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O obscurantismo do século 21
Movimentos antivacinas, negação das mudanças no clima, terraplanistas. Tais retrocessos vêm da confusão entre o que é opinião e o que é fato.
Por Salvador Nogueira
O obscurantismo do século 21 é um fenômeno global. Para alguns arautos da irracionalidade, aliás, a palavra “global” nem faz sentido. É o caso dos terraplanistas, que seguem colecionando adeptos. Em outubro de 2018, um grupo de “pesquisadores” terraplanistas foi recebido por deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, onde ganharam uma homenagem por seus “estudos” sobre a forma do nosso planeta.
O terraplanismo é folclórico. Rende risadas. Mas o fato de sandices como essa ganharem popularidade não tem a menor graça. Por duas razões. Primeiro porque trata-se de um sintoma de que parte significativa da população viva hoje desconhece fatos objetivos sobre o mundo – como a Lei da Gravitação, que os terraplanistas dizem ser uma farsa. Segundo, porque estamos descobrindo que quase ninguém sabe distinguir fatos de opiniões – você simplesmente não pode ter uma “opinião” sobre o formato da Terra ou sobre a existência da gravidade. Isso pertence ao reino dos fatos. O pior, de qualquer forma, é que isso definitivamente não se aplica só a conceitos como o formato da Terra.
Uma pesquisa do Pew Research Center, feita em 2018, entrevistou 5.035 americanos adultos selecionados aleatoriamente pela internet. Tudo que eles tinham de fazer era ler dez frases simples e apontar se eram afirmações factuais ou opiniões.
Apenas 26% foram capazes de apontar corretamente as cinco factuais e só 35% conseguiram identificar corretamente as cinco que eram opinativas.
Resumindo a ópera, três em cada quatro americanos não sabem separar fato de opinião. Poucos acreditariam que no Brasil a situação seja muito melhor. E isso explica muita coisa. Ou você nunca ouviu alguém dizer por aí, pelas redes sociais, quando encurralado pelos fatos, que “essa é a minha opinião”, como forma de encerrar um debate?
A partir do momento em que as pessoas se sentem à vontade para desconectar suas opiniões dos fatos objetivos, temos um problema grave. A Terra plana é entretenimento, mas e o movimento antivacinas? A Europa viu um aumento de 400% no número de casos de sarampo em um ano – de 5.273 em 2016 para 21.315 em 2017.
E mesmo quando defensores do movimento antivacinas são confrontados com esses números, e com a explicação clara de como vacinas funcionam e de como simplesmente não há evidência de que elas possam causar os males que se atribuem a elas, ainda assim eles podem se esconder por trás de teorias conspiratórias sobre a “malévola indústria farmacêutica”. E, claro, quando não houver outro recurso, parte-se para um “mas essa é a minha opinião”. Eita.
Ao longo do progresso fantástico realizado pela humanidade durante o século 20, fomos nos esquecendo do que era a vida antes que a ciência entrasse para valer no nosso cotidiano. Sem vacinas e antibióticos, a mortalidade infantil era altíssima. Durante o século 19, ela era de 30%; a cada três crianças nascidas, uma morria antes de completar cinco anos. Na Alemanha chegava a 50%.
Então a ciência entrou em cena, com três contribuições essenciais: a percepção de que saneamento básico era essencial para evitar infecções, o desenvolvimento dos antibióticos e a criação das vacinas. O ser humano passou milhares de anos tentando proteger sua prole com rezas, chás e superstições de todo tipo, mas o que deu certo foi entender como as doenças funcionam e combatê-las com armas eficazes.
Ao longo do século 20, pela primeira vez na história, vimos um declínio acentuado na mortalidade infantil. Em 2015, ela era, em termos globais, de 4,3%. Ou seja, a cada cem crianças, apenas quatro morriam antes de completar 5 anos. E isso numa média tirada do mundo inteiro. No Brasil, no mesmo ano, era só de 1,7%. Na Suécia, dado de 2014, 0,3%.
Outro tema adorado pela turma do “mas essa é a minha opinião” é a mudança climática. Pouco importa que a Nasa e quem mais for apresente fartas evidências do aquecimento global. Pouco importa que os registros de temperaturas, feitos com termômetros (pouco afeitos a ideologias), apontem que a temperatura média do planeta já subiu 0,9°C entre 1880 e 2017. Pouco importa que 17 dos 18 anos mais quentes nos 138 anos de registros tenham acontecido depois de 2001, ou que 2016 tenha sido o ano mais quente de todos os registros. O sujeito espera a primeira brisa gelada soprar para dizer “cadê o aquecimento global?”. É dramático, e se trata de um problema que está ganhando proporções cada vez maiores. Não é mais o seu primo doido no WhatsApp. É o Ministro das Relações Exteriores que atribui às medições feitas pela Agência Espacial dos Estados Unidos o status de “complô ambientalista globalista esquerdista sei-lá-mais-o-que-ista”.
O SUS gasta US$ 17 bi por ano com homeopatia, aromaterapia, bioenergética, florais – práticas com zero evidência de eficácia
Da mesma forma, vemos o descalabro nas políticas de saúde. Basta lembrar a quantidade de dinheiro que o SUS (Sistema Único de Saúde) gasta em “práticas alternativas”, também conhecidas como “tratamentos sem qualquer evidência de eficácia”. É homeopatia, acupuntura, aromaterapia, bioenergética, cromoterapia, florais; tudo pago com dinheiro público. Em 2017, foram R$ 17,2 bilhões nisso.
É o tal negócio: o sujeito pode acreditar no que quiser. É direito dele. Mas ninguém pode aplicar crenças pessoais no âmbito da gestão pública. E estamos chegando num ponto em que agentes públicos se sentem à vontade para ditar políticas de acordo com premissas completamente desconectadas da realidade objetiva. Tudo não passaria de um escândalo embaraçoso, não fosse um detalhe: essas atitudes nunca tiveram tanto apoio popular.
Como é possível? Hoje, qualquer um de nós tem mais informação disponível nas mãos, com um celular e uma conexão 4G, do que tinha o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca nos anos 1960. É um disparate imaginar que, diante do tamanho poderio tecnológico de que dispomos, estejamos ficando, na média, cada vez mais desinformados e ignorantes. No entanto, é verdade.
E só vamos desarmar essa arapuca se encontrarmos uma base comum de fatos objetivos com os quais todo mundo possa concordar. Essa base só pode ser uma: a ciência. E não porque ela seja moralmente ou ideologicamente superior. Mas porque ela se aceita como falível. Porque está fundamentada na dúvida, não na certeza. E a certeza inabalável, imune aos fatos, é o caminho mais curto para o retrocesso
(Adaptado de: NOGUEIRA, Salvador. Superinteressante, 3 jan.
2019. Disponível em:< https://super.abril.com.br/opiniao/o-obscurantismo-do-seculo-21/>. Acesso em: 23 fev. 2019.)
Com base no estudo apresentado por Savioli & Fiorin (2006, p. 60), “há procedimentos linguísticos que servem para demonstrar diferentes vozes no texto”. Segundo os autores, há alguns recursos que podem auxiliar na identificação dessas vozes. A respeito desses procedimentos, considere os seguintes itens:
I. Discurso indireto livre
II. Verossimilhança
III. Discurso direto
IV. Discurso indireto
V. Coesão e coerência
VI. Imitação por subversão e imitação por captação
VII. Intencionalidade e aceitabilidade
Com base nos itens apresentados, assinale a alternativa que apresenta os recursos que ilustram as ideias dos autores:
O obscurantismo do século 21
Movimentos antivacinas, negação das mudanças no clima, terraplanistas. Tais retrocessos vêm da confusão entre o que é opinião e o que é fato.
Por Salvador Nogueira
O obscurantismo do século 21 é um fenômeno global. Para alguns arautos da irracionalidade, aliás, a palavra “global” nem faz sentido. É o caso dos terraplanistas, que seguem colecionando adeptos. Em outubro de 2018, um grupo de “pesquisadores” terraplanistas foi recebido por deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, onde ganharam uma homenagem por seus “estudos” sobre a forma do nosso planeta.
