Na minha vila, a única vila do mundo, as
mulheres sonhavam com vestidos novos para
saírem. Para serem abraçadas pela felicidade. A
mim, quando me deram a saia de rodar, eu me
tranquei em casa. Mais que fechada, me apurei
invisível, eternamente nocturna. Nasci para
cozinha, pano e pranto. Ensinaram-me tanta
vergonha em sentir prazer, que acabei sentindo
prazer em ter vergonha. Belezas eram para as
.mulheres de fora. Elas desencobriam as pernas
para maravilhações.[...] Estava tão habituada a
não ter motivo, que me enrolei no velho sofá.
Olhei a janela e esperei que, como uma doença
que passa, a noite passasse. No dia seguinte, as
outras chegariam e me falariam do baile, das
lembranças cheias de riso matreiro. E nem inveja
sentiria. Mais que o dia seguinte, eu espera pela
vida seguinte.
A escrita de Mia Couto tem base em histórias de
vida com um discurso ideológico e social. Em
suas narrativas estão inseridos os costumes
moçambicanos, a cultura e outras noções.
Considere a leitura do fragmento de "A saia
almarrotada" e assinale a alternativa correta em
relação à condição feminina, no excerto.
Em relação à linguagem empregada por
Mia Couto, no fragmento de "A saia
almarrotada", pode-se afirmar que: