Coceira crônica, distúrbio dermatológico que afeta
uma em cada cinco pessoas
A coceira crônica é associada a distúrbios
dermatológicos como eczemas, urticária e psoríase, mas
também a outras condições médicas, incluindo doença
renal crônica, insuficiência renal e linfoma. Em alguns
casos, a coceira crônica dura anos e a sensação é
enlouquecedora.
No livro A Divina Comédia, de Dante Alighieri
(1265-1321), os pecadores condenados ao oitavo círculo
do inferno - os fraudadores - sofriam "a fúria ardente da
feroz coceira que nada consegue aliviar".
Muitas pessoas que sofrem de psoríase talvez se
identifiquem com a descrição do inferno de Dante. A
coceira decorrente dessa condição já foi comparada com
um ataque de formigas-de-fogo.
Pacientes com doenças hepáticas chegaram a ser
submetidos a transplantes por não conseguirem lidar
com a sensação de coceira. E alguns pacientes com
câncer param de tomar medicações que salvariam suas
vidas por não suportarem a coceira que esses remédios
lhes causam.
"Estudos demonstraram que a coceira crônica é tão debilitante quanto as dores crônicas, mas, na verdade,
eu defendo que é ainda pior", afirma o médico e
neuroimunologista Brian Kim, da Escola de Medicina em
Mount Sinai de Nova York.
"Com a dor crônica, você tem uma sensação de dor
monótona, uma espécie de dor nível seis de dez que
simplesmente não desaparece", explica ele. "Mas você
consegue dormir."
A coceira crônica é diferente porque ela não deixa você
descansar. As pessoas afetadas se coçam a noite toda.
Deste ponto de vista, ela é consideravelmente mais
debilitadora.
Até recentemente, os cientistas não compreendiam, na
verdade, o que causa a coceira crônica, mesmo com sua
alta incidência. Já as causas da coceira aguda são
relativamente bem conhecidas.
Se você for picado por um mosquito ou encostar em hera
venenosa, as células imunológicas da pele liberam
histamina e outras substâncias, que se ligam a pequenos
receptores na superfície dos nervos sensoriais.
Essas substâncias ativam os receptores, que enviam um
sinal de coceira para a medula espinhal e para o
cérebro.
A coceira aguda é irritante, mas é tratada com
anti-histamínicos ou esteroides de uso tópico. Mas os
anti-histamínicos não apresentam efeito sobre a coceira
crônica.
O resultado é que houve poucos avanços no tratamento
da coceira nos últimos anos, desde que ela foi definida
pela medicina pela primeira vez.
Um motivo é que os cientistas acreditavam que a coceira
seria apenas uma forma suave de dor. Este conceito
errôneo pode ser visto em um estudo do início dos anos
1920.
O fisiologista austríaco-alemão Max von Frey
(1852-1932) arranhou levemente a pele dos participantes
de um estudo de laboratório com objetos pontiagudos
chamados espículas. Ele concluiu que a sensação inicial
de dor era seguida por outra sensação posterior de
coceira.
Em 2007, cientistas liderados por Zhou-Feng da
Universidade Washington, identificaram um receptor
dedicado à coceira em um subconjunto de neurônios na
medula espinhal. Seu estudo concluiu que camundongos
que não tinham esse receptor eram incapazes de sentir
coceira. Não importa o quanto se fizesse cócegas ou se
causasse irritação neles, eles não se coçavam. Mas os
animais sentiam dores normalmente.
Em outras palavras, os cientistas descobriram um
conjunto de neurônios na medula espinhal que
transmitem especificamente a sensação de coceira para
o cérebro.
https://www.bbc.com/portuguese/articles/c9822p5jz05o.adaptado.