O terraplanismo é folclórico. Rende risadas. Mas o fato de sandices como essa ganharem popularidade não tem a menor graça. Por duas razões. Primeiro porque trata-se de um sintoma de que parte significativa da população viva hoje desconhece fatos objetivos sobre o mundo – como a Lei da Gravitação, que os terraplanistas dizem ser uma farsa. Segundo, porque estamos descobrindo que quase ninguém sabe distinguir fatos de opiniões – você simplesmente não pode ter uma “opinião” sobre o formato da Terra ou sobre a existência da gravidade. Isso pertence ao reino dos fatos. O pior, de qualquer forma, é que isso definitivamente não se aplica só a conceitos como o formato da Terra.
Uma pesquisa do Pew Research Center, feita em 2018, entrevistou 5.035 americanos adultos selecionados aleatoriamente pela internet. Tudo que eles tinham de fazer era ler dez frases simples e apontar se eram afirmações factuais ou opiniões.
Apenas 26% foram capazes de apontar corretamente as cinco factuais e só 35% conseguiram identificar corretamente as cinco que eram opinativas.
Resumindo a ópera, três em cada quatro americanos não sabem separar fato de opinião. Poucos acreditariam que no Brasil a situação seja muito melhor. E isso explica muita coisa. Ou você nunca ouviu alguém dizer por aí, pelas redes sociais, quando encurralado pelos fatos, que “essa é a minha opinião”, como forma de encerrar um debate?
A partir do momento em que as pessoas se sentem à vontade para desconectar suas opiniões dos fatos objetivos, temos um problema grave. A Terra plana é entretenimento, mas e o movimento antivacinas? A Europa viu um aumento de 400% no número de casos de sarampo em um ano – de 5.273 em 2016 para 21.315 em 2017.
E mesmo quando defensores do movimento antivacinas são confrontados com esses números, e com a explicação clara de como vacinas funcionam e de como simplesmente não há evidência de que elas possam causar os males que se atribuem a elas, ainda assim eles podem se esconder por trás de teorias conspiratórias sobre a “malévola indústria farmacêutica”. E, claro, quando não houver outro recurso, parte-se para um “mas essa é a minha opinião”. Eita.
Ao longo do progresso fantástico realizado pela humanidade durante o século 20, fomos nos esquecendo do que era a vida antes que a ciência entrasse para valer no nosso cotidiano. Sem vacinas e antibióticos, a mortalidade infantil era altíssima. Durante o século 19, ela era de 30%; a cada três crianças nascidas, uma morria antes de completar cinco anos. Na Alemanha chegava a 50%.
Então a ciência entrou em cena, com três contribuições essenciais: a percepção de que saneamento básico era essencial para evitar infecções, o desenvolvimento dos antibióticos e a criação das vacinas. O ser humano passou milhares de anos tentando proteger sua prole com rezas, chás e superstições de todo tipo, mas o que deu certo foi entender como as doenças funcionam e combatê-las com armas eficazes.
Ao longo do século 20, pela primeira vez na história, vimos um declínio acentuado na mortalidade infantil. Em 2015, ela era, em termos globais, de 4,3%. Ou seja, a cada cem crianças, apenas quatro morriam antes de completar 5 anos. E isso numa média tirada do mundo inteiro. No Brasil, no mesmo ano, era só de 1,7%. Na Suécia, dado de 2014, 0,3%.
Outro tema adorado pela turma do “mas essa é a minha opinião” é a mudança climática. Pouco importa que a Nasa e quem mais for apresente fartas evidências do aquecimento global. Pouco importa que os registros de temperaturas, feitos com termômetros (pouco afeitos a ideologias), apontem que a temperatura média do planeta já subiu 0,9°C entre 1880 e 2017. Pouco importa que 17 dos 18 anos mais quentes nos 138 anos de registros tenham acontecido depois de 2001, ou que 2016 tenha sido o ano mais quente de todos os registros. O sujeito espera a primeira brisa gelada soprar para dizer “cadê o aquecimento global?”. É dramático, e se trata de um problema que está ganhando proporções cada vez maiores. Não é mais o seu primo doido no WhatsApp. É o Ministro das Relações Exteriores que atribui às medições feitas pela Agência Espacial dos Estados Unidos o status de “complô ambientalista globalista esquerdista sei-lá-mais-o-que-ista”.
