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Sobre português para facet concursos
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Releia o texto, marque V para Verdadeiro e F para Falso e, em seguida, indique a sequência CORRETA:
( ) As revistas em quadrinho são nocivas ao processo ensino-aprendizagem, notadamente no que diz respeito à abordagem dos fundamentos de leitura e produção textual, e, por isso, afastam irreversivelmente os alunos do contato com os textos.
( ) A televisão, que foi considerada vilã dos estudos durante certo tempo de sua operação em nosso país, acabou contribuindo para o processo civilizatório brasileiro.
( ) A produção artística de Walt Disney ficou contaminada pela fama de seu criador de ser um ícone do imperialismo capitalista e, por isso, conquistou desafetos no mundo inteiro.
( ) Os enredos, os estereótipos e os perfis dos personagens do universo ficcional de Walt Disney geraram restrições para o emprego de sua arte, no processo ensino-aprendizagem de leitura e produção de texto, nas escolas.
Leia o texto abaixo e, em seguida, responda:
CARTAS, BLOGUES, E-MAILS
(Cristovão Tezza)
Entre as muitas consequências do advento da internet, prolifera uma curiosa fusão das linguagens, ou talvez, melhor dizendo, a criação de novas funções e novos gêneros da linguagem. O primeiro deles já é quase arqueológico de tão popular: o e-mail. Ainda bem que não sou saudosista – se eu vivesse chorando o passado, diria que o e-mail enterrou para todo o sempre o gênero de escrita que em boa medida me ensinou a escrever: a carta.
A carta é uma forma literária clássica, cuja composição é em si uma lenta divisão do tempo – ela era escrita para ser entregue pelo menos dois ou três dias mais tarde. A carta pressupunha um tempo lento, cadenciado; escrever uma carta era também fazer uma síntese e um retrospecto de uma semana, de um mês, de acontecimentos demorados que, linha a linha, o escriba organizava na cabeça. Uma carta punha ordem e perspectiva no mundo; os fatos se organizavam em bloco e eram explicados em parágrafos. Não lembro de nenhum momento em que senti necessidade de escrever rsrsrs para indicar que eu estava rindo naquele momento; no máximo, um discreto ponto de exclamação. Quem escreve cartas é sempre um “narrador”, alguém a distância, e não uma pessoa ao vivo.
No entanto, a carta também era uma conversa. O amigo ou a namorada ou o tio ou o pai abriam o envelope (outro ritual – sempre evitar rasgar o selo; havia um objeto chamado “corta-papel”, hoje peça de museu), sentavam numa cadeira, e ficavam sabendo com um grau razoável de ordem da vida do outro. Às vezes tinham vida longa, passavam de mão em mão pela família e amigos, Veja como o Toninho está bem! – e às vezes, secretas, eram imediatamente trancadas na gaveta para uma releitura solitária, suspirante e saudosa. Carta não tinha vírus nem pegadinhas; se por acaso chegassem fotos obscenas ou sugestões de invasão de privacidade, era bem possível que o envelope fosse parar na polícia – ou nos filmes policiais, em que cartas anônimas sempre brilharam como personagens poderosas. Sim, cartas eram conversas, mas sóbrias, com a noção de hierarquia e de espaço sempre organizados: Curitiba, 7 de novembro de 1956. Querida Maria: - seguiam-se as notícias. As cartas também foram uma marca histórica da vida individual, da afirmação pessoal; e, transformadas em literatura, muitas vezes se revelaram um retrato ético da sua época. Um exemplo maravilhoso é o romance epistolar As relações perigosas, do francês Choderlos de Laclos (1741-1803), que, ao deixar entrever a dissipação moral da nobreza da França, ajudou a fermentar o caldo em que pouco depois explodiria a Revolução Francesa.
Mas eu me entusiasmei tanto para relembrar a carta que não deixei espaço aos e-mails e blogues, gêneros de um novo tempo, que funcionam, e bem, com outra lógica. Fica para a próxima carta – digo, crônica.
[22/09/2009]
TEZZA, Cristovão. Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.
Leia o texto abaixo e, em seguida, responda:
CARTAS, BLOGUES, E-MAILS
(Cristovão Tezza)
Entre as muitas consequências do advento da internet, prolifera uma curiosa fusão das linguagens, ou talvez, melhor dizendo, a criação de novas funções e novos gêneros da linguagem. O primeiro deles já é quase arqueológico de tão popular: o e-mail. Ainda bem que não sou saudosista – se eu vivesse chorando o passado, diria que o e-mail enterrou para todo o sempre o gênero de escrita que em boa medida me ensinou a escrever: a carta.
