor a ideia de que é por meio dos processos descritos por Vygotsky que o sujeito, cada vez mais, pode ampliar suas trocas com o mundo e, assim, expandir as representações do meio ao seu redor, formar novos conceitos e desenvolver a consciência de si e da realidade.

II. A conquista das habilidades psicomotoras finas, como andar e correr, abre portas para a criança se apropriar de uma gama maior de experiências circundantes em sua realidade, pois viabiliza a comunicação com outros indivíduos, como se pode concluir a partir da leitura cuidadosa das informações do texto.

III. Uma das ideias presentes no texto é a de que o que o sujeito pensa, interpreta e expressa é o que ele apreende de seu entorno, mas também, dialeticamente, é pela fala que este mesmo sujeito pode interagir e transformar o mundo.


Marque a alternativa CORRETA:

Alternativas
Q1681309 Psicologia

Vygotsky e os conceitos de pensamento e fala

Por V. SOUZA e P. ANDRADA (adaptado).


“O pensamento é uma nuvem, da qual a fala se desprende em gotas” (Vygotsky, 1925). Por meio desta afirmação poética, Vygotsky traz à tona a relação que pretendemos abordar aqui: a fala como expressão do psiquismo. 

O autor salienta que não há como estudar o pensamento e a fala a não ser pelo método dialético, que confere um caráter histórico às questões ligadas ao comportamento humano. Ele afirma que a questão do pensamento e da fala supera os limites das ciências naturais e se transforma em um fato histórico-social (Vygotsky, 1934). Segundo ele, é pela aquisição da fala que nos relacionamos socialmente e, ao mesmo tempo, interferimos na construção do meio. O que o sujeito pensa, interpreta e expressa é o que ele apreende de seu entorno, mas também, dialeticamente, é pela fala que este mesmo sujeito pode interagir e transformar o mundo (Vygotsky, 1931). 

Considera, o autor, que a fala, inicialmente, exerce a função de comunicação entre a criança e o meio e, nesse processo, vai construindo as condições para que se transforme em fala interna, quando exercerá a função de organizar o pensamento. A fala interna se desenvolve mediante as trocas estruturais e funcionais derivadas da fala social (Vygotsky 1934). Por volta dos dois anos de idade, as curvas do desenvolvimento da fala e do pensamento se encontram, em um processo exclusivamente humano. O autor aponta que neste momento em que ocorre o estabelecimento de um nexo entre estas duas funções (fala e pensamento) há um grande salto no desenvolvimento do sujeito. 

A partir deste salto advindo do desenvolvimento da fala, a criança pode explorar a relação entre signo e significado. A palavra, que era inicialmente para a criança uma propriedade externa do objeto, passa a ter um significado simbólico, que o autor denomina de função simbólica da fala. Essa conquista abre portas para a criança se apropriar de uma gama maior de experiências circundantes em sua realidade.

A palavra é o signo que conceitua e, ao mesmo tempo, representa o objeto, dando-lhe sentido como um predicado do pensamento. À medida que a fala fica mais complexa, o pensamento também se torna mais desenvolvido. Cada estágio do desenvolvimento do significado das palavras representa também um novo estágio de desenvolvimento na relação entre pensamento e fala (Vygotsky, 1934). 

Por estes processos descritos por Vygotsky é que o sujeito, cada vez mais, pode ampliar suas trocas com o mundo e, assim, expandir as representações do meio ao seu redor, formar novos conceitos e desenvolver a consciência de si e da realidade. Daí a compreensão de que o sujeito é produto e produtor de sua história, constituição possível, justamente, por seu caráter histórico-social. 

(Estudos de Psicologia. Campinas. 30(3). 355-365. julho - setembro 2013. Fonte: https://bit.ly/2J3VWiH). 

Leia o texto 'Vygotsky e os conceitos de pensamento e fala' e, em seguida, analise as afirmativas abaixo:


I. O Vygotsky aponta que, quando ocorre o estabelecimento de um nexo entre a fala e o pensamento, há um grande salto no desenvolvimento do sujeito, conforme se pode inferir a partir dos dados do texto.

II. O texto apresenta ao leitor a ideia de que o sujeito é o produto e o produtor de sua história, sendo essa uma constituição possível, justamente por seu caráter históricosocial.

III. As informações presentes no texto permitem inferir que, na perspectiva de Vygotsky, o pensamento é uma nuvem, da qual a fala se desprende em gotas.


Marque a alternativa CORRETA:

Alternativas
Respostas
1: A
2: C
3: C
4: C
5: D