O SUS gasta US$ 17 bi por ano com homeopatia, aromaterapia, bioenergética, florais – práticas com zero evidência de eficácia
Da mesma forma, vemos o descalabro nas políticas de saúde. Basta lembrar a quantidade de dinheiro que o SUS (Sistema Único de Saúde) gasta em “práticas alternativas”, também conhecidas como “tratamentos sem qualquer evidência de eficácia”. É homeopatia, acupuntura, aromaterapia, bioenergética, cromoterapia, florais; tudo pago com dinheiro público. Em 2017, foram R$ 17,2 bilhões nisso.
É o tal negócio: o sujeito pode acreditar no que quiser. É direito dele. Mas ninguém pode aplicar crenças pessoais no âmbito da gestão pública. E estamos chegando num ponto em que agentes públicos se sentem à vontade para ditar políticas de acordo com premissas completamente desconectadas da realidade objetiva. Tudo não passaria de um escândalo embaraçoso, não fosse um detalhe: essas atitudes nunca tiveram tanto apoio popular.
Como é possível? Hoje, qualquer um de nós tem mais informação disponível nas mãos, com um celular e uma conexão 4G, do que tinha o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca nos anos 1960. É um disparate imaginar que, diante do tamanho poderio tecnológico de que dispomos, estejamos ficando, na média, cada vez mais desinformados e ignorantes. No entanto, é verdade.
E só vamos desarmar essa arapuca se encontrarmos uma base comum de fatos objetivos com os quais todo mundo possa concordar. Essa base só pode ser uma: a ciência. E não porque ela seja moralmente ou ideologicamente superior. Mas porque ela se aceita como falível. Porque está fundamentada na dúvida, não na certeza. E a certeza inabalável, imune aos fatos, é o caminho mais curto para o retrocesso
(Adaptado de: NOGUEIRA, Salvador. Superinteressante, 3 jan.
2019. Disponível em:< https://super.abril.com.br/opiniao/o-obscurantismo-do-seculo-21/>. Acesso em: 23 fev. 2019.)
O obscurantismo do século 21
Movimentos antivacinas, negação das mudanças no clima, terraplanistas. Tais retrocessos vêm da confusão entre o que é opinião e o que é fato.
Por Salvador Nogueira
O obscurantismo do século 21 é um fenômeno global. Para alguns arautos da irracionalidade, aliás, a palavra “global” nem faz sentido. É o caso dos terraplanistas, que seguem colecionando adeptos. Em outubro de 2018, um grupo de “pesquisadores” terraplanistas foi recebido por deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, onde ganharam uma homenagem por seus “estudos” sobre a forma do nosso planeta.
O terraplanismo é folclórico. Rende risadas. Mas o fato de sandices como essa ganharem popularidade não tem a menor graça. Por duas razões. Primeiro porque trata-se de um sintoma de que parte significativa da população viva hoje desconhece fatos objetivos sobre o mundo – como a Lei da Gravitação, que os terraplanistas dizem ser uma farsa. Segundo, porque estamos descobrindo que quase ninguém sabe distinguir fatos de opiniões – você simplesmente não pode ter uma “opinião” sobre o formato da Terra ou sobre a existência da gravidade. Isso pertence ao reino dos fatos. O pior, de qualquer forma, é que isso definitivamente não se aplica só a conceitos como o formato da Terra.
Uma pesquisa do Pew Research Center, feita em 2018, entrevistou 5.035 americanos adultos selecionados aleatoriamente pela internet. Tudo que eles tinham de fazer era ler dez frases simples e apontar se eram afirmações factuais ou opiniões.
Apenas 26% foram capazes de apontar corretamente as cinco factuais e só 35% conseguiram identificar corretamente as cinco que eram opinativas.
Resumindo a ópera, três em cada quatro americanos não sabem separar fato de opinião. Poucos acreditariam que no Brasil a situação seja muito melhor. E isso explica muita coisa. Ou você nunca ouviu alguém dizer por aí, pelas redes sociais, quando encurralado pelos fatos, que “essa é a minha opinião”, como forma de encerrar um debate?
A partir do momento em que as pessoas se sentem à vontade para desconectar suas opiniões dos fatos objetivos, temos um problema grave. A Terra plana é entretenimento, mas e o movimento antivacinas? A Europa viu um aumento de 400% no número de casos de sarampo em um ano – de 5.273 em 2016 para 21.315 em 2017.
E mesmo quando defensores do movimento antivacinas são confrontados com esses números, e com a explicação clara de como vacinas funcionam e de como simplesmente não há evidência de que elas possam causar os males que se atribuem a elas, ainda assim eles podem se esconder por trás de teorias conspiratórias sobre a “malévola indústria farmacêutica”. E, claro, quando não houver outro recurso, parte-se para um “mas essa é a minha opinião”. Eita.
Ao longo do progresso fantástico realizado pela humanidade durante o século 20, fomos nos esquecendo do que era a vida antes que a ciência entrasse para valer no nosso cotidiano. Sem vacinas e antibióticos, a mortalidade infantil era altíssima. Durante o século 19, ela era de 30%; a cada três crianças nascidas, uma morria antes de completar cinco anos. Na Alemanha chegava a 50%.
Então a ciência entrou em cena, com três contribuições essenciais: a percepção de que saneamento básico era essencial para evitar infecções, o desenvolvimento dos antibióticos e a criação das vacinas. O ser humano passou milhares de anos tentando proteger sua prole com rezas, chás e superstições de todo tipo, mas o que deu certo foi entender como as doenças funcionam e combatê-las com armas eficazes.
Ao longo do século 20, pela primeira vez na história, vimos um declínio acentuado na mortalidade infantil. Em 2015, ela era, em termos globais, de 4,3%. Ou seja, a cada cem crianças, apenas quatro morriam antes de completar 5 anos. E isso numa média tirada do mundo inteiro. No Brasil, no mesmo ano, era só de 1,7%. Na Suécia, dado de 2014, 0,3%.
Outro tema adorado pela turma do “mas essa é a minha opinião” é a mudança climática. Pouco importa que a Nasa e quem mais for apresente fartas evidências do aquecimento global. Pouco importa que os registros de temperaturas, feitos com termômetros (pouco afeitos a ideologias), apontem que a temperatura média do planeta já subiu 0,9°C entre 1880 e 2017. Pouco importa que 17 dos 18 anos mais quentes nos 138 anos de registros tenham acontecido depois de 2001, ou que 2016 tenha sido o ano mais quente de todos os registros. O sujeito espera a primeira brisa gelada soprar para dizer “cadê o aquecimento global?”. É dramático, e se trata de um problema que está ganhando proporções cada vez maiores. Não é mais o seu primo doido no WhatsApp. É o Ministro das Relações Exteriores que atribui às medições feitas pela Agência Espacial dos Estados Unidos o status de “complô ambientalista globalista esquerdista sei-lá-mais-o-que-ista”.
O SUS gasta US$ 17 bi por ano com homeopatia, aromaterapia, bioenergética, florais – práticas com zero evidência de eficácia
Da mesma forma, vemos o descalabro nas políticas de saúde. Basta lembrar a quantidade de dinheiro que o SUS (Sistema Único de Saúde) gasta em “práticas alternativas”, também conhecidas como “tratamentos sem qualquer evidência de eficácia”. É homeopatia, acupuntura, aromaterapia, bioenergética, cromoterapia, florais; tudo pago com dinheiro público. Em 2017, foram R$ 17,2 bilhões nisso.
É o tal negócio: o sujeito pode acreditar no que quiser. É direito dele. Mas ninguém pode aplicar crenças pessoais no âmbito da gestão pública. E estamos chegando num ponto em que agentes públicos se sentem à vontade para ditar políticas de acordo com premissas completamente desconectadas da realidade objetiva. Tudo não passaria de um escândalo embaraçoso, não fosse um detalhe: essas atitudes nunca tiveram tanto apoio popular.
Como é possível? Hoje, qualquer um de nós tem mais informação disponível nas mãos, com um celular e uma conexão 4G, do que tinha o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca nos anos 1960. É um disparate imaginar que, diante do tamanho poderio tecnológico de que dispomos, estejamos ficando, na média, cada vez mais desinformados e ignorantes. No entanto, é verdade.
E só vamos desarmar essa arapuca se encontrarmos uma base comum de fatos objetivos com os quais todo mundo possa concordar. Essa base só pode ser uma: a ciência. E não porque ela seja moralmente ou ideologicamente superior. Mas porque ela se aceita como falível. Porque está fundamentada na dúvida, não na certeza. E a certeza inabalável, imune aos fatos, é o caminho mais curto para o retrocesso
(Adaptado de: NOGUEIRA, Salvador. Superinteressante, 3 jan.