A carta é uma forma literária clássica, cuja composição é em si uma lenta divisão do tempo – ela era escrita para ser entregue pelo menos dois ou três dias mais tarde. A carta pressupunha um tempo lento, cadenciado; escrever uma carta era também fazer uma síntese e um retrospecto de uma semana, de um mês, de acontecimentos demorados que, linha a linha, o escriba organizava na cabeça. Uma carta punha ordem e perspectiva no mundo; os fatos se organizavam em bloco e eram explicados em parágrafos. Não lembro de nenhum momento em que senti necessidade de escrever rsrsrs para indicar que eu estava rindo naquele momento; no máximo, um discreto ponto de exclamação. Quem escreve cartas é sempre um “narrador”, alguém a distância, e não uma pessoa ao vivo.
No entanto, a carta também era uma conversa. O amigo ou a namorada ou o tio ou o pai abriam o envelope (outro ritual – sempre evitar rasgar o selo; havia um objeto chamado “corta-papel”, hoje peça de museu), sentavam numa cadeira, e ficavam sabendo com um grau razoável de ordem da vida do outro. Às vezes tinham vida longa, passavam de mão em mão pela família e amigos, Veja como o Toninho está bem! – e às vezes, secretas, eram imediatamente trancadas na gaveta para uma releitura solitária, suspirante e saudosa. Carta não tinha vírus nem pegadinhas; se por acaso chegassem fotos obscenas ou sugestões de invasão de privacidade, era bem possível que o envelope fosse parar na polícia – ou nos filmes policiais, em que cartas anônimas sempre brilharam como personagens poderosas. Sim, cartas eram conversas, mas sóbrias, com a noção de hierarquia e de espaço sempre organizados: Curitiba, 7 de novembro de 1956. Querida Maria: - seguiam-se as notícias. As cartas também foram uma marca histórica da vida individual, da afirmação pessoal; e, transformadas em literatura, muitas vezes se revelaram um retrato ético da sua época. Um exemplo maravilhoso é o romance epistolar As relações perigosas, do francês Choderlos de Laclos (1741-1803), que, ao deixar entrever a dissipação moral da nobreza da França, ajudou a fermentar o caldo em que pouco depois explodiria a Revolução Francesa.
Mas eu me entusiasmei tanto para relembrar a carta que não deixei espaço aos e-mails e blogues, gêneros de um novo tempo, que funcionam, e bem, com outra lógica. Fica para a próxima carta – digo, crônica.
[22/09/2009]
TEZZA, Cristovão. Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.
Leia o texto abaixo e, em seguida, responda:
CARTAS, BLOGUES, E-MAILS
(Cristovão Tezza)
Entre as muitas consequências do advento da internet, prolifera uma curiosa fusão das linguagens, ou talvez, melhor dizendo, a criação de novas funções e novos gêneros da linguagem. O primeiro deles já é quase arqueológico de tão popular: o e-mail. Ainda bem que não sou saudosista – se eu vivesse chorando o passado, diria que o e-mail enterrou para todo o sempre o gênero de escrita que em boa medida me ensinou a escrever: a carta.
A carta é uma forma literária clássica, cuja composição é em si uma lenta divisão do tempo – ela era escrita para ser entregue pelo menos dois ou três dias mais tarde. A carta pressupunha um tempo lento, cadenciado; escrever uma carta era também fazer uma síntese e um retrospecto de uma semana, de um mês, de acontecimentos demorados que, linha a linha, o escriba organizava na cabeça. Uma carta punha ordem e perspectiva no mundo; os fatos se organizavam em bloco e eram explicados em parágrafos. Não lembro de nenhum momento em que senti necessidade de escrever rsrsrs para indicar que eu estava rindo naquele momento; no máximo, um discreto ponto de exclamação. Quem escreve cartas é sempre um “narrador”, alguém a distância, e não uma pessoa ao vivo.
No entanto, a carta também era uma conversa. O amigo ou a namorada ou o tio ou o pai abriam o envelope (outro ritual – sempre evitar rasgar o selo; havia um objeto chamado “corta-papel”, hoje peça de museu), sentavam numa cadeira, e ficavam sabendo com um grau razoável de ordem da vida do outro. Às vezes tinham vida longa, passavam de mão em mão pela família e amigos, Veja como o Toninho está bem! – e às vezes, secretas, eram imediatamente trancadas na gaveta para uma releitura solitária, suspirante e saudosa. Carta não tinha vírus nem pegadinhas; se por acaso chegassem fotos obscenas ou sugestões de invasão de privacidade, era bem possível que o envelope fosse parar na polícia – ou nos filmes policiais, em que cartas anônimas sempre brilharam como personagens poderosas. Sim, cartas eram conversas, mas sóbrias, com a noção de hierarquia e de espaço sempre organizados: Curitiba, 7 de novembro de 1956. Querida Maria: - seguiam-se as notícias. As cartas também foram uma marca histórica da vida individual, da afirmação pessoal; e, transformadas em literatura, muitas vezes se revelaram um retrato ético da sua época. Um exemplo maravilhoso é o romance epistolar As relações perigosas, do francês Choderlos de Laclos (1741-1803), que, ao deixar entrever a dissipação moral da nobreza da França, ajudou a fermentar o caldo em que pouco depois explodiria a Revolução Francesa.