2019. Disponível em:< https://super.abril.com.br/opiniao/o-obscurantismo-do-seculo-21/>. Acesso em: 23 fev. 2019.)
O obscurantismo do século 21
Movimentos antivacinas, negação das mudanças no clima, terraplanistas. Tais retrocessos vêm da confusão entre o que é opinião e o que é fato.
Por Salvador Nogueira
O obscurantismo do século 21 é um fenômeno global. Para alguns arautos da irracionalidade, aliás, a palavra “global” nem faz sentido. É o caso dos terraplanistas, que seguem colecionando adeptos. Em outubro de 2018, um grupo de “pesquisadores” terraplanistas foi recebido por deputados estaduais na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, onde ganharam uma homenagem por seus “estudos” sobre a forma do nosso planeta.
O terraplanismo é folclórico. Rende risadas. Mas o fato de sandices como essa ganharem popularidade não tem a menor graça. Por duas razões. Primeiro porque trata-se de um sintoma de que parte significativa da população viva hoje desconhece fatos objetivos sobre o mundo – como a Lei da Gravitação, que os terraplanistas dizem ser uma farsa. Segundo, porque estamos descobrindo que quase ninguém sabe distinguir fatos de opiniões – você simplesmente não pode ter uma “opinião” sobre o formato da Terra ou sobre a existência da gravidade. Isso pertence ao reino dos fatos. O pior, de qualquer forma, é que isso definitivamente não se aplica só a conceitos como o formato da Terra.
Uma pesquisa do Pew Research Center, feita em 2018, entrevistou 5.035 americanos adultos selecionados aleatoriamente pela internet. Tudo que eles tinham de fazer era ler dez frases simples e apontar se eram afirmações factuais ou opiniões.
Apenas 26% foram capazes de apontar corretamente as cinco factuais e só 35% conseguiram identificar corretamente as cinco que eram opinativas.
Resumindo a ópera, três em cada quatro americanos não sabem separar fato de opinião. Poucos acreditariam que no Brasil a situação seja muito melhor. E isso explica muita coisa. Ou você nunca ouviu alguém dizer por aí, pelas redes sociais, quando encurralado pelos fatos, que “essa é a minha opinião”, como forma de encerrar um debate?
A partir do momento em que as pessoas se sentem à vontade para desconectar suas opiniões dos fatos objetivos, temos um problema grave. A Terra plana é entretenimento, mas e o movimento antivacinas? A Europa viu um aumento de 400% no número de casos de sarampo em um ano – de 5.273 em 2016 para 21.315 em 2017.
E mesmo quando defensores do movimento antivacinas são confrontados com esses números, e com a explicação clara de como vacinas funcionam e de como simplesmente não há evidência de que elas possam causar os males que se atribuem a elas, ainda assim eles podem se esconder por trás de teorias conspiratórias sobre a “malévola indústria farmacêutica”. E, claro, quando não houver outro recurso, parte-se para um “mas essa é a minha opinião”. Eita.
Ao longo do progresso fantástico realizado pela humanidade durante o século 20, fomos nos esquecendo do que era a vida antes que a ciência entrasse para valer no nosso cotidiano. Sem vacinas e antibióticos, a mortalidade infantil era altíssima. Durante o século 19, ela era de 30%; a cada três crianças nascidas, uma morria antes de completar cinco anos. Na Alemanha chegava a 50%.
Então a ciência entrou em cena, com três contribuições essenciais: a percepção de que saneamento básico era essencial para evitar infecções, o desenvolvimento dos antibióticos e a criação das vacinas. O ser humano passou milhares de anos tentando proteger sua prole com rezas, chás e superstições de todo tipo, mas o que deu certo foi entender como as doenças funcionam e combatê-las com armas eficazes.
Ao longo do século 20, pela primeira vez na história, vimos um declínio acentuado na mortalidade infantil. Em 2015, ela era, em termos globais, de 4,3%. Ou seja, a cada cem crianças, apenas quatro morriam antes de completar 5 anos. E isso numa média tirada do mundo inteiro. No Brasil, no mesmo ano, era só de 1,7%. Na Suécia, dado de 2014, 0,3%.
Outro tema adorado pela turma do “mas essa é a minha opinião” é a mudança climática. Pouco importa que a Nasa e quem mais for apresente fartas evidências do aquecimento global. Pouco importa que os registros de temperaturas, feitos com termômetros (pouco afeitos a ideologias), apontem que a temperatura média do planeta já subiu 0,9°C entre 1880 e 2017. Pouco importa que 17 dos 18 anos mais quentes nos 138 anos de registros tenham acontecido depois de 2001, ou que 2016 tenha sido o ano mais quente de todos os registros. O sujeito espera a primeira brisa gelada soprar para dizer “cadê o aquecimento global?”. É dramático, e se trata de um problema que está ganhando proporções cada vez maiores. Não é mais o seu primo doido no WhatsApp. É o Ministro das Relações Exteriores que atribui às medições feitas pela Agência Espacial dos Estados Unidos o status de “complô ambientalista globalista esquerdista sei-lá-mais-o-que-ista”.
O SUS gasta US$ 17 bi por ano com homeopatia, aromaterapia, bioenergética, florais – práticas com zero evidência de eficácia
Da mesma forma, vemos o descalabro nas políticas de saúde. Basta lembrar a quantidade de dinheiro que o SUS (Sistema Único de Saúde) gasta em “práticas alternativas”, também conhecidas como “tratamentos sem qualquer evidência de eficácia”. É homeopatia, acupuntura, aromaterapia, bioenergética, cromoterapia, florais; tudo pago com dinheiro público. Em 2017, foram R$ 17,2 bilhões nisso.
É o tal negócio: o sujeito pode acreditar no que quiser. É direito dele. Mas ninguém pode aplicar crenças pessoais no âmbito da gestão pública. E estamos chegando num ponto em que agentes públicos se sentem à vontade para ditar políticas de acordo com premissas completamente desconectadas da realidade objetiva. Tudo não passaria de um escândalo embaraçoso, não fosse um detalhe: essas atitudes nunca tiveram tanto apoio popular.
Como é possível? Hoje, qualquer um de nós tem mais informação disponível nas mãos, com um celular e uma conexão 4G, do que tinha o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca nos anos 1960. É um disparate imaginar que, diante do tamanho poderio tecnológico de que dispomos, estejamos ficando, na média, cada vez mais desinformados e ignorantes. No entanto, é verdade.
E só vamos desarmar essa arapuca se encontrarmos uma base comum de fatos objetivos com os quais todo mundo possa concordar. Essa base só pode ser uma: a ciência. E não porque ela seja moralmente ou ideologicamente superior. Mas porque ela se aceita como falível. Porque está fundamentada na dúvida, não na certeza. E a certeza inabalável, imune aos fatos, é o caminho mais curto para o retrocesso
(Adaptado de: NOGUEIRA, Salvador. Superinteressante, 3 jan.
2019. Disponível em:< https://super.abril.com.br/opiniao/o-obscurantismo-do-seculo-21/>. Acesso em: 23 fev. 2019.)
Sobre materiais, equipamentos e procedimentos de um laboratório, analise as seguintes afirmações:
I. Para a pesagem de uma amostra na balança analítica, deve-se colocar os reagentes diretamente no prato da balança, evitando a utilização de qualquer recipiente, visando a obter maior precisão.
II. Todo objeto deve ser pesado a 10°C, pois o frio auxilia na exatidão da operação.
III. A balança de dois pratos foi o tipo mais popular durante séculos, sendo substituída pela balança mecânica de prato único e, mais recentemente, pela balança eletrônica.
IV. Existem erros na pesagem que são de origem instrumental, tais como: erro devido à eletricidade estática, efeitos atmosféricos e efeito do empuxo do ar.
Diante dessas afirmações, marque a alternativa CORRETA:
Durante todo o ciclo do cultivo do milho, é comum se deparar com o ataque de vários insetos. Sobre o controle de pragas na cultura do milho, analise as seguintes afirmações e julgue-as como Verdadeiras (V) ou Falsas (F):
( ) No manejo integrado, em vez de uma única técnica, a ênfase é colocada no uso de uma combinação de métodos com o objetivo de fornecer um controle econômico e mais duradouro, com mínimo efeito adverso causado ao meio ambiente.