Mas eu me entusiasmei tanto para relembrar a carta que não deixei espaço aos e-mails e blogues, gêneros de um novo tempo, que funcionam, e bem, com outra lógica. Fica para a próxima carta – digo, crônica.
[22/09/2009]
TEZZA, Cristovão. Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.
As alternativas a seguir contêm afirmações relativas a esse meio de comunicação antigo, de acordo com o texto, porém uma delas NÃO ESTÁ CORRETA. Marque-a:
Leia o texto abaixo e, em seguida, responda:
Bichectomia, homoeomorfo e ninfoplastia
(Ruy Castro*)
Nas últimas semanas, comecei a estranhar a incidência de palavras como sofrência, refrescância e picância no vocabulário das pessoas. Referiam-se respectivamente a sofrimento, refresco e picante. Não que estivessem erradas. Afinal, se temos ardência, ignorância e superabundância, por que não, como no mundo do futebol, valência, volância e centroavância, referindo-se aos valores (qualidades) de um jogador e às posições de volante e centroavante?
O fato é que palavras antes nunca usadas estão entrando no nosso dia a dia como se não pudéssemos mais passar sem elas. Quem terá sido o primeiro a falar esta ou aquela? Como ela se propagou? Ninguém estranhou ao ouvi-la? Ou fez de conta que sabia do que se tratava? Eis algumas:
Animicidade, aristopopulismo, bichectomia, bioestilador, cleptocracia, conspiritualidade, criptoassalto, cromoterapia, despolarização, ecocídio, economocrata, fibroplastia, flavorizante, hipergamia, hipomania, homoemorfo, hotelificação, informata, jogoteca, labioplastia, ludopatia, mastopexia, mentoria, microagulhamento, microfocagem, nepobaby, ninfoplastia, normopata, opinódromo, oxidativo, pornotortura, probiótico, reflexologia, reformômetro, romantasia, sináptico, sologamia, subótimo, supramáximo, tiktokização, tocofobia, e turbidez.
Colhi todas essas palavras dos jornais dos últimos 30 dias, em textos que não se deram ao trabalho de defini-las. Note bem, todas são plausíveis, têm formação perfeita, e basta conhecer seus componentes para captar o seu significado, mas, que são esdrúxulas, são – e não me refiro a trocadilhos como jesuscidência, patriotário e neopentelhocostal, divertidos, mas, como todo trocadilho, infames.
Confesso que boiei em algumas palavras e, ao ir ao dicionário, me surpreendi. Aliás, é o que lhe acontecerá se você for buscar o significado de, digamos, bichectomia, homoeomorfo ou ninfoplastia. Mas quero ver se algum deles nos dirá do que se tratam aruspicatório, carboxiterapia, criolipólise, fotoblastia, incretinomimético, mastócito, melasmítico, microbiota, lipocavitação, orofacial, picossegundo, tecarterapia e tranexâmico.
* Jornalista e escritor, Ruy Castro é autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, e membro da Academia Brasileira de Letras Edição Digital do jornal Folha de São Paulo, de 22 de setembro de 2024.
Leia o texto abaixo e, em seguida, responda:
Bichectomia, homoeomorfo e ninfoplastia
(Ruy Castro*)
Nas últimas semanas, comecei a estranhar a incidência de palavras como sofrência, refrescância e picância no vocabulário das pessoas. Referiam-se respectivamente a sofrimento, refresco e picante. Não que estivessem erradas. Afinal, se temos ardência, ignorância e superabundância, por que não, como no mundo do futebol, valência, volância e centroavância, referindo-se aos valores (qualidades) de um jogador e às posições de volante e centroavante?
O fato é que palavras antes nunca usadas estão entrando no nosso dia a dia como se não pudéssemos mais passar sem elas. Quem terá sido o primeiro a falar esta ou aquela? Como ela se propagou? Ninguém estranhou ao ouvi-la? Ou fez de conta que sabia do que se tratava? Eis algumas:
Animicidade, aristopopulismo, bichectomia, bioestilador, cleptocracia, conspiritualidade, criptoassalto, cromoterapia, despolarização, ecocídio, economocrata, fibroplastia, flavorizante, hipergamia, hipomania, homoemorfo, hotelificação, informata, jogoteca, labioplastia, ludopatia, mastopexia, mentoria, microagulhamento, microfocagem, nepobaby, ninfoplastia, normopata, opinódromo, oxidativo, pornotortura, probiótico, reflexologia, reformômetro, romantasia, sináptico, sologamia, subótimo, supramáximo, tiktokização, tocofobia, e turbidez.
Colhi todas essas palavras dos jornais dos últimos 30 dias, em textos que não se deram ao trabalho de defini-las. Note bem, todas são plausíveis, têm formação perfeita, e basta conhecer seus componentes para captar o seu significado, mas, que são esdrúxulas, são – e não me refiro a trocadilhos como jesuscidência, patriotário e neopentelhocostal, divertidos, mas, como todo trocadilho, infames.
Confesso que boiei em algumas palavras e, ao ir ao dicionário, me surpreendi. Aliás, é o que lhe acontecerá se você for buscar o significado de, digamos, bichectomia, homoeomorfo ou ninfoplastia. Mas quero ver se algum deles nos dirá do que se tratam aruspicatório, carboxiterapia, criolipólise, fotoblastia, incretinomimético, mastócito, melasmítico, microbiota, lipocavitação, orofacial, picossegundo, tecarterapia e tranexâmico.
* Jornalista e escritor, Ruy Castro é autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, e membro da Academia Brasileira de Letras Edição Digital do jornal Folha de São Paulo, de 22 de setembro de 2024.
I. Podem ocorrer transformações na configuração de um idioma, ao longo do tempo, e uma delas pode incidir na renovação de seu repertório vocabular;
II. No que diz respeito à organização lexical de uma língua, os trocadilhos têm a mesma estrutura e composição dos neologismos; e
III. Os neologismos especificados no texto, ainda que sejam estranhos, apresentam plausibilidade na sua composição e significação.
Está(Estão) correta(s) a(s) seguinte(s) assertiva(s), de acordo com o texto:
Leia o texto abaixo e, em seguida, responda:
Bichectomia, homoeomorfo e ninfoplastia
(Ruy Castro*)
Nas últimas semanas, comecei a estranhar a incidência de palavras como sofrência, refrescância e picância no vocabulário das pessoas. Referiam-se respectivamente a sofrimento, refresco e picante. Não que estivessem erradas. Afinal, se temos ardência, ignorância e superabundância, por que não, como no mundo do futebol, valência, volância e centroavância, referindo-se aos valores (qualidades) de um jogador e às posições de volante e centroavante?
O fato é que palavras antes nunca usadas estão entrando no nosso dia a dia como se não pudéssemos mais passar sem elas. Quem terá sido o primeiro a falar esta ou aquela? Como ela se propagou? Ninguém estranhou ao ouvi-la? Ou fez de conta que sabia do que se tratava? Eis algumas:
Animicidade, aristopopulismo, bichectomia, bioestilador, cleptocracia, conspiritualidade, criptoassalto, cromoterapia, despolarização, ecocídio, economocrata, fibroplastia, flavorizante, hipergamia, hipomania, homoemorfo, hotelificação, informata, jogoteca, labioplastia, ludopatia, mastopexia, mentoria, microagulhamento, microfocagem, nepobaby, ninfoplastia, normopata, opinódromo, oxidativo, pornotortura, probiótico, reflexologia, reformômetro, romantasia, sináptico, sologamia, subótimo, supramáximo, tiktokização, tocofobia, e turbidez.
Colhi todas essas palavras dos jornais dos últimos 30 dias, em textos que não se deram ao trabalho de defini-las. Note bem, todas são plausíveis, têm formação perfeita, e basta conhecer seus componentes para captar o seu significado, mas, que são esdrúxulas, são – e não me refiro a trocadilhos como jesuscidência, patriotário e neopentelhocostal, divertidos, mas, como todo trocadilho, infames.
Confesso que boiei em algumas palavras e, ao ir ao dicionário, me surpreendi. Aliás, é o que lhe acontecerá se você for buscar o significado de, digamos, bichectomia, homoeomorfo ou ninfoplastia. Mas quero ver se algum deles nos dirá do que se tratam aruspicatório, carboxiterapia, criolipólise, fotoblastia, incretinomimético, mastócito, melasmítico, microbiota, lipocavitação, orofacial, picossegundo, tecarterapia e tranexâmico.
* Jornalista e escritor, Ruy Castro é autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues, e membro da Academia Brasileira de Letras Edição Digital do jornal Folha de São Paulo, de 22 de setembro de 2024.
( ) O personagem Décio não foge às contradições da condição humana, mergulha nelas e as enfrenta.
( ) Os dois homens bêbados, que se envolvem em incidentes distintos com Décio, são certamente a mesma pessoa.
( ) O contato com as contradições da condição humana causou implicações negativas para a formação poética e filosófica de Décio.
( ) A mãe de Décio o aconselhava, quando menino, a evitar a prática de atos de solidariedade que pudessem lhe causar prejuízos.
I. Se não tivesse ocorrido o incidente das saúvas, Décio não teria despertado para as contradições da condição humana.
II. A experiência com as saúvas diminuiu a solidariedade de Décio em relação às pessoas que precisassem de ajuda.
III. Antes de optar por deixar que as saúvas devastassem a planta, Décio se recusava a enxergar a dura realidade da vida.
Está(Estão) correta(s) a(s) seguintes(s) declaração(declarações):
Leia o texto adiante e, em seguida, responda:
As palavras e o tempo
(Cristovão Tezza)
Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.
A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.
Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.
20/09/2011
TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.
Leia o texto adiante e, em seguida, responda:
As palavras e o tempo
(Cristovão Tezza)
Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.
A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.
Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.
20/09/2011
TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.
Leia o texto adiante e, em seguida, responda:
As palavras e o tempo
(Cristovão Tezza)
Ao chegar criança em Curitiba, em 1961, meu primeiro choque foi linguístico: um vendedor de rua oferecia “dolé”. Para quem não sabe, era picolé. O nome “dolé” me soava tão estranho que só a custo parecia se encaixar naquele objeto que eu sempre conhecera como “picolé”. Os anos se passaram e os dolés sumiram. A última vez que os vi foi nas ruínas de uma parede no litoral, onde se podia ler em letras igualmente arruinadas pelo tempo: “Fábrica de dolés”. Com o tempo, as estranhezas linguísticas vão ganhando outro contorno, mas sempre com a marca que o tempo vai deixando nas formas da língua. Lembro que, pouco a pouco, comecei a ouvir pessoas dizendo “emprestei do Fulano”, quando para meus ouvidos o normal seria “peguei emprestado do Fulano”; ou então emprestamos a ele. “Emprestar” só poderia ser “para alguém”; o contrário seria “pedir emprestado”. Mas em poucos anos o estranho passou a ser “pedir emprestado”, e a nova forma foi para o Houaiss. Um linguista diria que se trata de uma passagem sutil de formas analíticas para formas sintéticas. Quando o telefone começou a se popularizar, também se popularizou a forma “telefonar na tua casa”; assim, “eu telefono na casa do João” não significa ir até a casa do João para usar o telefone dele, que no início parecia a única interpretação possível, mas sim telefonar para a casa dele. E, com a multiplicação do dinheiro de plástico, pagar a conta com o cartão de crédito se transformou subrepticiamente em pagar a conta no cartão de crédito, o que sempre me pareceu esdrúxulo. Bem, sem dinheiro para pagar à vista, a gramática não importa mesmo, e vamos pagando no cartão.
A língua não para, mas seus movimentos nunca são claramente visíveis, assim como jamais conseguimos ver a grama crescer – súbito parece que ela já foi trocada por outra. O advento da informática e dos computadores é um manancial sem fim de palavras e expressões novas, ou expressões velhas transmudadas em outras. Um dos fenômenos mais interessantes, e de rápida consolidação, foi também a criação de verbos para substituir expressões analíticas. “Priorizar” ou “disponibilizar”, que parecem tão comuns, com um jeito de que vieram lá do tempo de Camões, na verdade não terão mais de vinte anos – e também já estão no Houaiss. Na antiquíssima década de 1980, dizíamos “dar prioridade a” e “tornar possível”. Bem, as novas formas ainda têm uma aura tecnocrática. Em vez de “disponibilizar os sentimentos”, preferimos ainda “abrir o coração”. Mas outras novidades acertam na veia: “deletar” entrou definitivamente no dia a dia das pessoas. Já ouvi gente confessar “deletei ela da minha vida”.
Piorou a língua? De modo algum. A língua continua inculta e bela como sempre, como queria o poeta. Ela sempre adiante – nós é que envelhecemos, e, às vezes, pela fala, parecemos pergaminhos de um tempo que passou.
20/09/2011
TEZZA, Cristovão, Um operário em férias, organização e apresentação Christian Schwartz; ilustrações Benett. – Rio de Janeiro: Record, 2013.