( ) O percevejo-castanho (Scaptocoris castanea) na fase adulta tem de 7 a 9 mm de comprimento e de 4 a 5 mm de maior largura. As plantas atacadas têm as suas raízes sugadas por ninfas e adultos, tornando-se raquíticas; o desenvolvimento reduzido e a posterior morte da planta podem ser confundidos com deficiência nutricional, mas que é facilmente diferenciada quando as plantas são arrancadas do solo, pois exalam um odor típico, oriundo das glândulas odoríferas do inseto.
( ) A larva-alfinete (Diabrotica speciosa) alimenta-se da região da raiz, podendo atingir o meristema apical, matando as plantas recém-germinadas.
( ) Os surtos de pragas podem ser amenizados através do uso de inseticidas, irrigação, adubação ou cultivares que possuam resistência aos insetos.
A sequência CORRETA das afirmações é a que se
apresenta em:
A classificação, beneficiamento e armazenamento de grãos são importantes etapas pós-colheita. Sobre o processo de beneficiamento e armazenamento da cultura da soja, analise as seguintes afirmações e julgue-as como Verdadeiras (V) ou Falsas (F):
( ) No beneficiamento da soja, os grãos devem ser submetidos ao processo de secagem até que a umidade chegue em torno de 7-8%.
( ) Um dos benefícios da secagem artificial da soja é a possibilidade de colhê-la mais cedo, a fim de minimizar os efeitos prejudiciais das condições climáticas adversas e ataques de fungos e insetos.
( ) O processo de secagem envolve a retirada parcial de água das sementes, pela transferência simultânea de calor do ar para as sementes, e de água, por meio de fluxo de vapor, das sementes para o ar.
( ) A secagem artificial estacionária consiste, basicamente, no insuflamento de ar aquecido no meio de um volume de sementes que permanece estático.
( ) Na secagem artificial intermitente, as sementes são submetidas à ação do ar aquecido na câmara de secagem durante intervalos regulares de tempo, permitindo a homogeneização da umidade e resfriamento quando as sementes estão passando pelas partes do sistema onde não recebem ar aquecido.
Assinale a alternativa que corresponde à sequência das afirmações anteriores.
O conhecimento sobre os aspectos físicos do solo é importante nas tomadas de decisão sobre o seu manejo. Sobre o fator físico “densidade do solo”, analise as seguintes afirmações como Verdadeiras (V) ou Falsas (F):
( ) A densidade do solo está intimamente relacionada com a estrutura e a textura do solo.
( ) Em geral, quanto maior é a densidade, mais compacto é o solo, menos definida é a sua estrutura e menor é seu volume do espaço poroso.
( ) O aumento da densidade do solo aumenta a taxa de difusão do O2 nos poros do solo e, consequentemente, a respiração das raízes.
( ) A densidade dos solos, nas condições naturais, situa-se desde 0,2 a 0,5 kg dm-3 (solos turfosos) até 1,6 kg dm-3 (solos arenosos).
Assinale a alternativa que corresponde à sequência CORRETA das afirmações anteriores.
A cultura da soja é atacada por várias doenças durante seu ciclo de cultivo, dentre elas a ferrugem asiática. Sobre a ferrugem asiática na cultura da soja, analise as seguintes afirmações e julgue-as como Verdadeiras (V) ou Falsas (F).
( ) O nome científico do agente causal da ferrugem da soja é Hemileia vastatrix.
( ) Os primeiros sintomas da ferrugem asiática na soja são caracterizados por minúsculos pontos (no máximo 1 mm de diâmetro) mais escuros do que o tecido sadio da folha, de uma coloração esverdeada e cinza-esverdeada, com correspondente protuberância (urédio) na parte inferior da folha.
( ) O processo de infecção depende da disponibilidade de água livre na superfície da folha.
( ) Em função de sua fácil disseminação pelo vento, a ferrugem asiática pode ser encontrada em praticamente todas regiões produtoras do Brasil, com reduções significativas na produtividade.
Assinale a alternativa que corresponde à sequência CORRETA das afirmações anteriores: